2013 Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro

Mostra Competitiva termina com homenagem ao cineasta Silvio Tendler

A noite foi marcada pelo discurso emocionado da equipe do longa A arte do renascimento 2014 Uma cinebiografia de Silvio Tendler

Ricardo Daehn
postado em 25/09/2013 08:44

Dedicado à neta de Paula Gaitán e Glauber Rocha, o longa Exilados do vulcão foi ilmado nas serras de Minas Gerais

Depois do desconforto provocado por uma falha no ar-condicionado, na noite de domingo, o Cine Brasília voltou a ser resfriado com o pleno funcionamento do aparelho. O clima ameno foi importante para ajudar a plateia a acompanhar a noite de segunda-feira, quando a seleção do 46; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro primou por obras experimentais.

A noite começou com o discurso emocionado da equipe de A arte do renascimento ; Uma cinebiografia de Silvio Tendler. O documentário registra a recuperação do cineasta Silvio Tendler, depois que uma doença não revelada o deixou tetraplégico. O diretor foi o primeiro cadeirante a utilizar o elevador de acessibilidade do cinema restaurado. ;Minhas principais motivações na hora de renascer foram a vontade de viver e a de continuar contando histórias;, resumiu.

O longa de ficção Exilados do vulcão, de Paula Gaitán, filmado nas serras de Minas Gerais, exigia desaceleração. Trechos das memórias de um fotógrafo eram recuperados em sequências filmadas com lirismo. A narrativa fragmentada somada à extensão do filme exigia atenção do público. O filme é outra produção a reunir integrantes da família Rocha. Dedicado à neta de Paula e Glauber, o longa tem participação da atriz Ava e produção de Eryk, filhos do casal. ;Paula é uma grande artista: uma autora. Ela tem uma linguagem própria, além de muita coragem;, declarou Eryk Rocha.


Crítica/ Exilados do vulcão por Yale Gontijo


Dupla resistência


As paisagens etéreas conduzem a um mundo de sonhos. As serras cobertas por neblina são um lugar imaginário onde a coreografia dos corpos encena passagens de uma vida já vivida. Nos tecidos da memória do fotógrafo Pedro, Luiza percorre os caminhos do seu objeto de amor: um homem inerte. Tenta reunir as provas de que ele viveu, recolhendo cinzas de um vulcão que um dia esteve ativo. Um homem e várias mulheres. A melancólica infância e a lembrança da mãe em terras estrangeiras. O amor da juventude, uma pintura em restauração. O amor da maturidade, encenado em vermelho ao som de música pop. E o embate do sexo coreografado.

As imagens em cinemascope criadas pela bela fotografia de Inti Briones são simbólicas, sugestivas. A geografia de um homem desenha-se em tecido epitelial. Está nos pelos do corpo, no peitoral em movimento respiratório. Acessá-las e reativá-las são parte do trabalho espectatorial. O texto sussurado faz alusões, reforça as simbologias no tronco e nos galhos da árvore da vida, com aproximações ao filosófico cinema do norte-americano Terence Malick (Árvore da vida e Amor pleno). Paula Gaitán constrói seu primeiro longa-metragem de ficção, talhado em poesia, com a consciência de que a força do vulcão terminará por consumir a todos. Inclusive o tecido da película.



Crítica/ A arte do renascimento ; uma cinebiografia de Silvio Tendler por Olívia Florência

Um metadocumentário


O grande triunfo de A arte do renascimento é fazer com que o espectador sinta-se intimado a ver um dos filmes do cineasta Silvio Tendler. Noilton Nunes coloca enxertos dos filmes de Tendler para explicitar a importância do trabalho do documentarista, sendo esse o foco principal do longa e, algumas vezes, o seu problema. A vida pessoal de Tendler é retratada delicadamente por meio de fotos e histórias narradas pelo documentarista, e não chega a ficar piegas em nenhum momento.

O filme é uma ode ao trabalho de Silvio Tendler, explorando filmes do diretor com sequências completas no metadocumentário. É indubitável a importância dele para a história do documentário brasileiro, mas a cinebiografia tem tom de colagem. O grande triunfo do longa também parece derrota. Afinal, não seria melhor ver um filme de Tendler?

Apesar da dúvida, é preciso levar em conta que, mais do que uma cinebiografia, Nunes fez uma homenagem. O ;renascimento; do título se refere ao fato de Tendler ter tido uma doença grave, que o deixou tetraplégico. Recuperado, o diretor ainda sofre de paralisia, mas já reassumiu a direção e tem vários trabalhos engatilhados, entre longas e série. Seu discurso sobre a vida é motivador e otimista. No fim, Tendler na tela soa inspirador.

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