Natal segue sem definições claras a respeito de sua própria identidade e cultura. E nas proximidades do Carnaval, as dúvidas ficam mais patentes. A música baiana ou os frevos pernambucanos percorrem cada quarteirão da cidade.
Um senhor chamado Dosinho recebe homenagens sem que a população reconheça sua fisionomia ou música. O desfile das Tribos de Índio ainda causa confusão. "Será que são índios mesmo?". Na "civilização" baiana, os trios elétricos, os blocos negros, o Afoxé Filhos de Gandhi, o pau elétrico. No Recife, o frevo, Alceu Valença, o bloco Vassourinhas, o autêntico carnaval de rua. Em ambos, milhões de pessoas procuram um carnaval já desenhado há décadas, enquanto Natal permanece mergulhada no mar das culturas alheias. Mas, qual o motivo?
O compositor e um dos grandes guitarristas da cidade, Kiko Chagas traz alguns porquês. O principal seria a falta de pagamento de direitos autorais aos compositores de Natal. "Como a música na cidade vai crescer dessa maneira? Uma música minha toca no município de Valença, na Bahia, e eu recebo. Se tocar na minha cidade não recebo nada. Qual o estímulo para os músicos daqui escreverem músicas de carnaval?". Uma das canções de Kiko Chagas, É Amor, foi interpretada pela banda Cheiro de Amor e tocada durante a última apresentação do Criança Esperança, na Rede Globo. "Essa música foi incluída na série Músicas do Século 20 (selo Polygram), no CD da banda. E eu pergunto: qual outra composição feita por potiguar teve sucesso na Bahia nos últimos 20 anos?".
Kiko aponta a falta de organização dos músicos potiguares como outro obstáculo ao crescimento do carnaval em Natal. Segundo o músico, todos deveriam estar unidos em busca de um escritório do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) instalado em Natal. O mais próximo é o do Recife.
Kiko afirma que os direitos autorais de cada música tocada aqui são pagos lá e não retornam ao bolso do compositor. "Junto com o Ecad, traríamos a Socinpro (Sociedade Brasileira de Administraçãoe Proteção dos Direitos Intelectuais) - uma espécie de fiscalizador do Ecad. O mais próximo também é no Recife. Fizeram em Goiás porque lá tem o Zezé de Camargo, o Leonardo. Precisamos nos unir aqui para trazer essas entidades e começarmos a valorizar o nosso músico".
A ausência de escritórios fiscalizadores como o Ecad e a Socinpro planta a cultura do empréstimo gratuito de canções. Compositores doam músicas a intérpretes em troca apenas do reconhecimento. Bandas populares como o Grafith, sem qualquer inscrição em entidades de proteção ao direito autoral vendem milhares de CDs e DVDs no mercado informal e deixam de recolher os direitos autorais que caberiam aos compositores dos seus sucessos. Para reverter essa situação, Kiko Chagas tem procurado fortalecer a Associação Potiguar dos Artistas e Compositores do RN (Apacirn), filiada à Associação Paraibana de Autores e Compositores (Apac), já ramificada em outros estados nordestinos. Esse seria o primeiro passo para melhorar a identificação da música potiguar.