Economia

Governo aposta em rápida recuperação econômica do país

Ministério da Economia projeta queda de 4,7% do Produto Interno Bruto neste ano, em consequência da pandemia do novo coronavírus. Previsão é muito menor do que a de analistas de mercado e de entidades como o Fundo Monetário Internacional

Correio Braziliense
postado em 16/07/2020 06:00

Para o secretário especial Waldery Rodrigues, depois de atingir o fundo do poço em abril, atividade vem ganhando fôlegoO governo está convencido de que a economia vai se recuperara da recessão provocada pela covid-19 mais rapidamente do que o mercado espera. Por conta disso, prevê uma retração do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 menor do que o projetado pelos especialistas e organismos internacionais.


Conforme dado do Boletim Macro Fiscal, divulgado ontem pelo Ministério da Economia, a projeção de queda de 4,7% do PIB, feita em maio, não foi alterada. A projeção de expansão de 3,2% para 2021 também foi mantida. O secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, demonstrou otimismo com a retomada da economia porque os indicadores antecedentes estão vindo melhor do que o esperado. Ele ainda afirmou que, daqui para a frente, o mercado deve reduzir as estimativas de queda do PIB. 

“Abril foi o fundo do poço e, agora, há um movimento de recuperação (da atividade)”, afirmou. Ele citou, como exemplo, a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que, após registrar um tombo de 20% em maio na comparação com o mesmo período do ano passado, vem ganhando fôlego. No relatório da pasta, o auxílio emergencial de R$ 600 para os trabalhadores informais vem ajudando no processo.


Enquanto isso, a mediana das estimativas do mercado para o PIB de 2020 computada pelo boletim Focus, do Banco Central, prevê retração de 6,1%. Na semana passada, a previsão de queda era de 6,54%. Essas projeções, no entanto, são mais otimistas do que as de organismos multilaterais. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, por exemplo, preveem retração de 9,1% e de 8%, respectivamente, do PIB brasileiro deste ano.


Na avaliação de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, ainda é cedo para o governo ser tão otimista nas projeções do PIB, porque os dados de contágio pela covid-19, no Brasil e nos Estados Unidos, maior economia do mundo, não param de crescer. “Já estamos no terceiro trimestre do ano e isso deve significar que ainda teremos forte queda de PIB no ano como um todo. Estamos prevendo recuo de 6,4%, o que é melhor do que a baixa de 7,8% que esperávamos antes. Mas ainda não dá para dizer que o segundo semestre será bom, longe disso”, avaliou.


Christopher Garman, diretor para América do Eurasia Group, reconhece que há muita discrepância entre as previsões dos organismos internacionais e do governo. “Os economistas estrangeiros estão muito mais pessimistas com o Brasil do que o governo, e até mesmo do que os economistas brasileiros. Pode ser que estejam exagerando um pouco, porque a mediana do Focus está em 6% de queda”, disse. “Eu tenho confiado mais nas previsões locais, mas o curioso é que Banco Mundial e FMI sempre foram muito mais conservadores do que o governo nas suas previsões. Acredito que eles estão mais cautelosos em relação ao Brasil”, destacou.


Contudo, Garman admitiu que as notícias sobre como o governo Bolsonaro está enfrentando a covid-19 não são positivas e isso tem influenciado nas avaliações dos estrangeiros. “É possível, também, que eles tenham subestimado o impacto do pacote de socorro do governo na economia.”


Patrícia Krause, economista da Coface para a América Latina, lembrou que os dados positivos do varejo e da indústria em maio causaram certo otimismo no mercado nos últimos dias. Porém, disse que esses dados não são tão fortes a ponto de justificar a manutenção da projeção do governo de queda de 4,7%.

Rombo nas contas é risco à retomada

O aumento expressivo dos gastos públicos com medidas emergenciais no combate aos impactos na economia da pandemia de covid-19 deve fazer com que o rombo fiscal deste ano seja recorde, o que pode atrapalhar a retomada não apenas em 2020, mas, também, nos anos seguintes, segundo analistas.


Ao comentar os dados do Boletim Macro Fiscal divulgados ontem, o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, lembrou que apenas o impacto fiscal do pagamento das cinco parcelas do auxílio emergencial de R$ 600 será de R$ 254,2 bilhões, praticamente o dobro das despesas discricionárias (não obrigatórias) previstas no orçamento de 2020. Contudo, reforçou que as medidas não serão permanentes e que o governo vai continuar persistindo em respeitar o teto de gastos no ano que vem.

Apenas em maio, o deficit primário das contas do governo central (que inclui Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social), somou R$ 126,6 bilhões diante da queda de 41,6% nas receitas e aumento de 68% nas despesas. O resultado superou o rombo de todo o ano passado, de R$ 95 bilhões. E, no início deste mês, considerando queda de 6,5% do PIB nas previsões do mercado, a projeção para o rombo das contas do governo era de R$ 795,6 bilhões neste ano, ou 11,5% do PIB.


De acordo com o secretário, com o recuo do PIB de 4,7%, o rombo fiscal poderá ser menor do que as últimas estimativas da pasta. “Haverá uma tendência de redução na previsão de deficit primário, que está em 12% para 2020”, afirmou.

Contudo, analistas são céticos. A Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado Federal, prevê deficit primário de R$ 877,8 bilhões para o governo central, o equivalente a 12,7% do PIB.  “Dificilmente, este número será menor. Os riscos, em sua maioria, são para um eéficit ainda mais profundo”, destacou o economista Felipe Salto, diretor executivo da IFI. Segundo ele, o governo continuará no vermelho até 2030.

Patrícia Krause, economista da Coface para a América Latina, e o economista e CEO da Siegen, Fabio Astrauskas, também criticaram a disposição do governo de revisar para menos a projeção para o rombo das contas públicas. “Como a projeção de queda do PIB deste ano é otimista, e como não sabemos se será preciso prorrogar medidas como o auxílio emergencial, por exemplo, acho que o deficit deve ser de 12% do PIB para cima", opinou Patrícia.  “O rombo das contas públicas vai se prolongar ao longo dos próximos dois ou três anos. O estado de calamidade pública eximiu o governo de cumprir as metas fiscais, mas isso vai ser um dos grandes problemas depois da pandemia e vai exigir um ajuste fiscal forte”, alertou Astraukas.


O secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, diz que as projeções do governo são consistentes. Ele admitiu, contudo, que existem tanto fatores positivos, quanto negativos no processo de recuperação. “A expansão do auxílio, e as novas formas de comércio on-line estão estimulando a economia. Por outro lado, esperávamos que a economia fosse reabrir em junho e a pandemia está durando mais que o esperado. Isso piora as projeções”, afirmou.

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