Giovanna Fischborn
postado em 28/09/2019 06:08
Aqueles nascidos entre 1995 e 2010, conhecidos como Geração Z, não chegaram a ver o mundo sem internet. De forma geral, essa geração é conhecida por ser questionadora, voltada para a ação e para lá de habituada com computadores, chats e todas as possibilidades das telas touch. Atentas a isso, escolas aproveitam o perfil dessa geração e incentivam o comportamento empreendedor nos alunos.O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) destaca que o ensino deve começar cedo. Para ajudar as crianças a desenvolverem competências empreendedoras, os colégios devem propor atividades lúdicas que envolvam soluções criativas. A proposta é fugir dos conteúdos mais pragmáticos.
A prática fomenta o aprendizado sobre comunicação, finanças, gestão de pessoas e marketing. E, mais que isso, quem aprende ganha coragem para planejar, executar e aprimorar os próprios projetos.
A coordenadora pedagógica do ensino fundamental 2, do 6; ao 9; ano, do Colégio Marista, Bernadete Carvalho, defende o ;jeito novo de aprender; adequado às novas possibilidades dessa geração. ;A ideia é que o aluno seja o protagonista do próprio processo de aprendizagem. É questão de trabalhar o autoconhecimento, assim, ele terá expectativa de felicidade, ideia de família, de estudo e do que ele quer para o futuro;, explica.
Para ela, o ideal é que o ensino tenha orientação interdisciplinar. Assim, estimular o empreendedorismo é papel de todos os professores. No colégio, o modelo de educação empreendedora é estruturado em três pilares: noções de liderança, habilidades socioemocionais e conhecimento de ferramentas de trabalho e de estudo.
Projeto de vida
Os alunos do Marista têm contato com as premissas do empreendedorismo desde o 6; ano do ensino fundamental. O processo ocorre pouco a pouco. Nos anos iniciais, o Conexão XXI, nome dado à iniciativa, leva os estudantes a desenvolverem pensamento crítico, a pesquisarem, aprenderem sobre robótica e sobre educação financeira. Na última etapa do ensino fundamental, é chegada a hora de pensar no que podem criar e executar.
Laila Ollaik, 14, Marina Fukuda, 15, Eduardo Hirle, 15, João Pedro Pariz, 14 e Tiago Silveira, 14, são alunos do 9; ano e já provam da cultura do ;Faça você mesmo;. Eles têm a importante função de administrar os negócios das turmas em que estão. ;Cuidamos para que todas as partes da empresa estejam funcionando. Nós elaboramos o projeto, as outras equipes seguem aquela lógica e, então, vamos supervisionando e vendo como gerar melhorias;, pondera Laila.
O professor César Lorenzetti orienta o 9; ano no Conexão XXI. Ele explica que a dinâmica ocorre da seguinte forma: cada turma monta uma empresa e cada empresa tem grupos, que funcionam como departamentos. As equipes se dividem nas funções de marketing, financeiro, recursos humanos, administrativo e operacional.
;Eles elaboram todo um plano de negócios. Estudam o custo do projeto, estimam o retorno que trará, cuidam do fluxo de caixa;, diz César. Ao final do ano, os empreendedores mirins mostram o projeto completo.
João Pedro e Tiago são da mesma sala. A turma deles vem trabalhando, ao longo do semestre, em um aplicativo de tarefas para os alunos ; mas a ideia sai do comum. Em vez de fazerem como obrigação os exercícios passados pelos professores, os alunos que acessarem a plataforma e fizerem as atividades extras podem ganhar recompensas pelo trabalho. Vira incentivo. ;Ainda estamos pensando que tipo de recompensa será. Créditos na cantina, por exemplo;, eles contam.
Ciente da necessidade dos alunos de terem suporte psicológico, a turma de Marina e Eduardo teve a ideia de levar psicólogos para a escola. Eles explicam que o aluno precisa lidar rotineiramente com frustrações no ambiente escolar, o que faz parte, mas é preciso cuidar da saúde da mente. Por isso, a turma entende que o acompanhamento de um profissional seria fundamental nessa jornada.
Laila conta que a turma dela tem se articulado para desenvolver um site em que os alunos possam fazer perguntas, anonimamente, sobre o conteúdo explicado em sala ou tarefas, e uma curadoria de alunos deve tirar as dúvidas pela plataforma mesmo, na hora. O objetivo é agilizar o entendimento e a troca de ideias durante o estudo quando o aluno percebe que algo não está claro.
E a vivência no projeto extrapola a sala de aula. Os estudantes entendem como projeto de vida. ;Nós aprendemos coisas que podem não estar no nosso currículo, mas que são maiores que isso. Que é essa capacidade de se comercializar, de entender o mercado. Em uma entrevista de emprego, não tem prova, você precisa falar sobre si mesmo;, acredita João Pedro.
Errar também faz parte do processo. César afirma que questiona as turmas, mas sem apresentar a eles uma solução imediata. Dessa forma, os mais novos aprendem a tomar decisões e a lidar com as consequências ; inclusive o que vier de negativo. ;Essa é outra característica dessa geração. Por serem muito rápidos, quando erram, eles já percebem e buscam alternativas;, pondera.
É sobre tomar riscos
No colégio Sigma, também já existem ações que promovem o empreendedorismo na vida dos alunos. Lá, os estudantes podem participar do Sigma Múndi, que é um projeto de extensão voltado para simulações de debates nos moldes da Organização das Nações Unidas, a ONU. O Sigma Múndi é realizado há 18 anos. O professor Paulo Macedo orienta os alunos participantes e explica que, de início, não existia uma vertente, no projeto, voltada para o empreendedorismo. ;Foram alguns ex-alunos que propuseram. Seria um modelo mais voltado para aqueles com afinidade com marketing, administração, publicidade. Então, criamos uma comissão com essa ideia.;
O objetivo é que os estudantes exponham ideias e estudem a possibilidade de levá-las à frente. É preciso pensar rápido e dar tudo de si. ;E essa geração surpreende nesse aspecto. Eles são proativos, basta uma pesquisa na internet e eles já veem que é possível, sim, empreender;, ele acredita.
Prova de que empreender também é lidar com pressão, quem participa do CEO;s do Sigma Múndi - que é o comitê voltado para empreendedorismo ; pode ser até demitido se não apresentar um desempenho à altura.
Pode parecer superexigente, mas o propósito da demissão é fazer com que os alunos melhorem as capacidades. Uma vez demitidos, eles iniciam uma série de treinamentos e têm a chance de voltar a competir pelo prêmio dos CEO;s. ;Isso mostra que o aluno pode se reerguer e se dedicar de vez;, avalia Paulo.
Resultados
A estudante do 3; ano do ensino médio do Sigma, Bruna Jin Ya, 17, participou do Sigma Múndi quando estava no 1; ano e, agora, no 3;, quando ganhou o prêmio dos CEO;s como a melhor colocada. ;Da primeira vez que participei, eu não fui tão bem. Neste ano, já deu para perceber minha evolução. Consegui me organizar, negociar e me comunicar melhor;, ela avalia.
Ela garante que a experiência foi de muito aprendizado. Bruna acredita que saber um pouco sobre o tema já permite que ela entre com vantagem no mercado de trabalho. ;O feedback que eu recebi dos orientadores me ajudou nisso. Eles me estimulavam a melhorar e a fazer diferente, a apresentar meu produto melhor e fui aprendendo;, revela.
E ela colhe frutos disso. No mês passado, Bruna iniciou um negócio on-line de venda de canetas e produtinhos de papelaria. E ela afirma que a experiência no projeto influenciou muito a decisão. O interesse é tanto que ela pretende cursar administração ou ciências contábeis na universidade. ;Os meus pais são comerciantes, então sempre tive eles como exemplo. Mas eles sempre me deixaram muito à vontade, confiam muito no meu estudo e não me pressionam para que eu escolha esse caminho, faço por mim mesma;, ela afirma.