Rodrigo Craveiro
postado em 26/08/2013 09:31
Quando o senador Barack Obama subiu ao palco do Grant Park (Chicago), em 5 de novembro de 2008, milhares de negros derramaram lágrimas de emoção. Diante deles, o democrata se tornava o primeiro presidente afro-americano da história dos Estados Unidos. Um acontecimento considerado impossível poucas décadas atrás, ante a segregação racial. ;Se existe alguém por aí que ainda duvida que a América é um lugar onde todas as coisas são possíveis, que ainda se pergunta se os sonhos de nossos fundadores continuam vivos em nossa era, que ainda questiona o poder de nossa democracia, esta noite é sua resposta;, declarou Obama, naquela ocasião. Quatro décadas e meia antes daquela noite histórica, o ativista Martin Luther King Jr. falava de seus sonhos e confrontava a sociedade racista. Para especialistas e militantes, Obama só chegou à Casa Branca porque King ;pavimentou; o caminho. Mas, a despeito do simbolismo de um negro no controle da maior potência do planeta, eles creem que King alternaria, hoje, sentimentos de orgulho e de decepção.Aluno de King no Morehouse College, em Atlanta, e também líder do movimento de direitos civis, Julian Bond aposta que o ativista mostraria insatisfação, se vivo estivesse. ;Martin Luther King Jr. estaria desapontado com a falta de progresso que temos feito e feliz com os ganhos que tivemos ; especialmente a eleição e a reeleição do primeiro presidente negro. Mas, sobretudo, insatisfeito;, admitiu ao Correio, por e-mail. Em 28 de agosto de 1963, Bond estava no Lincoln Memorial, em Washington, e viu King declamar o discurso I Have a Dream (;Eu tenho sonho;). ;Eu o tinha escutado muitas vezes antes e estava feliz por seu discurso. Mas não foi uma revelação para mim;, acrescentou Bond.
Se King não media palavras para atacar os segregacionistas e cobrar melhorias para os afro-americanos, Obama raramente cita o tema racial. Um dos poucos e mais emotivos discursos do presidente sobre o assunto abordou a morte de Trayvon Martin, um negro de 17 anos executado pelo branco George Zimmerman. ;Trayvon Martin poderia ter sido eu, 35 anos atrás. E, quando você pensa sobre o motivo de, na comunidade afro-americana, haver muita dor em torno do que ocorreu, eu acho que é importante reconhecer que a comunidade afro-americana está olhando para esse tema por meio de um conjunto de experiências e histórias que não vai embora;, declarou Obama, em 19 de julho passado.
;Salvo poucas exceções, como a fala sobre o caso Trayvon Martin, Obama tem buscado evitar tratar do tema da discriminação racial ou da desigualdade;, disse Guian McKee, professor de políticas públicas da Universidade da Virgínia. Segundo ele, o presidente não quer dar aos rivais a chance de rotulá-lo como ;um homem negro raivoso; ou ;radical;. ;Isso limitou-lhe a habilidade de resolver os problemas que King enfatizaria;, acrescentou. McKee acha que o ativista ficaria ;tremendamente; orgulhoso por Obama e pelo progresso inquestionável representado pelo governante. No entanto, avalia que King desafiaria o democrata a ser mais agressivo na abordagem da desigualdade econômica. ;Ele trabalharia duro para fazer com que Obama estivesse à altura de sua retórica;, emendou.
Vorris Nunley, especialista em retórica pela University of California, Riverside, concorda que King ficaria desapontado com o fato de Obama recusar-se a debater o tema racial. ;Ao contrário da noção de esperança de Obama, que se dissolveu em ruínas, a visão de King ganhou energia, criou espaços de possibilidades.; Um dos organizadores da Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade, de 1963, Courtland Cox prevê que Obama tentará desenvolver políticas as quais ele crê que beneficiarão todo o país. ;Ele não defenderá medidas desenhadas especificamente para a comunidade afro-americana.;