49 anos de Brasilia

Tesouros de JK abertos à visitação em Luziânia



Fazenda comprada por Juscelino para receber amigos durante o tempo em que esteve cassado guarda relíquias do ex-presidente

postado em 21/04/2009 01:03
A fazenda onde Juscelino Kubitschek viveu os últimos quatro anos, na área rural de Luziânia (GO), está aberta para visitação. De propriedade da família Servo, cujo patriarca era amigo do ex-presidente, o espaço abriga relíquias nunca antes acessíveis ao público. A visita guiada é um mergulho na trajetória do construtor de Brasília. Ao passear pela mansão projetada por Oscar Niemeyer ; único trabalho do arquiteto fora da zona urbana ; e pelos jardins desenhados por Burle Marx, o visitante experimenta momentos de intimidade com a história de JK. Juscelino comprou o espaço de tamanho equivalente a 1600 campos de futebol em 1972, depois de ter o mandato cassado e de ser proibido de entrar em Brasília. Queria um lugar onde pudesse passar os dias, reunir os amigos e, de lá, ao entardecer, ver as luzes da capital que ergueu no Planalto Central. Encantou-se com a Fazenda Santo Antônio da Boa Vista, a 70km do centro de Brasília. Decidiu comprá-la e a apelidou de fazendinha. Virou a Fazendinha JK. Ali, ele plantou soja, arroz, café, eucalipto, na intenção de provar que o solo do cerrado era fértil. Espaço adquirido em 1972 equivale a 1.600 campos de futebol e tem jardins pensados por Burle MarxApós a morte de JK, em 1976, o espaço ficou para a família Kubitschek, que, oito anos mais tarde, vendeu a propriedade a Lázaro Servo, deputado estadual pelo Paraná, vítima de infarto em 1999. Durante esse tempo, os seis filhos, os 13 netos e os quatro bisnetos de Lázaro e dona Walkíria, hoje com 75 anos, cresceram naquele ambiente. A família conservou as características da mansão e os móveis. Agora, um projeto desenvolvido durante três anos se concretizou e as dependências estão acessíveis ao público. Grupos de arquitetos, historiadores e admiradores de JK do país inteiro descobriram a fazenda e estiveram nela ao longo desses anos de maneira esporádica e informal. Uma parceria entre a família Servo e o Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas do Distrito Federal (Sebrae-DF) permitiu o aperfeiçoamento das visitas. O passeio, que dura o dia inteiro, começa com um reforçado café da manhã colonial. Pães de queijo, bolo de fubá, leite e café são servidos na construção onde, inicialmente, funcionou a lavanderia de azulejos azuis e, depois, a casa de hóspedes da fazenda. Nas paredes desse primeiro ambiente estão quadros de fotos em preto e branco da época da construção de Brasília, de JK e de dona Júlia, mãe de Juscelino. Um dos cinco cômodos abriga o escritório de JK, mobiliado com a cadeira que ele usou quando governou Minas Gerais e duas máquinas de escrever. Do lado de fora, a Mercedes 63 usada na campanha presidencial ainda exibe a placa amarela, os pneus originais, bancos de couro e volante de osso. Mesa de pedra A mansão inaugurada em 12 de setembro de 1974 ganhou o nome de dona Sarah, com quem Juscelino se casou. No quintal, ele costumava reunir os amigos para almoçar ao redor de uma mesa de pedra. Na sala de jogos e na discoteca, JK organizava festas regadas a pinga e embaladas por violeiros. A mesa de pôquer, com 11 cadeiras, continua intacta. As prateleiras são enfeitadas por presentes que o estadista recebia, como uma porcelana japonesa e uma licoeira com os traços do Palácio da Alvorada. Os vidros envelhecidos e o tom alaranjado estão por toda parte. Eram moda na época. As varandas e os janelões de madeira lembram as típicas construções mineiras. A biblioteca com 1,5 mil livros contém obras de cabeceira de JK, incluindo publicações rascunhadas por ele na época em que fez pós-graduação em medicina em Paris. ;São obras únicas, que só existem aqui;, destaca Rosana Servo, 40 anos, esposa de Antônio Servo, 41, administrador da fazenda. Uma lareira divide as salas de estar e jantar, de onde é possível ver o jardim com estilo de bosque e uma das cinco represas, todas com água potável. Nas paredes, pinturas de diversas cidades brasileiras, principalmente de Ouro Preto e Diamantina, em Minas. Por um corredor de carpetes verdes, chega-se às quatro suítes. Três são iguais: armários revestidos com papel de parede floral, banheiros brancos e duas camas de solteirão, com colchões semiortopédicos sob um colchonete de 3cm ; exigência de dona Sarah. O quarto onde Juscelino dormia abriga uma cama de casal de pelo menos 80 anos, um crucifixo e um terço pregados na parede e uma maleta de pôquer. Na cozinha, fogão industrial de seis bocas e panelas de pedra sabão. Depois do almoço no quintal da casa, à beira da piscina de 1,7m de profundidade, os visitantes seguem em caminhada de 2km ; quem preferir pode ir de carro ; até o mirante identificado por uma cruz. Lá, onde até hoje se pode ver as luzes de Brasília, como JK queria, foi construída uma capela dois anos após a morte dele. Perto do pequeno templo, o grupo é convidado a curtir o canto das seriemas no bosque onde JK construiu uma churrasqueira e mandou que colocassem outra mesa de pedra para se reunir com os amigos. » QUANDO IR As visitas guiadas à Fazendinha JK são de terça a domingo e precisam ser agendadas com antecedência. Cada grupo pode ter até 40 pessoas. O passeio começa às 9h e segue até o fim da tarde, com direito a café da manhã, almoço, lanche e banho na represa. O preço por pessoa varia de R$ 80 a R$ 100. Crianças de até sete anos não pagam. Chega-se até a fazenda pela BR-040, entrando pela avenida principal de Luziânia até o Parque de Exposições. De lá, pega-se estrada de terra. Outras informações pelo site www.fazendinhajk.com. » Áudio: ouça entrevista com administradores da fazenda

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