Em um dia sem grandes novidades nos indicadores de atividade e com o mercado andando de lado, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) deu um repique no fim do pregão, embalado pelo mercado externo, e conseguiu fechar acima de 100 mil pontos pela primeira vez desde 5 de março.
O Índice Bovespa, principal indicador da B3, abriu o pregão em queda e chegou a ficar abaixo de 99 mil pontos logo no início das negociações. Contudo, logo recuperou o patamar e oscilou nesse nível ao longo do dia. E fechou com alta de 0,88%, a 100.031 pontos. O volume financeiro negociado foi de R$ 24,4 bilhões.
“O impulso hoje veio de fora. A empresa Gilead divulgou que o antiviral remdesivir reduziu em 62% a mortalidade em pacientes com casos graves de covid-19”, comentou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “Esse tipo de notícia é sempre positiva no radar do mercado, porque os investidores ficam aliviados, mesmo se o processo das vacinas só tenha alguma previsão de conclusão para outubro”, destacou.
As ações da CVC Brasil, que anunciou aumento de capital aprovado pelo conselho, e da Cogna, da área de educação, que recebeu um novo aporte de um fundo que já tinha participação na empresa, lideraram as altas do dia, com valorizações de 15,5% e de 12,8%, respectivamente. Outro destaque ficou com a Hering, cujos papéis subiram 6%.
Na semana, a B3 acumulou alta de 3,38%, contribuindo para a elevação de 5,23% em julho. No ano, a B3 ainda está no vermelho, com desvalorização de 13,5%. O dólar fechou a sexta-feira em queda de 0,31%, cotado a R$ 5,322.
De acordo com Eduardo Velho, estrategista da INVX Global Brasil, o clima de incerteza sobre a retomada da economia global ainda persiste e não dá para prever se a B3 continuará nesse patamar. “O mercado ficou meio de lado, hoje, mas em alta, e acabou acompanhando as Bolsas dos Estados Unidos. Porém, sabemos que, em algum momento, como a crise da pandemia nos EUA está se aprofundando, haverá alguma correção lá fora e a Bolsa daqui deve acompanhar”, alertou.
Velho lembrou que a alta da B3 em meio à pandemia vem sendo impulsionada pela entrada de investidores domésticos, que partiram para aplicações de risco enquanto a maioria das aplicações em renda fixa empata ou perde para a inflação. Ele reforçou que os investidores não residentes não estão tão confiantes como os brasileiros na B3. “O fluxo de saída de estrangeiros da Bolsa, no acumulado do ano, já encosta em R$ 80 bilhões e o dólar continua valorizado”, destacou. Para ele, a volatilidade do mercado financeiro deverá continuar, “apesar de os ruídos políticos terem diminuído nos últimos dias”.
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, acredita que, na semana que vem, a B3 tem chance de continuar acima de 100 mil pontos, “mas sem nenhum colapso” pela frente. Segundo ele, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de queda de 0,9% no setor de serviços mostram que a retomada da economia dessa crise não será tão rápida como os mais otimistas previam. “A recuperação não deve ser homogênea, assim como não foi na recessão anterior. Então, o setor de serviços foi o último a se recuperar e foi atingido pela crise do coronavírus em situação mais frágil do que a indústria e o varejo”, destacou.
As bolsas internacionais tiveram comportamento atípico. Enquanto as asiáticas fecharam no vermelho, as europeias ficaram no azul, embaladas pela expectativa de aprovação, na semana que vem, de um novo pacote de socorro da União Europeia. Em Nova York, a Nasdaq, abriu em queda após renovar máximas por dois dias seguidos, mas acabou se recuperando e encerrou o dia com alta de 0,66%. Já os índices Dow Jones e S&P 500 operaram o dia no azul e fecharam com elevação de 1,44% e 1,05%, respectivamente.
Serviços frustram mercado e caem 0,9%
A queda de 0,9% no setor de serviços em maio, em relação a abril, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acabou indo na contramão da retomada registrada pela indústria e pelo varejo na mesma base de comparação — e frustrou o mercado que esperava alta.
Foi o quarto resultado negativo consecutivo da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). Em abril, a retração havia sido de 11,7% em relação ao mês anterior, o pior resultado da série histórica do IBGE, que começou em janeiro de 2011.
Na comparação com o mesmo período de 2019, o tombo foi de 19,5%, a maior queda da série. Já no acumulado de janeiro a maio, o recuo do segmento, que tem um peso em torno de 70% no Produto Interno Bruto (PIB), foi de 7,6%, em relação ao mesmo período do ano passado.
De acordo com os dados do IBGE, a queda de 2,5% no setor de serviços de informação e comunicação foi um dos principais fatores que puxaram o recuo de 0,9% de maio. O segmento de serviços profissionais, administrativos e complementares recuou 3,6% sobre abril, e o de outros serviços caiu 4,6%, terceira taxa negativa seguida.
“A atividade de serviços decepcionou com a nova queda ainda em maio, após a baixa recorde de dois dígitos em abril. Os dados foram notavelmente mais fracos do que para a produção e o consumo de bens. Em nossa avaliação, isso reflete a natureza do choque severo da pandemia e dos protocolos de distanciamento social no segmento, que depende mais do contato entre as pessoas do que os processos industriais”, comentou Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs.
Pelas contas de Ramos, o desempenho do setor de serviços está agora 27,9% abaixo da máxima histórica de novembro de 2014. “Esperamos que a atividade tenha atingido o fundo do poço em maio e que, nos próximos meses, ocorra uma recuperação gradual, em conjunto com o relaxamento dos protocolos de distanciamento social e de outras medidas de restrição”, destacou.[
Turismo sofre mais
Devido ao início do afrouxamento das medidas de isolamento social, o índice de atividades turísticas apontou expansão de 6,6% entre abril e maio, recuperando uma parcela da queda acumulada desde março, de 68,1%, segundo o IBGE. Contudo, na comparação com o quinto mês de 2019, o recuo foi de 65,6%.
De acordo com o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o setor de turismo, que inclui hotéis e empresas de aviação, é o que mais vem sentindo o impacto da crise provocada pela pandemia. Segundo ele, o segmento é o que mais vai demorar para se recuperar da recessão contratada para este ano, devendo retornar ao patamar pré-crise apenas em 2023.
As projeções da CNC apontam perdas acumuladas de R$ 121,97 bilhões desde o início da pandemia no setor de turismo. De acordo com Bentes, a tendência é de que o faturamento real desse segmento encolha 39% neste ano, “com perspectiva de volta ao nível pré-pandemia no terceiro trimestre de 2023”.
“Assim como nas pesquisas do próprio IBGE relativas à indústria e ao comércio, as empresas que compõem as atividades turísticas perceberam a fase mais aguda da crise pandêmica em abril”, disse o economista. A CNC revisou de 5,6% para 5,9% a expectativa de queda do setor de serviços no acumulado de 2020. (RH)
Alimentos pesam IPCA sobe 0,26%
A alta de 0,26% registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em junho foi a maior desde dezembro passado, quando o indicador ficou em 1,15%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado anunciado ontem, a taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses acelerou de 1,88%, em maio, para 2,13% em junho. A meta perseguida pelo Banco Central é de 4% neste ano. As famílias gastaram mais com alimentos no mês passado. O grupo Alimentação e bebidas saiu de uma taxa de 0,24%, em maio, para avanço de 0,38%, uma contribuição de 0,08 ponto porcentual para o IPCA.
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