postado em 15/02/2010 17:36
A segunda-feira de carnaval é dia de Mudança do Garcia na capital baiana. O tradicional e ;desorganizado; bloco, que mistura partidos políticos, movimentos sindicais e sociais, outros blocos carnavalescos, carroças puxadas por cavalos e muito protesto político, lotou, no início da tarde de hoje (15), as ruas do bairro Garcia em direção ao circuito Campo Grande, onde desfilam entre os trios elétricos Chiclete com Banana, Banda Eva e Banda Cheiro do Amor.Milhares de pessoas participam do Mudança do Garcia, que não cobra abadás e não é limitado por cordas. Nesse bloco, a criatividade é o limite. Podem participar pessoas com ou sem fantasias, com ou sem faixas, em grupos ou sozinhas.
Faixas de protesto criticavam a política educacional na Bahia e a política nacional. Algumas alertavam para a violência contra a mulher. ;Na Bahia de Todos os Santos, Encanto e Axé, não cabe a violência contra a mulher. Ligue 180;, dizia uma delas. Outras faixas diziam: ;O pré-sal é nosso;, ;Arruda: a Justiça é cega, mas não é muda. O seu lugar é na Papuda;, ;Não basta prender o governador do Distrito Federal. Tem que dar uma injeção de cupim na sua cara de pau; e ;Congresso Nacional: Olimpíadas da Corrupção, da Impunidade e da Omissão;.
;A Mudança do Garcia é um movimento que, segundo livros de escritores aqui da Bahia, resiste desde 1927;, disse o coordenador de comunicação do bloco, Bob de Carvalho. Segundo ele, antes do nome definitivo, que surgiu por volta de 1958, o Mudança de Garcia já foi denominado Ranca-Toco e Faxina do Garcia.
A história mais popular sobre o surgimento do bloco diz que ele foi inspirado na história de uma prostituta que decidiu se mudar do bairro, no centro da cidade, em uma segunda-feira de Carnaval, depois de ter sido expulsa pela elite da época, que se sentia incomodada com sua presença.
;Um belo dia, ela [a prostituta], aproveitando-se de uma segunda-feira de carnaval, que era um dia morto, fez sua mudança. Meninos viram e espalharam [a notícia] e, no ano seguinte, foi feito esse movimento repetindo o percurso [que ela teria feito]", contou Carvalho.
Segundo ele, o bloco sempre usou o lema "Não erre o ano inteiro que você não vai sair na Mudança;. Neste ano, os principais homenageados foram o governador afastado do Distrito Federal José Roberto Arruda, o prefeito de Salvador, João Henrique, por causa da obra do metrô ;que não sai;, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, de acordo com os manifestantes, sempre repete a frase: ;Só sei que nada sei;.
Em todos esses anos de carnaval, o Mudança de Garcia foi às ruas com carroças puxadas por animais, faixas e muita irreverência. A partir do próximo ano, no entanto, os animais não poderão mais participar do desfile. ;A Sociedade Protetora dos Animais e algumas ONGs [organizações não governamentais] e a OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] resolveram que os animais não deverão mais sair;, explicou.
Um dos que saíram este ano no Mudança foi Xico Pontes, vestido com uma das fantasias do bloco As Muquiranas. Ele disse que sai no bloco ;desde pequenininho;. ;Ele [o bloco] representa a minha cultura, a minha raça, a minha vida, a minha infância;, afirmou.
Fantasiada de Nega Maluca, Célia Maria aguentava o forte calor de Salvador pelo prazer do carnaval. ;É gostoso demais sair e se divertir no Mudança do Garcia.;
O bloco tem ainda espaço para pessoas de outras cidades. ;Venho há 11 anos. Sou Filhos de Gandhy [tradicional bloco de Salvador] e venho para o Mudança porque acredito que aqui está a natureza. A fantasia aqui é a alegria. O que aqui parece irreverência é um recado do povo para os governantes;, disse Alair Fernando das Neves, que veio de Cuiabá.