postado em 07/02/2013 08:12
A hegemonia da axé-music no carnaval brasileiro nas últimas décadas não está ameaçada pelo recente levante de estilos, como o funk pop, o arrocha e o sertanejo universitário. Pelo contrário. Agregador por natureza, o gênero baiano está cansado de saber que a mistura dá um bom caldo. Por isso, já não causa espanto que uma daquelas divas rebole ao som do ritmo carioca em cima de seu trio elétrico. Nem há estranhamento se uma dupla goiana se junta a um grupo de Salvador pelos circuitos nas ruas da cidade. Nos quatro dias de folia (bem mais que isso em alguns lugares), a ordem é apenas se divertir.
Todos os anos, durante a semana festiva, pipoca uma leva de canções, aquelas chiclete de ouvido, que podem ser escutadas em qualquer esquina de qualquer lugar do país. A maioria delas vem da capital baiana ; ou, pelo menos, ganha fôlego lá, onde o carnaval é considerado a oitava maravilha do mundo. As concorrentes aparecem no ano anterior, às vezes de forma tímida, começam a bombar nos primeiros dias do verão e chegam ao clímax nos dias de folia. Difícil encontrar alguém que não saiba pelo menos assobiar as tais melodias.
Em 2013, duas das mais grudentas candidatas a hit vêm das musas Ivete Sangalo e Claudia Leitte ; que estão sempre no páreo. A morena traz Dançando, em que convida toda a família para requebrar e colocar a mão na cabeça, com uma levada caribenha. Já a loira optou por uma daquelas coreografias que tem tudo para virar febre: Largadinho. A percussão acentuada, o refrão repetitivo e a letra fácil de ambas garantem a aceitação imediata do público. Foi o aconteceu em janeiro no Festival de Verão de Salvador, onde elas apresentaram as canções como seus carros-chefes para o carnaval. E a galera curtiu.
A banda Filhos de Jorge também aposta em uma música baseada na repetição e na percussão marcante. É Ziriguidum, em que o termo ;ziguiriguidum; é cantado várias vezes. Ainda em Salvador, Cheiro de Amor, Babado Novo, Psirico, Tomate e Oito7Nove4 são alguns dos que têm boas cartas na manga e estão correndo por fora na disputa pelo hit do carnaval.
Com pinta de hit
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; Babado Novo ; Colou, bateu, ficou
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; Cheiro de Amor ; Amor de sobremesa
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; Chiclete com Banana ; Louco de paixão
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; Claudia Leitte - Largadinho
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; Filhos de Jorge - Ziriguidum
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; Gusttavo Lima - As mina pira
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; Ivete Sangalo - Dançando
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; João Lucas & Marcelo e MCK9 ; Louquinha
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; Mc Bola ; Ela é top
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; Naldo - Se joga
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; Oito7Nove4 ; Tá a fim de namorar
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; Psirico ; Dançation
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; Tomate ; Cheirinho da vovó
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As mais pedidas
Fora do universo baiano, na seara do funk, destacam-se o santista MC Bola e o carioca Naldo. Ela é top (;Ela não anda/ Ela desfila;), de Bola, apesar de ter sido lançada em abril de 2012, só começou a bombar de verdade no fim do ano passado. Durante o verão, foi presença garantida em todas as baladas. Depois de estourar com as canções Amor de chocolate, Exagerado e Meu corpo quer você, Naldo investe na faixa Se joga para continuar em alta. Dos sertanejos, Gusttavo Lima e sua As mina pira têm tudo para reinarem nos carnavais de todo o país.
Se a folia das ruas refletir o que tem tocado nas rádios, o sertanejo deve continuar soberano na festa. É o que considera Ailon Pedrosa, radialista da Clube FM. ;As músicas mais pedidas, na maioria, são da dupla Jorge & Mateus e dos cantores Michel Teló, Luan Santana e Gusttavo Lima;, conta ele. ;Mas nem todos os hits de carnaval chegam às rádios, embora sejam cantados pela multidão;, completa. Para ele, a falta de preconceito do público do carnaval baiano é a razão pela qual diferentes gêneros podem adentrar a festa dos trios elétricos.
A festa é de quem quiser
;O carnaval é invenção do diabo, que Deus abençoou;, cantou Caetano Veloso em cima do trio elétrico. E o povo foi atrás. Até a década de 1960, eram as marchinhas que alegravam os bailes e os blocos Brasil afora. Foi nessa época que a cultura dos trios começou a se fortalecer na Bahia, bem como os sambas-enredo no Rio de Janeiro. Em outro carnaval monumental, o de Pernambuco, quem dá o tom são outros ritmos ; frevo e maracatu. O que há em comum em todas essas manifestações é a alegria e, por sorte (sorte mesmo), a tradição também é garantida com a manutenção das canções que marcaram cada época no repertório dos foliões.
A pianista Chiquinha Gonzaga já era consagrada quando compôs aquela que talvez tenha sido a primeira marcha de carnaval da história ; e também o primeiro hit do gênero. Ó abre alas, de 1899, foi feita sob encomenda para o cordão Rosa de Ouro. O bloco venceu o carnaval daquele ano e a canção continuou na boca do povo durante toda década seguinte. O gênero, contudo, só viria a se tornar comum a partir dos anos 1920.
Outro mestre que reinou soberano em alguns carnavais foi Noel Rosa. Durante vários anos, o poeta de Vila Isabel embalou os foliões com suas composições. Algumas delas perduram até hoje no imaginário popular. Na hora de pular o carnaval, como não se lembrar, por exemplo, de Com que roupa?, Pastorinhas e Pierrot apaixonado?
Certames para escolher a canção da folia já renderam alguns clássicos à música popular brasileira. Máscara negra (Quanto riso/ Oh, quanta alegria/ Mais de mil palhaços no salão), por exemplo, composta por Zé Keti (a autoria gera polêmica) e sucesso na voz de Dalva de Oliveira, venceu, em 1967, o 1; Concurso de Músicas para o Carnaval, promovido pelo Museu da Imagem e do Som.
A repercussão alcançada pela canção à época prolongou o fôlego do gênero, já desgastado em tempos de revoluções sonoras. A partir dos anos 1960, os sambas-enredo oriundos das passarelas cariocas ganharam destaque na cena nacional. Aquarela brasileira e Bum-bum paticumbum prugurundum, da Império Serrano (RJ), e É hoje, da União da Ilha, são alguns dos mais marcantes hits do estilo.