Brasilia Capital do Rock

Artistas de Brasília relembram tempo em que cidade era a capital do rock

postado em 05/03/2013 06:08



Marielle Loyola
Vocalista // Escola de Escândalo, Arte no Escuro e Volkana

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"Fui a única vocalista mulher de bandas brasilienses. No começo, a gente sentia que chamavam para ter a figura feminina. Mas depois que você mostra que sabe fazer uma coisa legal, o tratamento muda. A Escola teve respaldo nacional, o Arte do Escuro também. O que acabou com a cena foi a chegada de um novo estilo no mercado, que congelou o rock nacional. A cena nunca mais voltou. Não foi a falta de opção de bandas de qualidade. Em Brasília, conseguíamos falar de política em forma de poesia. Além disso, um dos diferenciais do rock daqui foi a união dos estilos. Na época, não sabíamos disso, mas hoje vejo que é respeito."


Paulo Cesar Cascão
Vocalista // Detrito Federal

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"Existia Plebe, Capital e Legião, e a geração posterior, que gravou o Rumores e a banda Arte no Escuro. O Detrito teve reconhecimento grande aqui e conseguiu irradiar isso para Rio e São Paulo. Fizemos o circuito de danceterias dessas cidades, programas de televisão. Mas quem abriu as portas foram Renato Russo e companhia. Essa música de Brasília reflete muito o estado antimilitarista que a gente vivia. É um pouco de romantismo, mas a gente queria derrubar tudo. Fomos a confirmação de que existia uma música diferenciada daquela feita pelo resto do Brasil. E as bandas daqui não se pareciam entre si, mesmo saindo do mesmo núcleo."


Geraldo Ribeiro
Baixista //XXX e Escola de Escândalo

"O punk rock é fácil de fazer, e é uma música de protesto. Tem a ver com a pouca idade e o fato de morar perto do poder e poder criticar. Teve de tudo aqui em Brasília. O rock era radical: cada um levava um instrumento, arrumava uma tomada e tocava, às vezes sem autorização de ninguém. Meu grupo era o da Colina. A gente sempre se reunia lá e não tinha tanto contato com os outros."


Fernando Jatobá
Guitarrista // Capacetes do Céu

"Os adolescentes ouviam muita música em casa. Mas, quando o vimos o Projeto Cabeças na rua, aquela coisa democrática, nossa vontade de tocar aumentou. Havia, sim, oportunidade e espaço para mostrarmos nossas ideias. Em apenas uma quadra, tinha tais, tais e tais bandas. Para se tocar, tinha que ter carteira de músico. Era sério, não como hoje. Lembro-me que fui na Ordem dos Músicos, perto da metade da década de 1980, e já tinha umas 40 bandas de rock da cidade registradas. Esse número foi só crescendo. Havia uma cena nas outras cidades do DF também. Em Taguatinga, por exemplo, o movimento era forte. Tinha o Teatro Rolla Pedra. E havia um intercâmbio. Lembro-me da banda 5 Generais, de lá, com quem a gente trocava uma ideia."


Mário Salimon
Vocalista // Fama

"Fui aos porões e garagens para ver ensaios, testemunhei uma comunidade musical muito forte %u2014 que até hoje existe e insiste, a despeito das dificuldades. Viemos para Brasília por que existia espaço para a gente. Nossa aspiração maior era gravar um disco, e a possibilidade parecia maior se estivéssemos aqui. Fomos vendo os eventos ficarem cada vez mais sofisticados. E houve uma resposta da imprensa. A música era até simplória, mas o conteúdo das letras chamou a atenção. Somos uma capital de tudo, na verdade, do melhor e do pior. O rock foi importante em determinado momento, por ser um veículo forte, mas não era a única coisa que estava acontecendo, foi só a pontinha do iceberg. Não podemos seguir vivendo daquela época. É importante fazermos o fechamento de tudo aquilo e começarmos a pensar no futuro."


Luiz Carlos Ramos
Guitarrista // Pôr-do-Sol e W3

"Encontrei o Renato Russo tipo um ano antes de ele morrer. Ele me disse, em tom de deboche, que o Pôr-do-Sol era arquiinimigo da Legião. Eu argumentei que não tinha nada disso e o lembrei das várias vezes que dividimos o palco juntos. Daí ele comentou que, na época, tinha inveja da gente, por que tocávamos em todos os lugares. E, no fim, soltou: ;A verdade é que o nosso som está cada vez mais parecido com o que vocês faziam;. Em Brasília, a galera se reunia embaixo dos blocos, ou para a garagem de alguma casa, e pegava o violão. O acesso à informação era muito e o poder aquisitivo também. Fazer música é um pouco dispendioso. O cenário musical brasileiro motivou o surgimento de outras bandas."


Militão Ricardo
Baterista // Banda 69

"Não tinha essa facilidade para comprar instrumentos, como hoje. Mas quem gostava muito de música corria atrás. A Banda 69 se apresentou em público pela primeira vez na UnB, no Restaurante Universitário. Na semana anterior, havia tocado lá o Aborto Elétrico e os Metralhaz, as primeiras bandas punks da turma da Colina. Fizemos muitos shows em conjunto, por conta da escassez de instrumentos. Havia um intercâmbio. O Mel da Terra foi a primeira banda que ficou famosa na cidade, que juntou um público grande. Era rock, sim, os punks é que tinham mania de dizer que não era. O Liga Tripa, a atitude deles é a mais roqueira possível. Quer coisa mais contracultural do que aquilo? A cidade era pequena, todo mundo se conhecia. A cidade era um vulcão cultural, privilegiada, todo mundo sente saudade."


João Vicente
Vocalista // 5 Generais

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"Todo mundo acabou virando músico por causa dessa história do faça você mesmo. Eu nunca fui entendido de música. Mas era uma tentativa de falar o que a gente queria. Fomos aprendendo e transformando aquela coisa agressiva em outra mais melódica. Os shows eram de graça, não para ganhar dinheiro. O público era basicamente universitário e tinha muita gente das satélites também, o que eu só vim a saber depois. Participamos do disco Rumores 2, que nunca foi lançado. Fomos uma das primeiras bandas góticas do país."



Victor Babu Lizarraga
Guitarrista // Peter Perfeito, Diamante Cor de Rosa e Detrito Federal

[SAIBAMAIS] "Éramos todos adolescentes, e é característico da adolescência se juntar. O que nos uniu foi a música. Na época, voltavam os exilados políticos e seus filhos, com discos e modismos de fora. Aquilo caiu como uma luva para a gente. A gente nasceu sobre um regime autoritário e, de repente, podia fazer tudo. Então, a gente queria o máximo. Testar a sociedade, inovar na roupa, na música. As pessoas que tinham essa necessidade de transgredir se juntaram. Éramos punk, mas diferentes dos de São Paulo. Tinha mais a ver com ideologia. Nosso ídolos eram músicos %u2014 The Clash, Ramones, The Damned, Stiff Little Fingers%u2026 A gente queria se diferenciar das mesmice que existia por aí. Nossos hormônios e nossa vontade de aparecer e ser alguém nos fez seguir esse caminho."

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