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Artigo: Desafios constantes

postado em 28/09/2019 06:14
Por Paulo Volker e Olzeni Ribeiro - Crianças e jovens, no impulso próprio da idade, são capazes de expressar suas capacidades e suas incapacidades, suas habilidades e suas inabilidades. Estão sempre dispostas a mudar, a negociar, a observar e a aprender. Estão vulneráveis a mudar de opinião, vivendo o dia a dia com foco e paixão. Ser criança ou jovem possibilita ter um olhar espontâneo que não se interessa em privilegiar uns e não outros, com atenção difusa e inconstante, pouca habilidade discriminativa. Crianças e jovens entendem sentimentos e emoções, pois estão imersas nelas. Mais que na razão, elas reagem a isso, ativa ou passivamente.

As escolas e os educadores, embora entendam esse modo de ser, na maioria das vezes, sabem, mas não admitem, que a estrutura tradicional da escola é antagônica a esse modo de ser das crianças e dos jovens, principalmente no mundo contemporâneo.

Entretanto, compreendemos que, por mais que a escola tenha evoluído, ainda persiste a crença de que crianças não estão preparadas para viver sem o comando sistemático de adultos e de que ;alunos; não são capazes de assumir a responsabilidade de auto-organizar-se em seu próprio processo de aprendizado. Cada vez mais, crianças e jovens demonstram que se tornam capazes quando estão explorando algo que faz sentido e que é relevante para eles. São capazes de levantar suas próprias hipóteses e descobrir suas próprias soluções, surpreendendo-nos com alternativas que não pensamos. Conseguem produzir seu próprio repertório de conhecimento, adquirindo uma compreensão bem mais profunda quando estão construindo e aplicando.

Por causa disso, novas metodologias começam a propor perspectivas pedagógicas que implementem um aprendizado autêntico e conectado com a vida real. Visamos a um mundo de possibilidades que objetivem levar os aprendizes a desenvolverem projetos e a criarem produtos tangíveis e úteis, gerando soluções aplicáveis no mundo ao seu redor.

Todos os dilemas do mundo e da escola, de alguma forma, afetam diretamente o educador. Hoje, um educador, para ser capaz de transmitir conteúdos e colaborar efetivamente para a formação dos seus alunos, precisa mais do que competência técnica, metodológica, pedagógica e teórica. Precisa também ser intuitivo, criativo e atento às fronteiras entre a subjetividade e a objetividade das relações no espaço da escola. Não é bastante ser um técnico especializado com prioridade cognitiva. Para além da sua competência teórica e técnica, pedagógica e metodológica, que lhes dão uma concepção do ato educativo, do seu objeto e do seu método, o educador deve ser, acima de tudo, alguém que vivencia a dinâmica relacional da sala de aula com alunos de modo criativo.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) representa um avanço significativo para minorar as tensões e os desafios da escola brasileira. Além de uma organização curricular mais contemporânea, estabelece conjuntos de aprendizagens essenciais, com foco no desenvolvimento integral, e de identificar competências e habilidades, mais do que conteúdos apenas do campo da cognição. Procura, assim, dizer de projetos de vida e da continuidade da aprendizagem dos alunos que, para além da escola, precisa estar em consonância com a vida.

O desafio da educação contemporânea é a atualização de um fundamento primordial: o universo de relações que se dá justamente com pessoas que se caracterizam prioritariamente pela noção de natalidade. Essa noção objetiva indicar esse espaço humano, caracterizado pelo novo e representado radicalmente pelas crianças e pelos jovens. Aponta para essa dimensão inapagável do humano, porque se entrelaça na sua própria sobrevivência biológica, e, mesmo se manifestando sempre nos novos, tem também expressão em todos os movimentos de transformação e renovação sociais. A natalidade é o movimento instituinte do social, sua força renovadora e transformadora. É nessa dimensão que a educação do futuro pretende estar com seus alunos, esses que serão os gênios criadores, artistas, visionários e renovadores do nosso mundo.

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