Ainda um sonho

Aquele dia foi um ponto de virada, diz fundador de entidade de Luther King

Clayborne Carson foi responsável por produzir uma compilação de documentos do líder do movimento de direitos civis nos EUA

postado em 26/08/2013 09:25
Claynorne Carson Clayborne Carson, 69 anos, professor de história da Universidade de Stanford, é uma espécie de guardião dos documentos de Martin Luther King Jr. Em 1985, ele recebeu um telefonema de Coretta Scott King, viúva do ativista, convidando-o a editar e publicar os textos. Foi ele o responsável por produzir uma compilação de seis volumes de discursos, sermões, correspondências, publicações e escritos inéditos do líder do movimento de direitos civis nos EUA. Em entrevista ao Correio, por e-mail, o fundador e diretor do Instituo de Educação e Pesquisa Martin Luther King Jr. ressaltou que a eleição de Barack Obama indica que os americanos começam a julgar o próximo não pela cor da pele, mas pelo conteúdo do caráter. ;Mas King estaria desapontado com o fato de que alguns cidadãos não receberam a permissão de ter oportunidades iguais às de outros;, destacou o maior especialista em Martin Luther King Jr. Carson tinha apenas 19 anos quando foi ao Lincoln Memorial, em Washington, e ouviu o famoso discurso I Have a Dream (;Eu tenho um sonho;). Sentiu que sua vida mudou a partir dali.

Qual foi a parte do discurso de Martin Luther King Jr. que o senhor mais considera simbólica?
O pronunciamento de King na marcha foi um grande discurso, porque reuniu matérias-primas extraídas das tradições políticas e religiosas dos EUA. Ao começar com a Proclamação de Emancipação (assinada pelo presidente Abraham Lincoln, aboliu a escravidão) e o Discurso de Gettysburg (proferido por Abraham Lincoln, em 1863, no qual ele exaltou o igualitarismo) e terminando com o espiritual escravo (canção de liberdade do movimento dos direitos civis) Free at last, King contribuiu para a continuação do diálogo sobre o significado da liberdade e da democracia. King se engajou num diálogo simbólico com Thomas Jefferson sobre se os Estados Unidos realizariam a promessa da Declaração de Independência. Ele disse: ;Eu tenho um sonho de que um dia essa nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença ; nós celebramos essas verdades como uma autoevidência de que todos os homens são criados iguais;.

O senhor acredita que Martin Luther veria seu sonho transformado em realidade, caso estivesse vivo?

Ele estaria desapontado com o fato de que alguns americanos não receberam a permissão de ter oportunidades iguais às de outros americanos para perseguirem a meta de ;felicidade; de Thomas Jefferson. Durante os últimos anos de sua vida, King focou sua atenção nos problemas econômicos enfrentados pelas vítimas de discriminação racial, mesmo após a aprovação das leis de direitos civis. Ele levou uma Campanha de Povos Pobres para demandar que os Estados Unidos eliminassem a pobreza. No entanto, 50 anos depois, muitos americanos ainda estão pobres. Ele ficaria desapontado com o fato de que líderes políticos da atualidade, mesmo o presidente Obama, dão pouca atenção a esse tema.

Quais foram os mais importantes avanços da sociedade americana no combate ao racismo?

A vitória mais importante da luta pela liberdade negra da década de 1960 foi ter colocado fim ao sistema de segregação racial sulista e à discriminação, estabelecida depois da Guerra Civil Americana (1861-1865). Não há mais placas com os dizeres ;Para brancos somente; nos Estados Unidos. Quando eu era um adolescente, não podia imaginar tornar-me um professor de história em Stanford, e não poderia imaginar que um presidente afro-americano se tornaria presidente dos Estados Unidos.

O senhor acredita que Martin Luther King Jr. estaria muito orgulhoso por Obama?

O doutor King certamente estaria satisfeito com o fato de os americanos terem eleito o primeiro presidente afro-americano da nação. As eleições de 2008 foram um importante passo rumo a uma nação em que os candidatos políticos serão julgados pelo conteúdo de seu caráter, não pela cor de sua pele. No entanto, a maioria dos norte-americanos brancos não votou em Obama. A maioria dos eleitores brancos e negros não tem votado pelo mesmo candidato presidencial desde 1964.

O senhor poderia descrever o que sentiu durante o discurso?
Ainda que as pessoas que participaram da marcha fossem estranhas, eu senti que tomar parte dela me colocou mais próximo de um grande movimento, o qual eu admirava a distância. Aquele dia foi um ponto de virada na minha vida. Depois, eu tive um novo senso de propósito. Eu não acho que estaria onde estou agora se não tivesse participado da marcha. Eu não acho que estaria ensinando história afro-americana em Stanford ou editando os documentos de Martin Luther King Jr. (RC)

As eleições foram um importante passo rumo a uma nação em que os candidatos serão julgados pelo conteúdo de seu caráter, não pela cor de sua pele;.

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