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A construção de parcerias

É sempre adequado que os pais construam parcerias com a escola, para possibilitar cada vez mais o desenvolvimento da vida estudantil do jovem

Augusto Fernandes
postado em 28/09/2019 06:04
Guilherme  Spinola e os pais, Ana Paula e Alexandre: orientação profundaA presença de pais e mães mostra-se ainda mais importante no momento em que o adolescente precisa definir o que quer fazer após o fim do ensino médio. Para que a transição para o ensino superior não seja traumática, ou até para que o jovem seja auxiliado na hora de escolher um curso, o suporte familiar é fundamental.

;Muitas famílias acreditam que, no período da adolescência, é possível se afastar da escola, dando mais autonomia aos filhos. No entanto, é importante ressaltar que a mãe, o pai ou o responsável são sempre bem-vindos e devem estar presentes não só em reuniões ou festas do calendário letivo. Existe a expectativa de que a escola se responsabilize pelo que a família não daria conta, que é a função acadêmica. Porém, há uma camada compartilhada, que diz respeito à formação do sujeito;, ressalta a diretora educacional da Rede Marista de Colégios, Viviane Flores.

De acordo com Viviane, é sempre adequado que os pais construam parcerias com a escola, para possibilitar cada vez mais o desenvolvimento da vida estudantil do jovem. ;É possível que todas as partes tenham voz e ajam dentro dos seus limites, respeitando o lugar do outro. No cotidiano da vida escolar, vão revelando crenças, valores e costumes. Assim, é fundamental que a escola e a família se alinhem às necessidades do aluno, colocando estes como foco principal;, afirma.

Preocupados com o destino do filho após o ensino médio, os pais de Guilherme Spinola, 17, que estuda no Cor Jesu, estreitaram as relações com o serviço de orientação educacional do colégio onde ele estuda para mostrar ao jovem uma luz no fim do túnel. ;Nós temos de dar uma orientação mais profunda, não adianta só pedir para que o filho faça o que ele quiser. Sem esse conselho, qualquer adolescente não encontra um direcionamento;, garante a mãe do estudante do 3; ano do ensino médio, a empresária Ana Paula Spinola, 47.

Há alguns meses, Ana Paula e o marido, o economista Alexandre Fraga 48, procuraram uma psicóloga para submeter Guilherme a um teste vocacional. Após a consulta, o rapaz bateu o pé sobre o que quer estudar no ensino superior: engenharia elétrica. ;Nós, pais, temos de estar sempre com as mãos estendidas para os filhos e auxiliá-los no que for preciso, sobretudo nos momentos de indecisão;, afirma Alexandre.

Segundo Guilherme, a atenção dos pais foi essencial. ;Neste momento da vida, qualquer adolescente na minha idade precisa desse suporte dos pais. Tudo muda e muita coisa passa pela nossa cabeça, portanto, a presença da família nos dá segurança para tomar a melhor decisãopara o nosso futuro;, diz o jovem.

Dupla jornada


Praticamente 24 horas por dia, o professor de história do Cor Jesu Og de Araújo, 47, está na companhia da filha Júlia Carvalho, 17. Isso porque a jovem estuda na mesma escola onde ele dá aulas. Inclusive, ela é aluna dele. ;É uma realidade um pouco diferente da dos demais pais;, reconhece Og.

Og de Olivera e Júlia, pai e professor: desenvolver um olhar mais delicado sobre a vida escolar da  filhaPara o pai-professor, ser educador da própria filha permitiu que desenvolvesse um olhar muito delicado sobre como acompanhar a vida escolar de Júlia. ;Essa experiência me ajudou duplamente. Primeiro porque, enquanto professor, às vezes, eu não percebo o cansaço do estudante. Nós, educadores, querendo sempre tirar mais do aluno. Por outro lado, é bom perceber, como pai, a realidade de uma sala de aula e o que um filho passa;, comenta.

Og ainda lembra que a família tem de ouvir as reclamações e as inquietações do filho. ;Não existe ninguém mais bem preparado para isso do que um pai ou uma mãe. Assim, eles podem saber quais são as dificuldades e ajudar;, observa. ;Essa preocupação é ainda mais importante na última etapa do adolescente no ensino médio, que eu classifico como o primeiro ano da vida adulta dele;, completa o professor.

Para Júlia, é um desafio ter aulas com o pai, mas isso a deixou ainda mais conectada à família. ;É algo que eu valorizo bastante. Com ele, aprendo duas vezes: sendo filha e sendo aluna. É um aprendizado constante;, reflete a adolescente.

Palavra de especialista


Prestigiar, estimular e motivar

;Participar da rotina escolar; significa muito mais do que apenas levar e buscar os filhos na escola, comparecer em reuniões de pais ou saber os nomes dos professores. Claro que todas essas ações têm a sua importância. Porém, participar da rotina escolar vai muito além. Envolve a real participação dos pais ou dos responsáveis pela criança ou pelo adolescente de maneira mais assertiva nas atividades. Prestigiar, estimular, motivar e valorizar as conquistas e realizações dos filhos é extremamente importante.

Também indico colocar como rotina da família as discussões sobre assuntos escolares, o acompanhamento das lições e trabalhos pedagógicos, o interesse e conhecimento do rendimento da criança na escola, saber como ela está se desenvolvendo nas atividades extras, se interessar em saber quem são seus amigos neste ambiente, qual relação o filho tem com as outras crianças, entender como ela se posiciona ou lida com conflitos e dificuldades, além de ensinar-lhes autonomia.

Colocar tudo isso em prática dá trabalho? É claro que sim! Porém, é dessa maneira, um pouquinho por dia, com muita persistência, que formamos uma criança e contribuímos para que ela avance à vida adulta com segurança, autoestima forte, confiante das suas capacidades, sabendo discernir entre o certo e o errado, sendo ética em suas condutas, proativa, líder e ao mesmo tempo gentil em suas atividades.

Sueli Bravi Conte, educadora, psicopedagoga, doutoranda em Neurociência e mantenedora do Colégio Renovação

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