O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, disse nesta sexta-feira (24/07) que o choque econômico causado pela pandemia do novo coronavírus deve ser menor que o esperado. Mas admitiu que essa retomada ainda está rodeada por incertezas. Por isso, indicou que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai ter que reavaliar seu cenário básico quando voltar a se reunir daqui a dez dias para discutir o rumo da taxa básica de juros (Selic).
"O choque que a gente esperava em março parece que pode se transformar num choque mais curto ou menos longo, melhor dizendo, do que imaginava", afirmou Bruno Serra em live com o mercado financeiro. Ele explicou que esta crise é bem diferente da crise de 2008 por conta de fatores como a manutenção das atividades do sistema financeiro, como o mercado de crédito e o mercado de capitais; mas também devido aos programas de renda que têm ajudado a assegurar o rendimento básico das famílias brasileiras.
Serra lembrou, contudo, que esses fatores vêm afetando os segmentos econômicos de forma distinta. O varejo, por exemplo, já apresentou uma recuperação em maio, vem acima do esperado do mercado. Já o desempenho do setor de serviços decepcionou as expectativas e continuou no campo negativo. "As pessoas tiveram sua renda recomposta. Têm renda disponível nesse momento, mas estão limitadas a consumir os serviços por uma questão de saúde, a quarentena", comentou.
E ele disse que essa "discrepância entre setores" cria uma dificuldade extra para as projeções econômicas, que já estão rodeadas de uma incerteza "sem precedentes" devido à crise do novo coronavírus. Mas também reconheceu que essa situação "pode ser bastante importante importante para projetar a inflação no horizonte relevante".
O diretor do BC ainda lembrou que hoje o objetivo do Copom é perseguir a inflação de 2021. E disse que o Comitê vai ter que reavaliar seus cenários básicos na próxima reunião, marcada para 04 e 05 de agosto.
Na última reunião, o Copom projetou uma inflação de 3,2% para 2021, abaixo do centro da meta, que é de 3,75%. Porém, essa projeção pode ser puxada para cima caso a retomada econômica ocorra de forma mais acelerada do que o previsto inicialmente, como vem indicando o BC. Mas também pode ir para baixo caso essa recuperação perca força, como alguns analistas dizem que pode ocorrer após o fim do auxílio emergencial, que hoje tem garantido o consumo das famílias de baixa renda.
"A gente está em uma situação que não é 100% confortável. A gente tem um centro da meta a perseguir em 2021. Apesar de uma melhora recente, a gente vai precisar fazer essa avaliação à altura da próxima reunião, o que o Comitê entende desses dois lados aí para a conjuntura futura, para a projeção de inflação de 2021", declarou. "Vai ter que sentar na próxima reunião e debater de novo o cenário, ver de novo a projeção e avaliar que decisão é a mais adequada para a frente", reforçou.
Serra fez questão de ressaltar, contudo, que "não tem nenhum sinal de política monetária", já que "a cada reunião tem que rediscutir o cenário". E lembrou que, como já foi discutido nas últimas reuniões do Copom, uma queda ainda mais brusca dos juros pode causar reflexos indesejados em algumas situações. "O espaço de política monetária é residual", avisou.
Assim como o Copom, o mercado está dividido sobre qual deve ser a decisão do Comitê sobre a Selic em agosto. Boa parte dos analistas espera, contudo, que a taxa básica de juros seja novamente reduzida, saindo dos atuais 2,25% ao ano para a nova mínima histórica de 2% ao ano.
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