Ana Dubeux
postado em 20/05/2012 09:00
Sabe aquele time que flerta com as novas tecnologias, mas mantém uma distância respeitável? Pois é. Sempre partilhei da ideia de que é preciso ter certo domínio para confiar plenamente, mergulhar de cabeça. Então, por algum tempo, fiz as vezes de peixe morto diante do clamor da internet, não sem muita vontade de ir além da arrebentação. Nas últimas duas semanas, tive mais uma prova de quão respeitosa precisa ser a relação das pessoas e dos meios de comunicação com as redes sociais, em especial com esse microblog de impressionante repercussão chamado Twitter. Explico o porquê.
Na última sexta-feira, a equipe do Correio decidiu levar ao extremo a campanha que começou nas páginas do jornal pelo fim dos salários extras para parlamentares %u2014 já aprovado no Senado e que aguarda decisão da Câmara dos Deputados. Reproduzimos na manchete do jornal a hashtag #AbaixoAMordomia, que na quinta-feira já havia sido tuitada pelos artistas Maria Paula, Welder Rodrigues, Elisa Lucinda e várias outras pessoas que aderiram à ideia de ver sepultada uma benesse que não tem nenhuma razão de ser ou justificativa. A ideia da manchete era dar uma nova dimensão ao diálogo habitualmente difícil entre os meios impresso e virtual. É normal ver a manchete dos jornais e revistas nos sites, mas é incomum ver a linguagem das redes sociais em letras garrafais numa folha de papel jornal. Deu certo. Foram mais de 500 mil visualizações ou reenvios do protesto on-line, que hoje é excelente mecanismo de pressão popular.
Se o jornal é visto como um senhor respeitável e sério, o Twitter é ainda aquele menino sem papas na língua %u2014 bem-educado, presta excelentes serviços; mal usado, provoca estragos inimagináveis. Até por isso, fui desde o início uma tuiteira eventual. Recentemente, no entanto, tive outra prova da força da rede. Há 15 dias, usei menos do que o limite de 140 caracteres para levantar suspense sobre uma informação passada por uma fonte antiga, respeitada e de extrema confiança. Tuitei %u201CBrasília vai tremer%u201D para meus poucos seguidores. Pois Brasília tremeu mesmo, não com o fato em si, que não chegou (ainda) a virar 2 na escala Richter, mas com a apreensão, o medo e a desconfiança.
Os colegas de trabalho, óbvio, perguntaram imediatamente do que se tratava. É naturalíssimo. Queriam confirmar e repassar para seus jornais, revistas, rádios, sites, se fosse o caso... Mas curioso mesmo foi o desespero de alguns políticos, autoridades, líderes sindicais etc. As redes sociais são, hoje, um instrumento de trabalho e uma fonte inesgotável de pautas, mas muitos as usam para medir o grau de conhecimento sobre as próprias falcatruas. O que teve de gente ligando para fazer discurso de habeas corpus preventivo, forjando álibis, confessando relações extraconjugais, até pedindo desculpas, não foi brincadeira.
Do episódio, ficou a dupla lição: a inquestionável força do Twitter e a certeza de que Brasília é uma cidade ainda assombrada pelos segredos e pela ansiedade de quem os têm, embora sem a certeza de que estão bem guardados.