postado em 16/02/2010 09:18
Na segunda noite de desfile do Galinho da Madrugada, bloco que homenageia o carnaval pernambucano, o protesto político deu o tom. Integrantes do movimento Fora Arruda, munidos de carros alegóricos compactos, camisetas e um boneco do governador em exercício, Paulo Octávio, fizeram muito barulho. No mesmo espaço físico, uma ala de mulheres que apoiam a prisão do governador Arruda puxava palavras de ordem em um pequeno carro de som. Muitos participantes faziam coro utilizando seus apitos.Desde domingo, o movimento percorre os blocos tradicionais da cidade com três pequenos carros alegóricos do tamanho de carrinhos de picolé. O primeiro, batizado de Faroeste, ironiza a construção do bairro Noroeste. O segundo faz alusão à Tarifa Zero ; o grupo defende a isenção de cobrança para o transporte público. O último carro, Caixa de Pandora, traz a imagem do governador Arruda preso e dos deputados distritais Eurides Brito e Leonardo Prudente guardando maços de dinheiro, respectivamente, na bolsa e nas meias.
Empurrando o carro Faroeste, o coordenador de integração do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de Brasília (UnB), Emanuel Barroso, 26 anos, contou que a população reage com buzinas e acenos de aprovação. ;Tem mais gente de fora do nosso grupo cantando do que nós mesmos;, afirmou.
A estudante de relações internacionais Laís Bretones, 21, não segue o movimento Fora Arruda, mas diz concordar com a posição do grupo. Usando uma camiseta de presidiária com os dizeres ;Fora Arruda;, ela queria pular o carnaval e também engrossar o coro do protesto. ;O brasileiro é alienado em relação à política. As mulheres se envolvem menos, ainda;, acredita. O diretor do bloco, Romildo Carvalho, ressaltava o caráter democrático e popular do carnaval de rua, mas questionava o fato de o movimento ter levado a estrutura de som própria paracompetir com o som do Galinho de Brasília. ;Acho o protesto legítimo, mas, se vou a um aniversário, não toco a marcha fúnebre;, exemplificou. Ele aproveitou para ressaltar o caráter cultural e apolítico do bloco, que investe na valorização dos ritmos nordestinos em Brasília. ;Não sou contra ou a favor do governo, sou frevo;, perpetrou.
Quem também deu um tom leve às críticas foi o professor de história Alan Mariano, 31 anos. Nas costas de sua camiseta branca, ele escreveu, em letras vermelhas: ;Agora só falta o Roriz;. Segundo o professor, o carnaval é o momento ideal para brincar com assuntos mais densos. ;Depois do carnaval, voltamos à crítica séria. Agora, vamos rir da desgraça;, conclamou.
Para aumentar a potência do som, o diretor do bloco decidiu colocar a banda no topo do trio elétrico. No primeiro desfile, realizado sábado, os músicos se posicionaram dentro do trenzinho do frevo que tradicionalmente acompanha o movimento. Na estimativa de Romildo Carvalho, cerca de 20 mil pessoas seguiam o Galinho, mas estimativas da PM apontam para aproximadamente 4 mil pessoas.