Economia

PIB dos EUA tomba 32,9%

Maior economia do mundo teve retração sem precedentes, em termos anualizados, no segundo trimestre. Na Alemanha, líder da Europa, recuo foi de 10,1%. Para analistas, é uma indicação de recuperação global lenta

Correio Braziliense
postado em 31/07/2020 04:04
Pessoas recebem doações de comida em Nova York: além do desemprego, milhões de americanos enfrentam insegurança alimentar
 
Duas das principais economias do mundo divulgaram, ontem, dados assustadores sobre a retração da atividade econômica, em consequência da pandemia do novo coronavírus. Nos Estados Unidos, maior produtor global de bens e serviços, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu nada menos do que 32,9% no segundo trimestre, em dados anualizados. Foi o pior desempenho desde o início da série estatística, em 1947, e uma queda maior do que a registrada na Grande Depressão dos anos 1930. O dado oficial do PIB norte-americano será divulgado em 27 de agosto.

Como já havia apresentado recuo de 5% nos três primeiros meses do ano, a economia norte-americana está oficialmente em recessão, que, tecnicamente, caracteriza-se por após dois trimestres consecutivos de queda do PIB.

Na Alemanha, maior economia da Europa e quarta do mundo, o tombo, entre abril e junho, foi de 10,1%, o maior recuo trimestral desde 1945. Na comparação com o mesmo período de 2019, a retração foi de 11,7%. “No segundo trimestre de 2020, tanto as exportações quanto as importações de bens e serviços se afundaram massivamente”, indicou o escritório federal de estatísticas, o Destatis. 

Os dados trimestrais do PIB dos EUA são anualizados, portanto, a retração de 32,9% não pode ser comparada com os indicadores tradicionais que comparam um trimestre com o mesmo período do ano anterior ou com o imediatamente anterior. Usando a comparação com o segundo trimestre de 2019, a queda do PIB dos EUA foi de 9,5%, segundo os dados do Bureau of Economic Analysis (BEA), órgão norte-americano semelhante ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os Estados Unidos lideram o número de vítimas da covid-19, com mais de 150 mil mortes. O BEA informou que a queda do PIB norte-americano no segundo trimestre foi puxada pelo desempenho ruim nos gastos de consumo das famílias, que desabou 34,6% no período. O setor de serviços teve recuo de 43,5% e os investimentos privados despencaram 49%.

Enquanto isso, o desemprego nos EUA continua aumentando. Na semana encerrada em 25 de julho, houve um aumento de 1,43 milhão de desempregados, dado 12 mil acima do registrado na semana anterior.

Alerta
Na avaliação de Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, o resultado do PIB dos EUA ficou dentro das estimativas do banco — e serve de alerta para o Brasil. O Goldman prevê retração de 7,7% da economia brasileira neste ano, ao contrário de previsões otimistas que têm sido feitas recentemente no país.

Para Ramos, a tendência de recuperação da economia global e, principalmente, nos EUA e no Brasil, vai ser mais lenta do que se esperava, pois a pandemia continua se espalhando pelos dois países. “A crise afetou em cheio a economia norte-americana e, mesmo com as doses cavalares dos estímulos monetários, o consumo das famílias caiu fortemente e o processo de recuperação não vai ser igual ao de outras crises. Ele será mais lento e a normalização só vai começar a ocorrer quando houver uma vacina para a doença”, destacou.

Margarida Gutierrez, economista e professora de Macroeconomia do Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também lembrou que as estimativas iniciais, inclusive da Organização Mundial da Saúde (OMS), eram de que essa crise seria curta. Agora, todos estão revisando suas projeções e, com isso, qualquer previsão de retomada rápida, com curva em V, está ficando para trás.

No caso do Brasil, que entrou na crise com um quadro fiscal mais crítico, o processo de retomada ainda dependerá, ao ver dela, de medidas para conter o forte aumento da dívida pública bruta a partir do próximo ano, porque ela deverá ultrapassar 100% do PIB. “O governo gastou mais porque era necessário. Mas, ainda, vai ter que fazer reformas e um ajuste fiscal que seja crível, com o objetivo de evitar que os agentes privados tomem decisões sem a perspectiva de insolvência das contas públicas. Pois isso a gente sabe como é. A recessão de 2015 e 2016 está aí para mostrar o que acontece”, afirmou.

Após os resultados nada animadores da maior economia do planeta, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) abriu o pregão de ontem em queda, chegando a cair mais de 1% logo na abertura. No fim do dia, encerrou em 105.008 pontos, com recuo de 0,56%.

México 
A covid-19 também fez o PIB do México registrar queda histórica no segundo trimestre. A segunda economia latino-americana desabou 17,3%, a maior retração já registrada pelo Instituto Nacional de Estatística (Inegi). Na comparação com o segundo trimestre de 2019, a economia mexicana caiu 18,9%. Nos primeiros três meses de 2020, o PIB mexicano havia recuado 2,2%.

Para FMI, retomada será desigual
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, afirmou que a recuperação do mundo será “parcial e desigual” entre diferentes países e setores da economia. E alertou formuladores das políticas pelo mundo para que não retirem estímulos “antes da hora”, já que isso poderia atrapalhar a retomada, diante do choque causado pela pandemia da covid-19. Em evento virtual promovido pelo fundo, Georgieva lembrou que a economia global deve encolher quase 5% neste ano. “A pandemia afetará quase todos os países, que estarão mais pobres em dezembro de 2020 do que um ano atrás”, afirmou. Ela disse, ainda, que o FMI está disposto a apoiar o acesso universal à vacina contra a covid-19, quando estiver disponível.


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