Carnaval 2010

Blocos e escolas de samba apostam em inovações tecnológicas para se destacar no carnaval

Igor Silveira
postado em 12/02/2010 09:28
Uma das áreas internas do Demolidor 3, trio utilizado por Ivete Sangalo: avaliado em R$ 2,5 milhõesTerabytes de confetes lançados ao ar. Serpentinas de fibra ótica enfeitando as avenidas. Baterias recarregáveis marcando o compasso. As engenhocas tecnológicas ganham o carnaval e ajudam a levar mais brilho às ruas do país. Os altos investimentos feitos por escolas e blocos mostram que o ;maior show da terra; está mais profissional do que nunca. Entre carros alegóricos megalomaníacos, trios elétricos luxuosos, fantasias espetaculares e sistemas complexos de transmissão pela tevê, a tecnologia se faz cada vez mais presente e imprescindível para garantir o sucesso e a qualidade da festa. Quando começou a trabalhar em projetos de construções e montagens de trios elétricos, há 15 anos, o produtor de eventos Marcelo Borgerth encontrou um cenário ainda em processo de profissionalização na Bahia. Os blocos no carnaval de Salvador, que costumam arrastar milhões de pessoas para ruas, avenidas e vielas da capital baiana, perceberam a necessidade de desenvolver estratégias mais bem elaboradas. Segundo o produtor, hoje o trio elétrico, estrela maior da festa, tem uma roupagem moderna, com design arrojado. Na parte interna, cômodos cada vez mais luxuosos para agradar músicos e convidados. A potência e a qualidade do som estão em níveis elevadíssimos. ;A evolução nesse segmento é constante, desde os primórdios, com Dodô e Osmar (1). A complexidade na montagem de um bom trio elétrico é enorme, porque se trata de uma banda tocando em cima das caixas de som. Ou seja, algo totalmente diferente do convencional;, explica. A Grande Rio promete trazer o homem-foguete de volta à SapucaíAvaliado em R$ 2,5 milhões, o trio Demolidor 3 é o palco ambulante de Ivete Sangalo no carnaval deste ano. Os dias de folia ; além dos seis dedicados aos blocos, ela comanda o tradicional Arrastão, na quarta-feira de Cinzas ; serão animados por um som com 343,6 mil watts de potência. Tudo incluído em um veículo de 24m de comprimento que comporta palco, camarins e área para convidados. O interior do Demolidor 3 é inacreditável. O camarim de Ivete é equipado com três televisões com tela de LCD, home theater, acesso a 198 canais, internet wireless, adega climatizada de vinhos, luz de cromoterapia, ar-condicionado e chuveiro elétrico. Disputa saudável A disputa dos blocos por foliões é diretamente proporcional à tecnologia empregada nos trios elétricos. Todos os anos, são apresentadas novidades para garantir mais gente pulando dentro das cordas nas avenidas de Salvador. Portanto, não é só Ivete Sangalo que investe na estrutura dos trios. A banda Chiclete com Banana, por exemplo, arrasta uma multidão com o seu Tiranossauro Rex ; O Predador da Tristeza. O veículo conta, entre outras coisas, com uma moderna suspensão hidráulica projetada para corrigir a inclinação do trio. O vocalista Bell Marques costuma aparecer nas laterais do trio, sobre duas portas que, quando abertas, transformam-se em um mini palco. É ali, bem próximo dos foliões, que o cantor promove uma explosão de alegria entre os fãs do axé. Croqui mostra como será um dos carros alegóricos da Portela no desfile deste ano. Telões mostrarão fotos e mensagens enviadas pelo público por celular e via internetJá o Asa de Águia, liderado pelo irreverente Durval Lelys, também não fica atrás quando o assunto é modernidade. O trio do grupo, batizado de Dragão da Folia, tem números que impressionam: geradores com energia suficiente para iluminar uma cidade com 50 mil habitantes; 32m de comprimento, 69 amplificadores, 400 alto-falantes e camarote com capacidade para 150 convidados. O veículo é transportado em duas partes, que são unidas somente poucas horas antes do desfile. Na primeira, fica o camarote. A outra é destinada à banda e à equipe técnica. Com a mesma disposição que tinha há 14 anos, quando pulou o carnaval da Bahia pela primeira vez, a advogada Jamile Santos, 32 anos, é testemunha dos avanços tecnológicos nos trios elétricos. Ela conta que teve a oportunidade de sair em vários blocos ao longo do ano, o que, segundo ela, deu bagagem para falar das mudanças. ;As diferenças dos trios, entre os meus primeiros anos de avenida e os dias de hoje, são gritantes. Não são apenas os equipamentos de som que evoluíram, mas o formato, a iluminação, alguns acessórios periféricos e o conforto para os artistas;, ressalta. Jamile percebe uma disputa clara entre os blocos para decidir quem levará o melhor trio elétrico à avenida. ;É uma briga saudável, e nós, foliões, saímos ganhando com a beleza do espetáculo;, garante. Na Sapucaí O sambódromo do Rio de Janeiro, na lendária Avenida Marquês de Sapucaí, é um dos cartões-postais do Brasil. Lá, o mundo se encanta com o espetáculo produzido pelas escolas de samba que desfilam, tradicionalmente, no domingo e na segunda-feira de carnaval. A beleza das mulatas e os sambas empolgantes são apenas alguns dos ingredientes que alimentam a popularidade da festa. A tecnologia usada com enorme criatividade é um catalisador importante para atrair o público. As agremiações não economizam na preparação dos enredos. Uma prova disso foi dada, em 2001, pela Grande Rio, que surpreendeu público e jurados com um homem voando sobre a avenida equipado com um foguete nas costas. O aparelho, pilotado pelo dublê norte-americano Eric Sott, custava US$ 120 mil. A escola não ganhou o título, mas as imagens entraram para a história. Este ano, a Grande Rio promete trazer o homem-foguete de volta à avenida, ao fazer uma retrospectiva de seus melhores desfiles. Neste ano, como não podia deixar de ser, outros artifícios tecnológicos serão utilizados na Sapucaí. A Portela está apostando em um carro cujo sistema custou cerca de R$ 1 milhão. O veículo trará cinco telões de LED com 4m de largura e 3m de altura. Por meio dessas telas gigantes, serão exibidas fotografias e mensagens de pessoas espalhadas por todo o planeta. As informações vão ser enviadas para uma página eletrônica (2) criada especialmente para a ocasião e, depois de filtradas, serão exibidas ao longo do desfile. Os responsáveis pela escola calculam que, entre fotos e mensagens, 14 mil arquivos serão divulgados. ;É uma ideia que pode fazer a diferença no resultado final;, aposta Alê Alves, vice-presidente de criação da Pepper, uma das empresas que desenvolveram o projeto. As escolas não são as únicas a investir em tecnologia durante o carnaval. A Rede Globo embarcou na onda das imagens em três dimensões e, pela primeira vez, o carnaval será transmitido em 3D. As exibições serão restritas a alguns camarotes do sambódromo carioca porque esta será uma oportunidade de testar o modelo para futuras transmissões com o uso da nova tecnologia em televisão. Outra novidade é a maior mobilidade de repórteres e cinegrafistas. Eles estarão conectados a microlinks, um equipamento que permite a entrada ao vivo sem a necessidade de cabos. 1 - Da fubica ao trio Os músicos Adolfo Nascimento e Osmar Macedo se conheceram em um programa de rádio no fim da década de 1930. Durante o carnaval de 1950, com o objetivo de amplificar o som de seus instrumentos de cordas, a dupla Dodô e Osmar criou a fubica, que na verdade era um Ford 1929 que transportava banda, instrumentos e equipamentos de som. No ano seguinte, a ideia foi aprimorada com a entrada de um terceiro músico no grupo. Estava criado o trio elétrico. O líder do Chiclete com Banana, Bel Marques, utiliza uma plataforma que o aproxima do público 2 - Participe na avenida Para mandar fotografias e mensagens para o carro da Portela, terceira escola a desfilar na segunda-feira, acesse o site www.positivopranacao.com.br ou envie um SMS para o número 49137, escreva a palavra portela e, em seguida, a frase que deseja ver exposta na avenida. O custo de envio é de R$ 0,31 mais impostos.

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