<a style="cursor: default">Amanda Almeida - Estado de Minas</a><br /><a style="cursor: default">Paulo Augusto Gomes - Especial para o Estado de Minas <br /><br />Distantes das passarelas de samba, mas curtindo mais que qualquer um a liberdade do carnaval. Um grupo de mulheres que cumprem pena na Penitenciária Estêvão Pinto, no Bairro Horto, na Região Leste de Belo Horizonte, ajudou a preparar a folia da capital. No presídio, nove detentas confeccionaram alegorias, adereços e fantasias para a escola de samba Grêmio Recreativo Chame Chame, terceira colocada no carnaval do ano passado. Ontem (3/2), parte do grupo entregou 300 peças para o desfile previsto para o dia 15. As sete presas aproveitaram o passeio para entrar na roda de samba na quadra da Chame Chame, no Bairro Salgado Filho, Região Oeste de BH. Ao som do samba-enredo ;Brasil e seus impérios;, elas finalizaram alguns apetrechos da ala das baianas. <br /><br />As presas foram acompanhadas por duas costureiras profissionais. ;Foi um prazer trabalhar com elas. Quando nos reuníamos, parecia carnaval. Mas não se esqueciam da obrigação e caprichavam nos detalhes dos adereços;, relata a costureira Telma Gualberto. As detentas do projeto foram escolhidas por demonstrar habilidade com a agulha ou boa vontade de aprender o ofício. As oficinas, que começaram como passatempo para as presas, transformaram-se em proposta de mudança de vida. <br /><br />;Cometemos alguns desvios na nossa vida, mas a oportunidade de construir uma história diferente está na nossa mão e vamos aproveitá-la. Aprender a costurar me deu vontade de crescer. O resultado é que, nas próximas semanas, começo curso de direito. Já me sinto mais aceita pela sociedade;, comemora Estefânia Amaral de Oliveira, de 34 anos. Enquanto aprendia a costurar, ela estudava na biblioteca do presídio para o vestibular. Passou em quarto lugar para direito no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, parceira com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), junto com mais duas colegas de prisão, que serão levadas diariamente ao centro para estudar. Em seis meses, ela acaba de cumprir a pena e vê na costura uma boa forma de ganhar dinheiro, enquanto termina a faculdade. <br /><br />A detenta Naiani Teixeira de Lima, de 23, também passou no vestibular, mas no momento só pensa no carnaval. É o segundo ano em que ela contribui com a alegria do Chame Chame. Ela considera que, mesmo estando presa, participará da festa. ;Ano passado vi um pouquinho da repercussão do desfile pela televisão e pelo rádio. Foi uma sensação muito boa saber que teve nossa mão ali. Morava perto da escola de samba, no Betânia, e me identifiquei ainda mais por isso. Quero desfilar com eles um dia;, conta a presa, que ficou satisfeita com o título de terceira colocada da escola. Para 2010, ela espera arrasar nas fantasias. ;Estamos na torcida e vamos vencer;, diz confiante. <br /><br />Ver a rua foi a maior emoção para a detenta Aldenice Rezende, de 42. Ela está presa há nove meses e conta que nunca sentiu tanta falta do movimento da cidade. ;Minha pena provavelmente termina em 2017. Então, essas oportunidades de ver um ambiente diferente fazem muito bem a mim;, explica. Na prisão, ela aprendeu a costurar, fez curso de auxiliar administrativa e está completando o ensino fundamental. ;Minha vida vai ser outra quando eu sair da prisão.; <br /><br />As detentas entraram na quadra da Chame Chame com muita intimidade. Com o samba-enredo na ponta da língua, elas lamentaram não poder desfilar, mas comemoraram a contribuição na festa. Segundo a diretoria da escola, o nome Chame Chame é um chamado para tudo que há de bom na vida. A escola surgiu em 2007, no Salgado Filho, e é composta, em sua maioria, por moradores da região. A expectativa é de que 600 pessoas participem do desfile. <br /><br />Além da satisfação por ocupar o tempo ocioso com o trabalho e os estudos, as presas também são beneficiadas pela Lei de Execução Penal (LEP). As que trabalham no presídio recebem três quartos do salário mínimo (R$ 382). Desse total, metade fica com elas e 25% são depositados numa conta bancária e só podem ser sacados quando forem soltas. Outros 25% vão para o estado, como forma de ressarcimento pelos custos de infraestrutura. Na parceria para o carnaval, as presas receberão a remuneração proporcionalmente ao número de dias trabalhados. A atividade garante ainda a remissão de pena. Para cada três dias de trabalho, é descontado um dia da pena.<br /></a>