Correio Braziliense
postado em 07/07/2020 04:24
Diante das expectativas econômicas do país para o segundo semestre, o setor automobilístico estima produção de 1,630 milhão de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus em 2020, um volume 45% inferior ao de 2019. Ante os 2,78 milhões de emplacamentos ocorridos no ano passado, a indústria prevê uma queda de 40% em 2020, com previsão de 1,67 milhão de licenciamentos. Com fortíssimo impacto da pandemia da covid-19 nos últimos três meses, a produção acumulada de 729,5 mil veículos no primeiro semestre do ano representou uma queda de 50,5% na comparação com igual período de 2019. De maio para junho, o setor demitiu 1 mil funcionários e o emprego está em risco, segundo o presidente Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes.
A previsão de retomada também não é das mais otimistas, disse Moraes, ao apresentar, ontem, o balanço do primeiro semestre do setor. “A estimativa é uma recuperação no formato Nike (referindo-se à logomarca da empresa, cuja curva de ascendência é leve e longa até chegar no pico) e não em V. Ou seja, vai ser lenta até 2025”, explicou. Segundo ele, contudo, só faltam duas fábricas voltarem às operações no país. “A maioria está operando em um turno, rodando em ritmo menor por conta da segurança da saúde. Mas também olhando a demanda”, disse.
Moraes ressaltou que a média diária de emplacamento estava em torno de 11,2 mil em fevereiro, com alta de 12% sobre 2019. Com a pandemia, os efeitos começaram a ser sentidos já em março de 2020, quando os licenciamentos diários caíram 32%, para 7,4 mil ante 11 mil em 2019. Daí para frente, os números desabaram para 2,8 mil em abril (-74% ante a média do mesmo mês de 2019), 3,1 mil (-72%) em maio e fechou 6,3 mil (-46%) em junho. “O dado do mês passado, no entanto, tem um efeito represado. Sem isso, seria de 4,9 mil”, estimou.
A expectativa de uma retomada nas vendas em julho, já que todas as empresas voltarão a produzir, não é muito boa porque a queda na taxa de juros Selic, hoje em 2,25% ao ano, não chegou na ponta, segundo o presidente da Anfavea. “A taxa do CDC (crédito direto ao consumidor) está ao redor de 19,5%, bem alta. A queda da Selic não está sendo captada pelo CDC”, disse.
Emprego
A Anfavea também mostrou que o emprego no setor está caindo. Em junho de 2019, a indústria automobilística empregava 129,2 mil pessoas diretamente. E maio de 2020, o número caiu para 125,1 mil e, em junho para 124 mil. Foram mais de mil funcionários demitidos de um mês para outro. “A MP 936 (que permite redução de salário e jornada) foi uma medida boa. As montadoras têm acordos até outubro. Mas, depois disso, o emprego está em risco”, afirmou o presidente da associação.
A perspectiva de produção é lastreada num mercado interno projetado de 1.675 milhão de unidades vendidas no ano (queda de 40%) e uma exportação de 200 mil unidades (queda de 53%), além de levar em conta a variação de estoques e as importações de veículos. Com o licenciamento de 132,8 mil unidades em junho, o acumulado do semestre foi de 808,8 mil autoveículos, recuo de 38,2% sobre o mesmo período de 2019. As exportações em junho fecharam em 19,4 mil unidades, totalizando 119,5 mil no semestre, uma queda de 46,2%.
Caminhões e máquinas
O setor de caminhões também foi fortemente afetado pela pandemia, embora as quedas não tenham sido tão drásticas quanto as dos veículos leves. A produção no semestre (34,8 mil) foi 37,2% menor em relação ao mesmo período do ano passado. Os licenciamentos (37,9 mil) recuaram 19,1%, enquanto as exportações (4,8 mil) encolheram 19,2%.
Parte do alívio nas vendas de caminhões deve ser creditada aos bons resultados da safra agrícola, que também ajudou o setor de máquinas a não sofrer tanto com os efeitos da pandemia. A produção acumulada no semestre (19,1 mil) foi 22,6% inferior à dos seis primeiros meses de 2019. Já as vendas de 19,6 mil máquinas caíram apenas 1,3% no primeiro semestre, enquanto as exportações (4,2 mil) tiveram retração de 31%.
“A situação geral da indústria automotiva nacional é de uma crise maior que as enfrentadas nos anos 1980, 1990 e a mais recente de 2015/2016. Veio num momento em que as empresas projetavam crescimento anual de quase 10%. Um recuo dessa magnitude no ano terá impactos duradouros, infelizmente. Nossa expectativa é que apenas em 2025 o setor retorne aos níveis de 2019, ou seja, com atraso de seis anos”, avaliou Luiz Carlos Moraes.
Faturamento na indústria
Dados divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria indicam um crescimento do faturamento, das horas trabalhadas e da utilização da capacidade na indústria em maio. Esse retrato reforça a ideia, anunciada pela equipe econômica, de que o pior da crise decorrente da covid-19 ocorreu em abril. Segundo os Indicadores Industriais apurados pela CNI, no entanto, o emprego e a massa salarial no setor continuaram a cair no quinto mês do ano.
Após o tombo de abril, o faturamento das fábricas brasileiras cresceu 11,4% em maio, já considerando os efeitos sazonais entre os dois meses. O resultado interrompeu a sequência de quedas no indicador após as paralisações ocorridas em diversas unidades industriais em março e em abril — com retrações de 4,2% e 23,5%, respectivamente.
“É óbvio que a base estava muito deprimida com quedas muito fortes nos meses anteriores. Em situação normal, uma alta dessa magnitude seria para se comemorar muito, mas na verdade é uma recuperação bem tímida diante da perda”, avaliou o economista da CNI Marcelo Azevedo.
O início da recuperação no faturamento refletiu nas horas trabalhadas nas fábricas, que cresceram 6,6% em relação abril, considerando o ajuste sazonal. Com isso, a utilização da capacidade instalada na indústria chegou a 69,6% em maio, alta de 2,6 pontos porcentuais em relação ao mês anterior (67,0%).
Apesar de os indicadores de produção esboçarem um começo de recuperação no setor em maio, a indústria seguiu demitindo no período. Os dados da CNI mostram uma retração de 0,8% no emprego na comparação com abril. Em relação a maio de 2019, a queda foi de 4,7%.
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