Economia

"É hora de pensar em investir mais e melhor", afirma Armínio Fraga

Ex-presidente do BC assina junto com outros 16 ministros carta sugerindo iniciativas para uma retomada pós-pandemia focada em questões ambientais e redução das emissões de carbono

Correio Braziliense
postado em 14/07/2020 13:01
Armínio FragaA retomada econômica da forte recessão da economia brasileira provocada pela pandemia de covid-19 precisa ter como prioridade a questão ambiental, de acordo com ex-ministros e ex-presidentes do Banco Central que participam da iniciativa Convergência pelo Brasil, lançada nesta terça-feira (14/07).

“É hora de pensar em investir mais e melhor”, sintetizou o ex-presidente do BC Armínio Fraga, durante entrevista coletiva de apresentação da carta aberta com propostas para uma retomada da economia de forma mais sustentável, priorizando a redução das emissões de carbono e em busca do desmatamento zero. O economista lembrou que o investimento interno tem sido muito baixo, tanto do governo quanto do setor privado, e, por conta disso, é preciso ter uma estratégia para que o capital vá para projetos que ajudem o país a ter uma produção mais sustentável e que reduzam a desigualdade social. 

Além de Fraga, assinaram a carta denominada “Convergência pelo Brasil”  os ex-ministros Alexandre Tombini, Eduardo Guardia, Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Krause, Gustavo Loyola, Henrique Meirelles, Ilan Goldfajn, Joaquim Levy, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Maílson da Nóbrega, Marcílio Marques Moreira, Nelson Barbosa, Pedro Malan, Persio Arida, Rubens Ricupero e Zélia Cardoso de Mello. A iniciativa tem o apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e do Instituto O Mundo Que Queremos.

“A pandemia fez de fato soar um alarme sobre as questões climáticas. Essa crise é lenta e silenciosa e as pessoas têm que ter em mente que o impacto no final da linha será bem maior do que a pandemia”, alertou Fraga. Para ele, caso o país não se preocupe com essa agenda, o impacto negativo será global e além da Amazônia, sendo ainda “mais devastador para o agronegócio, como também na qualidade de vida”.  “Temos que colocar o tema como uma prioridade máxima da política econômica”, defendeu. 


Oportunidade


Os economistas que participaram da videoconferência foram enfáticos em que a economia só vai se recuperar se houver uma preocupação com uma agenda mais preocupada na preservação ambiental e na busca de tecnologias menos poluentes. “Estamos em uma grave crise e a melhor maneira de olhar para o pós-pandemia é aproveitar a crise e transformá-la em uma oportunidade de  voltar a ser restabelecido e reforçado e será absolutamente”, destacou Marcílio Marques Moreira, ex-ministro da Fazenda e diplomata. 

Novas políticas públicas que entendam a importância do meio ambiente a necessidade de preservação da Amazônia são imprescindíveis, no entender de Moreira. Ele lembrou que os parceiros públicos e privados do Brasil estão cada vez mais engajados no tema de preservação do meio ambiente e na produção com menor nível de carbono.  “Caso contrário, quem vai sofrer mais é a própria agricultura brasileira, porque é da Amazônia que vem as chuvas que irrigam as nossas plantações”, alertou.

O ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, o embaixador Rubens Ricupero defendeu maior engajamento do governo nas políticas ambientais e que evitem criar um novo ciclo de protecionismo da indústria que se recusa a acompanhar as determinações dos acordos globais de redução das emissões de carbono. “É óbvio que elas querem importar equipamentos que serão colocado em desuso na Europa, no Japão, para realizarem a transição para tecnologias mais novas, repetindo o que fez a indústria automobilística nos anos 1950. Não podemos continuar a importar ferro velho e, no fundo, o que vai acontecer é que vamos continuar fabricando carroças, com uma economia fechada”, criticou. 

Saiba Mais

Na avaliação do embaixador, a competitividade do país nunca vai ser alcançada se o país continuar adiando a incorporação de tecnologias de vanguarda e de baixo carbono. “É importante ter isso em mente. Temos uma janela de seis meses em que vão ser tomadas as decisões que vão nos hipotecar por 20 a 30 anos”, frisou.

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