Carnaval 2010

Na avenida, Brasília derrota o escândalo

Expectativa de vaias do público à Beija-Flor, que homenageou a capital em seu enredo, acaba não se confirmando. Carnavalescos acreditam que a reação positiva pode até ajudar a escola. O problema, no entanto, foi o fim do desfile, que teve de ser acelerado para cumprir o horário

postado em 16/02/2010 09:47
A tradição da Beija-Flor e sua homenagem à capital federal superaram a expectativa de críticas e vaias do público na Marquês de Sapucaí durante o desfile da escola na madrugada de ontem. A perspectiva de uma eventual recepção negativa, por conta do escândalo político de repercussão nacional, com a prisão do governador afastado José Roberto Arruda, não se confirmou. E a reação positiva da público, segundo avalia um dos carnavalescos da Beija-Flor, pode até ajudar na avaliação dos jurados. ;A surpresa é sempre um diferencial no carnaval carioca. Nós fomos muito aplaudidos, ao contrário do que a imprensa dizia;, ponderou Ubiratan Silva, o Bira, que explicou ainda que as poucas vaias vieram de torcedores de outras escolas de samba. ;Eles colocavam o dedo para baixo, com sinal de que (a escola) vai cair. Mas isso é uma brincadeira de costume;, explicou.

O carnavalesco acredita que a decisão de não incluir políticos no enredo era mostrar a cidade ;atrás do preconceito; que Brasília evoca. Em entrevista ao jornal Bom Dia Brasil, ontem, o carnavalesco Alexandre Louzada reforçou essa meta. ;Eu optei por não falar de política porque esses acontecimentos vão para Brasilia, não vêm de lá. Eles rebatem lá para o Brasil inteiro, mas não é uma coisa que pertence a Brasília;, ressaltou o carnavalesco, que passou mal minutos antes de a escola entrar na avenida. Louzada refutou a tese de que a data festiva é uma boa oportunidade para tratar o tema com irreverência. ;Carnaval é alegria e se você vai fazer uma festa de aniversário, uma homenagem para o aniversariante, você cai cantar ;parabéns pra você;, não uma marcha fúnebre.;

Apesar da bela apresentação, a vice-campeã do carnaval 2009 pode perder pontos devido à demora para o último carro alegórico entrar na avenida. O atraso ocorreu porque duas senhoras teriam tido dificuldade para subir na estrutura. ;Carnaval não se ganha no barracão, se ganha na avenida. É preciso atirar no escuro e nós não tivemos nenhuma crítica (com o enredo sobre Brasília);, disse Bira, com otimismo.

A escola de samba de Nilópolis, baixada fluminense, entrou na avenida às 4h26 da manhã e terminou às 5h46, só dois minutos antes do máximo permitido pelo regulamento. Nos últimos 15 minutos de desfile, a Beija Flor acelerou o passo para cumprir o horário, o que pode prejudicar no quesito evolução. Foi a última a desfilar no primeiro dia do grupo especial do Rio de Janeiro.

Com mestre-sala e porta-bandeira simbolizando o sonho da construção de Brasília, a escola apresentou carros alegóricos e alas contando a história da capital, a um custo total de R$ 8 milhões, dos quais R$ 3 milhões foram patrocinados pelo GDF, num acordo firmado quando Arruda exercia o mandato.

A comissão de frente trouxe a Catedral e em cima dela um beija- flor, interpretado pela coreógrafa Yara Barbosa, 28 anos. Diferentemente dos outros anos, o carro abre-alas não trouxe a ave símbolo da escola. Os carnavalescos entenderam que além da interpretação de Yara, que descia do topo da alegoria para se juntar à comissão de frente, ficaria muito repetitiva a proposta.

A inovação ficou por conta da divisão da ala das baianas em duas de 60 pessoas. Além do tradicional modelo no primeiro grupo, o segundo fantasiou-se de índias para contar a história dos primeiros povos do cerrado brasileiro.

A bateria da agremiação apareceu fantasiada de Dragões da Independência, o destacamento de guarda especial da Presidência da República. Teve espaço até para uma ala dedicada aos candangos, os brasileiros que ajudaram a erguer a capital federal.

"Esses acontecimentos vão para Brasilia, não vêm de lá. Eles rebatem lá para o Brasil inteiro, mas não é uma coisa que pertence a Brasília"
Alexandre Louzada, carnavalesco

"A surpresa é sempre um diferencial no carnaval carioca. Nós fomos muito aplaudidos, ao contrário do que a imprensa dizia"
Ubiratan Silva, carnavalesco


O samba do vale-tudo


A ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, pré-candidata do PT às eleições presidenciais, encerrou ontem a maratona de carnaval no sambódromo do Rio de Janeiro. Depois de acompanhar desfiles em Recife e Salvador, a petista assistiu no camarote do governador carioca, Sérgio Cabral (PMDB), ao desfile de duas escolas de samba do grupo especial. Animada, sambou com um gari na pista do sambódromo como dançam mestre-sala e porta-bandeira. Ao fim dos rodopios, o gari Gilson Lopes, 47 anos, deu nota 9,5 para a ministra. Dilma ainda encontrou a cantora Madonna e o namorado, Jesus Luz. Em um determinado momento, chegou a pegar no colo a filha adotiva da artista, Mercy. Em São Paulo, depois de acompanhar o carnaval em Recife e Salvador, o governador José Serra (PSDB) participou de lançamento de programa para garantir acesso a deficientes físicos às praias do litoral sul de São Paulo. Serra chegou a entrar no mar de calça jeans, camisa polo e tênis para estrear uma das cadeiras adaptadas.

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