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À espera de um novo tempo

No ano que vem, escolas de todo o país começam a implementação gradual da Base Nacional Comum Curricular, que levará em conta a individualidade do aluno

Bruna Lima
postado em 28/09/2019 06:13
Centro Educacional São Francisco, em São Sebastião, protagoniza o projeto Selfie Pedagógico, com esportes, acrobacias e rodas de diálogoO início do ano letivo em 2020 promete ser revolucionário. Após o desafio de consolidar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é hora de fazer valer as mudanças. Nesse contexto, é fundamental o papel de liderança dos gestores, de engajamento e formação dos professores, assim como de acompanhamento e colaboração dos pais. O planejamento formal do Ministério da Educação (MEC) prevê que em 2021 a implementação da base nos ensinos infantil e médio esteja concluída. Para o Enem, essas mudanças são esperadas entre 2023 e 2024.

;Estamos em uma das maiores fases de transição da educação brasileira. Sabemos o que não queremos mais, mas o novo ainda não está concluído;, explica Juliana Diniz, diretora regional de escolas do grupo Somos Educação. Para ela, os esforços até a implementação completa das novas diretrizes devem estar centrados na formação dos professores e na elaboração e aplicação gradual dos currículos escolares. Essa implementação, no entanto, não é uma tarefa simples. As escolas precisam compreender a mudança de concepção de educação que prioriza a formação do aluno de forma integral, ou seja, de mente e coração. Isso exige responsabilidade e atuação da comunidade acadêmica para garantir que as escolhas reflitam a necessidade educativa contemporânea.

Ensino integral

Prevista pelo artigo 210 da Constituição Federal de 1988, a BNCC dispõe, na forma de lei, sobre a necessidade de promover ensino integral ao estudante, de maneira a alcançar as dimensões cognitivas, sociais, emocionais, mentais, físicas e culturais do ser humano. É por meio do desenvolvimento de competências gerais, trabalhadas ao longo dos anos de educação básica, que a base passa a ter o compromisso para além da formação conteudista.

Para auxiliar na interpretação do documento, com explicações dos termos que mais geram incerteza, a Somos Educação criou uma plataforma gratuita que conta, ainda, com espaço para elaboração de currículos. As diretrizes que remodelam a forma de ensino precisam ser entendidas não só pelos educadores, mas pelos pais. ;É superimportante que as famílias estejam engajadas nesse processo de compreensão. Tanto para que percebam a intencionalidade das atividades que priorizam o desenvolvimento do indivíduo na sua integralidade, quanto para desenvolver uma capacidade crítica e analítica em relação às escolas dos filhos;, diz Juliana.

Portanto, para ela, estar por dentro do novo modelo ajuda no momento da escolha da escola do filho. ;As escolas que incorporam essa nova educação e demonstram outros indicadores para além das aprovações no vestibular já têm um diferencial. Destaco a necessidade de valorização das competências socioemocionais e de projetos que garantam a autonomia dos alunos.;

Ferramenta de apoio

A plataforma BNCC na Prática é um serviço que permite montar matrizes curriculares e planejamentos alinhados à diretriz, que foi homologada em dezembro de 2017. Parte da iniciativa, o Glossário Digital BNCC é uma novidade que veio para explicar os termos que mais geram incerteza nos educadores nessa reta final da implementação. O objetivo do material é servir como ferramenta de apoio à formação dos educadores brasileiros, além de instrumento de pais, alunos e sociedade para melhor conhecimento da base. Site https://www.bnccpratica.com.br

Protagonismo


Na mesma direção da necessidade de colocar o estudante como centro da aprendizagem, um projeto do Centro Educacional São Francisco, em São Sebastião, já é aplicado há quatro anos de forma a estimular a participação ativa de toda a comunidade escolar e dar mais autonomia ao aluno.

O Selfie Pedagógico oferece a possibilidade de escolher e propor atividades diversas de cunho educativo, como esportes, acrobacias, danças, práticas de laboratório, rodas de diálogo, culinária, teatro, cinema e aulas de reforço. A cada bimestre, são apresentadas aproximadamente 25 propostas, com 12 encontros cada.

Com o intuito de complementar o aprendizado teórico aprendido em sala de aula, a estudante do 3; ano Sa mara Cristina Marinho, 17 anos, escolheu a atividade de experimentos de química e biologia neste bimestre. ;Estar aqui é uma escolha. Por isso os alunos participam mais e, consequentemente, aprendem mais. Só acrescenta esse olhar fora da caixinha;, conta.

A aluna do 3; ano Jeimilly dos Santos, 18, encontrou na prática de circo uma nova forma de olhar para si mesma. ;Foi uma coisa nova para mim. Aprendo a cada dia a explorar meu corpo, canalizar meus sentimentos, me conhecer melhor, a me desafiar e evoluir;. Por ser uma atividade que requer parceria, Jeimilly conta que passou a confiar mais no próximo. ;Meu relacionamento com as outras pessoas melhorou muito e isso refletiu para além do ambiente escolar. Todo mundo tinha que ter oportunidades como essa;, ressalta.

Fazer com que a criança e o adolescente se conectem e encontrem aptidão nas atividades são estímulos também para o educador. ;Nos sentimos motivados para planejar, propor. É desafiador, precisamos estar sempre nos atualizando e trazendo novas propostas de forma integral;, afirma o professor de educação física e mentor da aula de circo do colégio, Eduardo Marucci. ;Em uma aula, é possível trabalhar disciplina, cooperação, força, condicionamento físico, arte e o lúdico. Aqui o aluno não perde ponto, ganha aplausos e sorriso;. Para a supervisora pedagógica do CED São Francisco, Mariana Lima, ainda existem lacunas no remodelamento da educação básica, em especial no ensino médio, que precisam ser discutidas com mais profundidade. ;Quando se exige a garantia do direito à aprendizagem, tendo como critério de avaliação os modelos padrões, há um medo de que a pressão por resultados interfira na autonomia de cada escola. Precisamos de instrumentos de trabalho e de formação dos professores, que precisam ser cada vez mais multidisciplinares;, opina.

Outra incerteza está no campo dos itinerários formativos, a parte flexível do currículo que engloba 1,2 mil horas (40% do ensino médio) e que deve permitir aos estudantes aprofundar os conhecimentos nas áreas de preferência. ;A falta de precisão pode contribuir para tirar o dever do estado com a qualidade do ensino e responsabilizar a instituição. Para que isso não ocorra, são necessários monitoramento e assistência eficientes;, completa Mariana.

De acordo com o novo ensino médio, a carga horária será distribuída entre itinerários formativos e a Formação Geral Básica (FGB) com 1,8 mil horas, que será comum aos estudantes e engloba as quatro áreas do conhecimento ; linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas.

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