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Profissionais da capital contam como contribuem na arquitetura da cidade

De grandes construções a publicações de livros, elas se destacam no mercado

Caroline Cintra - Especial para o Correio
postado em 21/04/2019 06:00
Luiza Dias (E), Hana Augusta e Júlia Mazzutti, do coletivo Arquitetas invisíveis protagonismo
"Eu nunca me casei. Não senti essa necessidade. Sou casada com a minha profissão e sou realizada com ela.; Essa é a declaração de uma das pioneiras da arquitetura em Brasília, Elza Kunze Bastos, 78 anos. Nascida em Poxoréu, em Mato Grosso, veio para Brasília com a família, em 1957. Passou boa parte da infância e da adolescência no norte do Paraná, rodeada de fazendas de café. Da época, lembra do cheiro do grão torrado e moído na hora da primeira refeição do dia. Ele vinha acompanhado de bolos e sonhos. O pai, farmacêutico, tinha 15 lojas.

Nos anos de 1954 e 1956, no entanto, duas geadas queimaram todos os cafezais da cidade. Então, em maio de 1957, a família de Elza decidiu se mudar com o que restou das drogarias para Brasília. A residência dos Kunze foi a quarta a ser construída no Núcleo Bandeirante. No local, também inauguraram a farmácia Noturna. ;O comércio funcionava de dia e de noite. Com a construção de Brasília, havia muitos acidentes de trabalho. Tinha também muita gripe e diarreia, porque o pessoal se alimentava mal, comia fora de horário. Então, tinha muito atendimento;, lembra a arquiteta.

Na construção da capital, Elza gostava de assistir às obras. ;Era lindo ver a solda da estrutura metálica dos ministérios. À noite, as faíscas brilhavam. O enchimento do lago Paranoá também era encantador;, recorda. Toda a curiosidade e encantamento contribuíram para a futura arquiteta e urbanista entender como se projetava e erguia uma cidade.

Em 1962, ela prestou o primeiro vestibular da Universidade de Brasília (UnB) e passou para o curso de arquitetura e urbanismo. Lembra até hoje o número da matrícula: 79. Cheia de criatividade, em 1964, começou a trabalhar como desenhista no Departamento de Água e Esgoto (DAE), hoje Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). Depois, foi contratada como arquiteta. Ficou no órgão até 1973.

Passou no concurso do Ministério do Interior, onde atuou por 26 anos na Superintendência do Centro-Oeste (Sudeco) e na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Foi premiada pela melhor construção pública de 1976 pelo projeto do edifício-sede da Codevasf.

De grandes construções a publicações de livros, elas se destacam no mercado "Esta é a cidade que eu amo, que conheço, que ajudei a construir e que sinto, de fato, ser minha. E que, por esse amor a ela, mesmo hoje sendo aposentada, optei por continuar vivendo. Não tenho vontade de sair daqui de jeito nenhum", declarou a arquiteta.

Valorização

Você já parou para pensar quantas referências femininas há na sua profissão? Quantas profissionais da área se estudou durante a graduação? Foram esses questionamentos que acenderam a reflexão em sete estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB. Elas perceberam que o repertório de arquitetas estudadas em aula era pequeno e iniciaram extensa pesquisa.

Com o resultado, o grupo criou o Coletivo Arquitetas Invisíveis, inaugurado oficialmente em 8 de março de 2014, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. O intuito do grupo é promover a igualdade de gênero na profissão por meio de reconhecimento e divulgação da vida e obra dessas profissionais.

No primeiro momento da pesquisa, o coletivo identificou 27 mulheres em destaque na arquitetura. Hoje, são 90 nomes. ;Vimos que elas estavam sempre presentes na arquitetura, inclusive atuavam com grandes arquitetos da história, como Le Corbusier e Mies van der Rohe. Elas colaboram para o trabalho deles, são coautoras dos projetos e ninguém nunca fala disso;, conta Hana Augusta, 28. Além de Hana, estão à frente do coletivo Luiza Dias, Gabriela Cascelli, Lara Pita, Raquel Freire, Alyssa Volpini e Júlia Mazzutti.

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