Economia

''Vemos recuperação lenta, mas aparentemente sólida'', diz presidente do BB

Rubem Novaes analisou atual momento e as perspectivas da economia brasileiras

Correio Braziliense
postado em 17/07/2020 16:31
Rubem NovaesO Brasil vive um momento de recuperação lenta e aparentemente sólida, mas os índices de inflação e de inadimplência poderão crescer no período pós-pandemia, assinalou o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, em análise do atual momento e das perspectivas da economia, durante live da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Ele demonstrou, ainda, como principal preocupação, os termos em que vem sendo discutida a “ambiciosa” reforma tributária, no Congresso Nacional.

“Tivemos uma queda brusca, e vamos para uma recuperação de forma alongada. Os resultados têm surpreendido positivamente. Diversos economistas estão revendo suas projeções e próprio governo já prevê uma queda do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país) abaixo de 5% em 2020”, disse Novaes. O presidente do BB lembrou que a agricultura vem tendo ótimo desempenho, assim como o comércio e a indústria, que se adaptaram à nova realidade. O problema, no entanto, é no setor de serviços, que só deverá reagir, “quando as pessoas voltarem a circular livremente”.

Para Novaes, o futuro no equilíbrio das contas públicas vai depender do controle dos gastos e da distribuição de recursos nessa crise sanitária, que não poderá se alongar no tempo. “Essas medidas (de auxílio a pessoas físicas e a micro, pequeno e médios empresários) têm que terminar em 31 de dezembro. Senão, vamos perder a confiança. Consumidores e investidores estão olhando para as perspectivas das contas”, destacou. E também das incertezas quando à duração dessa “virose”.  Nesse sentido, uma reforma tributária ampla, é mais um ingrediente nesse contexto de insegurança.

“Aí, se coloca uma reforma tributária muito pretenciosa. Tenho medo dessa reforma que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), colocou em primeiro plano. Pode gerar traumas na população. Quando se envolve todos, a tendência é de aumento de tributos”, afirmou. Ele defende, assim como o ministro da Economia, Paulo Guedes, uma mudança mais modesta. Para incrementar atividade econômica, no curto prazo, segundo ele, é preciso “ deixar a população trabalhar”. “Não se pode impedir que as pessoas lutem pela sobrevivência. A meu ver, passou o pico da pandemia”.

Sobre a inflação, ele disse que tem “receio de que não continue tão baixa, quando essa quantidade de moeda voltar a circular”. “Hoje em dia, está havendo um empoçamento de moeda (porque as pessoas estão mais em casa)”, destacou.

Estados e municípios

Novaes condenou as medidas restritivas à circulação de pessoas que vêm sendo levadas a cabo por governadores e prefeitos. O presidente do BB acha que pesaram os efeitos das suas ações. “Não é possível dar a responsabilidade aos gestores para decidir sobre a pandemia, sem que eles assumam a consequência no fechamento de empresas e também nas contas públicas. É preciso que entendam o equilíbrio entre economia e pandemia’”. E quanto mais a pessoas ficarem em casa, sem atividade e sem renda, o risco de inadimplência no setor bancário tende a aumentar, reforçou.

Privatização

Novaes voltou a defender a privatização do BB. “Uma empresa estatal com capital privado é uma anomalia. Ou você é público ou você é privado”, afirmou, ao criticar o que chamou de

política de compadrios e corrupção no setor público na capital federal. “Qualquer liberal que tentar entrar nesse meio vai receber uma rejeição como um vírus que tenta entrar em um organismo. É muito difícil para um grupo de liberais trabalhar no ambiente político de Brasília”, completou.

Ele também falou que “um gestor não pode ter dois chapéus”. “Ou você é público, ou é privado. Não pode ser privado e ficar subordinado a decisões políticas”. Por outro lado, elogiou os funcionários da instituição. “A gente manda uma meta para baixo e ela se supera. A urma do BB é muito eficiente”. Ele contou a história sobre o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp).

A Caixa saiu na frente e ele queria superar o concorrente. “No primeiro dia passamos a Caixa, com mais de R$ 5 bilhões para o Pronamp”. A mesma eficiência foi observada na venda das ações da Petrobras. “Ficamos disparados”, contou, além de garantir que o banco é sustentável e que o país também avança nas questões ambientais. As queixas de organizações mundiais sobre o tema, para ele, são apenas “uma questão de narrativa”.

Expansão do crédito

Apesar da alta demanda, pelos impactos da Covid-19, o setor bancário tem expandido o crédito. Graças à agricultura, “que deixa o banco em uma situação privilegiada”, o BB está em vantagem diante das demais instituições financeiras. Segundo Novaes, o BB, desde meados de março, concedeu R$ 182 bilhões em créditos. Desse total, R$ 94 bilhões foram de novos contratos e R$ 88 bilhões em renovações e repactuações de crédito. As pessoas jurídicas ficaram com R$ 99 bilhões dos empréstimos. As pessoas físicas, com R$ 48 bilhões. Apenas para o agronegócio, foram R$ 35 bilhões.

Saiba Mais

Questionado sobre o spread bancário (diferença entre os juros que o banco paga e o que ele recebe), Novaes destacou que o setor depende do risco e da competição, que vem crescendo no país pelo avanço da tecnologia e a chegada das fintechs e outros concorrentes. E voltou a criticar os parlamentares. “”A visão dentro da classe política é de que os bancos agem como se fossem um cartel. Nunca vi os banqueiros sentarem para discutir se baixam ou sobem os juros. A vida não é tão fácil assim”.

Confortável

Mesmo diante da crise causada pelo novo coronavírus, o BB está em situação confortável no mercado, já que tem a vantagem de ter como clientes servidores estáveis e garantias do Tesouro Nacional. "Temos muitos clientes pessoas físicas do setor público, que não tem demitido, nem reduzido salário. Essa clientela não tem sofrido impactos na pandemia". O banco também foi beneficiado com volume de crédito alto para o setor público, com garantia da União. "Levando em conta a conjuntura, os retornos são fortes e a perspectiva é para todo o ano”, afirmou.

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