Economia

Governo consegue melhorar margem para teto de gastos com poucas mudanças

Dados do relatório de avaliação fiscal da equipe econômica, com previsão otimista para o PIB, ajudam a reverter estouro do limite constitucional neste ano que estava na previsão de maio

Correio Braziliense
postado em 22/07/2020 18:26
Vista aérea da Esplanada dos MinistériosAo divulgar o terceiro relatório de avaliação de receitas e despesas sem alterar a previsão de queda de 4,7% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, nesta quarta-feira (22/07), o governo conseguiu melhorar a perspectiva de cumprimento do teto de gastos neste ano e passou a ter uma margem de R$ 2,8 bilhões.

O limite para este ano para um determinado grupo de gastos sujeito ao teto é de R$ 1,454 trilhão. E, no relatório do segundo bimestre, divulgado em maio, esse teto já estava estourando em R$ 1,963 bilhão.  Aprovada em 2016, a emenda constitucional do teto de gastos limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior e passou a valer efetivamente neste ano. Contudo, ela sofre ameaças de flexibilização devido ao forte aumento dos gastos durante a pandemia. 

Um dos motivos dessa melhora na margem para o teto, segundo o secretário de Orçamento Federal, George Soares, foi a redução de pouco mais de R$ 4 bilhões nas despesas discricionárias, cuja previsão passou de R$ 119,3 bilhões para R$ 115,1 bilhões entre maio e julho. Ele destacou que as quedas nas estimativas de gastos de benefícios previdenciários (de R$ 1,7 bilhão) e gastos com pessoal e encargos (de R$ 1,1 bilhão) “também contribuíram positivamente” para a melhora da margem para o cumprimento do teto. 
 

Parâmetros

No relatório, o governo manteve a previsão de queda no PIB em 4,7% do último relatório. Esse dado mais otimista do que a mediana das estimativas do mercado, atualmente em 6%. A expectativa de inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), passou de 1,8% para 1,6% entre os relatórios do segundo e do terceiro bimestres. 

A estimativa para o preço barril de petróleo passou de US$ 35,7 para US$ 41,9 na mesma base de comparação. Essa mudança, aliás, ajudou a incrementar a expectativa de receita em R$ 5,3 bilhões. Conforme os dados do documento, a previsão para a receita líquida de 2020 encolheu de R$ 1,212 trilhão para R$ 1,195 trilhão, enquanto isso, as despesas subiram de R$ 1,753 trilhão para R$ 1,982 trilhão. 

Com esses novos parâmetros, o rombo nas contas públicas do governo central (que inclui Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) deve encerrar este ano em R$ 787,4 bilhões, de acordo com o secretário de Fazenda, Waldery Rodrigues.  “A economia não teve uma queda tão intensa como esperada. O fundo do poço foi abril e diversos dados já mostram alguma recuperação a partir de maio”, reforçou.

No relatório do segundo bimestre do ano, a previsão de deficit primário do governo central era de R$ 540,5 bilhões. A nova expectativa, no entanto, ficou levemente abaixo do rombo projetado pelo Tesouro no início do mês, considerando uma projeção de retração de 6,5% no PIB deste ano. 

Com esse parâmetro, o deficit primário estimado para o governo central era de R$ 795,6 bilhões, o equivalente a 11,5% do PIB, conforme dados divulgados em 2 de julho no balanço das medidas adotadas pelo governo para combater o impacto da pandemia de covid-19. Na época, o governo previu que o rombo do setor público consolidado, incluindo estatais, estados e municípios, o rombo chegava a R$ 828,6 bilhões, ou 12% do PIB.

Waldery adiantou que as novas previsões para as contas do setor público consolidado e para a trajetória da dívida pública, agora considerando a nova grade de parâmetros da pasta, serão divulgados no próximo dia 31, junto com a análise do impacto fiscal das medidas de enfrentamento à pandemia de covid-19. 

Riscos

Como 2020 é um ponto fora da curva, o cumprimento das metas fiscais não está sendo acompanhado pelos agentes financeiros. Mas eles estão com os olhos voltados para 2021, porque há dúvidas se a equipe econômica liderada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, terá pulso para conter o ímpeto populista tanto do presidente Jair Bolsonaro e quanto dos militares que compõem o governo e flexibilizar o teto de gastos.

O descumprimento dessa regra tão recente exige a adoção de uma série de gatilhos no ano seguinte, como proibição de realização de concursos e de reajustes salariais a partir do ano seguinte. Um debate sobre uma flexibilização justamente quando o teto passou a vigorar deixa dúvidas sobre a capacidade de contenção do aumento de gastos daqui para frente.

Por enquanto, o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, acha que o governo consegue cumprir o teto de gastos, mas ele reconhece que há perigos em torno do assunto. “Há riscos de burlar o teto em alguns itens, como investimento público, mas me parece sustentável ao menos para 2021”, afirmou. “Acho que discussão interessante sobre o teto que teremos pela frente é ser vão manter os investimentos na regra ou se os militares vão conseguir colocar fora”, acrescentou.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags