49 anos de Brasilia

Texto: Inventei uma Brasília criada



postado em 21/04/2009 09:00
por Iolanda Santos Lembro como se acontecesse agora: "O que fiz no recesso?". O tema da redação que a professora Jacinta da quinta série pediu para fazermos. E tenho em minhas mãos a folha onde transcrevi as minhas melhores férias até então. Isso mesmo! Fiz questão de guardar e trazê-la comigo. "Assim que mamãe soube que passei de ano, papai logo providenciou as passagens para Brasília. Dessa vez fomos de avião, só não fomos ano passado porque Emanuela nasceu e o orçamento ficou apertado, mas este ano fomos os quatro, e de avião! Manú fez birra ao embarcar, pois nunca tinha entrado num avião, mas rapidinho se acostumou. A viagem foi rápida e tranqüila. Ao desembarcarmos um táxi já nos esperava. Fiz questão de sentar no lado da janela para ver como a capital estava diferente. O hotel era o mesmo das outras vezes, o porteiro até nos conhecia pelo nome. Apenas desfizemos as malas e saímos para dar uma volta pela cidade. Andamos até Manú reclamar que estava com fome. Nos outros dias visitamos lugares como a Catedral, a Torre de TV, a Praça dos Três Poderes e tantos outros que só têm na cidade planejada. Essas férias foram quase como as outras, pois todos os anos viajamos, a única coisa de diferente é que foi a primeira que Manú foi conosco." Fiz questão de trazer essa redação comigo e ler em cada lugar citado. Como pude escrever sobre um lugar que desconhecia totalmente? Como pude falar de um pai que não tive e de uma irmã que nunca nasceu? Hoje eu sei. E queria poder encontrar aquela professora que me ensinou a viajar pelos livros, que possibilitou à minha mente conhecer lugares que sequer sonhava. Pensando bem, acho que ela sempre soube que eu não tive pai e que nunca estive em Brasília. Contudo, não esqueço o que disse ao entregar-me a redação corrigida: "Quando eu era criança também viajei para Brasília em minhas férias". Os professores dificilmente pedem este tema nas redações hoje em dia, talvez porque perceberam que as crianças criam lugares onde nunca estiveram, conhecem pessoas que não existem, ou, simplesmente, "imaginam coisas". Mas, estou aqui, na Esplanada dos Ministérios, no aniversário de 49 anos de Brasília, lendo pela segunda vez minha redação da quinta série e fazendo cumprir o que disse à minha incentivadora: "E quando eu crescer eu vou lá de novo, professora, sozinho". Na verdade eu não voltei, eu vim pela primeira vez. E não foi sozinho. Minha filha e minha esposa estão no hotel. Decidi acertar as contas com o passado sozinho, tendo como testemunha apenas este pedaço de papel. As ideias aqui expostas não representam necessariamente a opinião do correiobraziliense.com.br

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