Ainda um sonho

"A sociedade mudou", diz Joaquim Barbosa em artigo no Correio Braziliense

postado em 27/08/2013 06:04



Por Joaquim Barbosa

Houve uma mudança radical na sociedade americana de 1963 para cá. Atualmente, há uma sociedade completamente diferente. Posso citar uma série de mudanças cruciais que ocorreram no país.

Em primeiro lugar, a Lei de Direitos Civis, editada em 1964, que assegurou uma série de direitos que eram negados aos negros. Essa lei tem capítulos específicos relativos à integração do negro nas escolas, nas empresas. Ela cria entidades para execução dessas medidas, com possibilidade de punição para quem se recuse a cumpri-las. Isso significou o fim da segregação ;legal; que havia em vários setores. Isso sem falar na segregação nas escolas, abolida por uma decisão da Suprema Corte de 1954.

Tivemos também a questão do voto. A chamada ;voting rights; é uma lei de equalização que coloca os negros em pé de igualdade com os brancos no que se refere ao processo eleitoral, o que não existia antes. Essa lei desce a detalhes como a definição de circunscrições eleitorais, impedindo que os eleitores negros ficassem confinados a determinadas localidades, e assim não conseguindo eleger seus representantes. Como decorrência dessa lei é que há nos EUA milhares de negros eleitos para os mais diversos cargos públicos. Note-se que nos EUA a eleição para cargos públicos é muito mais ampla que no Brasil. Lá, são eleitos até mesmo juízes, promotores, chefes de sistema educacional, xerifes e chefes de polícia de certos condados.

Outra questão importante que aconteceu nos últimos 50 anos e que considero crucial foram as ações afirmativas, criadas para a inclusão de negros nas universidades. O resultado mais concreto dessa medida é visível no mundo inteiro: Barack Obama. Mas não é só o presidente; há nos EUA um grande número de negros nos mais diversos cargos eletivos. Não é difícil encontrar nos Estados Unidos negros que sejam altos executivos e que ocupem posições importantes em médias e grandes empresas.

Apesar de todos esses avanços, o discurso de Luther King continua atual, pois ainda há muito a fazer.

Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)



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