Apesar de atravessar ;a maior recessão da sua história;, fruto ;de uma crise doméstica;, que gerou um ;avassalador; deficit fiscal de R$ 170 bilhões neste ano, o Brasil deve assistir a uma sacudida na economia em 2017, com a retomada do emprego a partir do meio do ano, e crescimento da atividade a partir de 2018. O prognóstico foi feito pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao participar do Correio Debate ; Desafios para 2017, promovido na última quarta-feira, 14, pelo Correio Braziliense.
;Estamos num processo difícil, mas bem-sucedido;, disse Meirelles, preocupado em detalhar os motivos pelos quais a atividade econômica ainda não deslanchou, deixando a sensação de frustração geral na sociedade. ;Muitos esperavam que, com o aumento da confiança no país, a recuperação seria imediata e nós já estaríamos crescendo fortemente. Por que isso não aconteceu ainda?;, perguntou. E respondeu: ;Houve demora no enfrentamento da crise atual;.
[SAIBAMAIS]Segundo Meirelles, no mundo inteiro, o padrão é a crise ser debelada ao se tomar medidas adequadas rapidamente. ;O país se recupera e pode retomar o crescimento rápido;, frisou. A crise brasileira teve início no fim de 2014 e só começou a ser combatida, de fato, no fim de 2016. Quase dois anos de crise. ;E isso é um problema, porque muitas empresas já foram afetadas, liquidadas, em recuperação judicial e com demissão em massa;, continuou.
O ministro foi enfático: ;A reorganização empresarial e do parque produtivo não acontece do dia para a noite. É um processo mais lento;. Na avaliação dele, ;as famílias ficaram muito endividadas e, num primeiro momento, elas procuram diminuir as dívidas e não consumir;. A boa notícia é que ;o nível de endividamento das famílias está caindo, mas ainda não voltaram a consumir por cautela. Então, ao longo do tempo, a demanda vai crescer;.
Pacote
Outros economistas presentes ao debate reafirmaram a tese apresentada pelo ministro, no sentido de que, antes de 2014, houve uma forte expansão do crédito no país. Em função disso, a crise teria pego empresas e famílias fortemente endividadas, e o desemprego agravou as dificuldades em saldar financiamentos bancários, por exemplo.
;Não devemos fugir da realidade. E a realidade é a seguinte: nós estamos na maior recessão da história do país. E temos que enfrentá-la;, prosseguiu Meirelles. Ele citou que, no passado, ;já se fez esforços fiscais no Brasil, com cortes temporários de despesas e aumentos permanentes de impostos;. Mas o deficit só cresceu. Entre 2008 e 2015, as despesas públicas aumentaram 56,6% (acima da inflação), enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 18%.
Na avaliação do ministro, a estimativa do deficit fiscal deste ano para R$ 170 bilhões, em sua opinião ;não é apenas alto, é enorme, avassalador;, levou em conta uma série de despesas que não tinham dotação prevista no Orçamento da União. Isso inclui aluguéis em atraso de embaixadas no exterior e contribuições atrasadas a organismos internacionais, cujos representantes lhe apresentavam a cobrança e, ;embaraçadamente;, ele verificava que não tinham previsão de pagamento orçamentário.
;A vantagem, a partir do deficit realista, foi o aumento da confiança, permitindo que o país voltasse a se recuperar;, disse Meirelles. Ele assegurou que o país já se encontra ;num processo de superação dessa crise. E as previsões são unânimes de que o Brasil vai crescer durante o próximo ano, principalmente quando medirmos trimestre contra trimestre;. O ministro ressaltou que a estimativa da equipe econômica é de expansão de 2,8% do PIB no último trimestre de 2017, comparado ao último trimestre de 2016.
Ceticismo
Meirelles confessou ter enfrentado ;muito ceticismo;, dentro e fora do país, quando assegurava que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumenta dos gastos à inflação do ano anterior seria aprovada ainda neste ano no Congresso, como de fato ocorreu em 13 de dezembro. ;Uma vitória extraordinária;, saudou. A limitação das despesas do governo por até 20 anos foi crucial para o governo estancar a gastança e focar, agora, em medidas microeconômicas, ;de simplificação da vida das empresas, das pessoas;, para aumentar a capacidade do país em produzir e para crescer com maior velocidade.
;É a primeira vez, em 28 anos, que se limita constitucionalmente o crescimento do gasto público no Brasil;, afirmou o ministro. ;Não estamos apenas fazendo mudanças na área fiscal, que é a base. Estamos indo além, se não, continuaríamos caminhando de uma crise para outra com insegurança;, justificou. Na visão dele, as medidas para ajudar a desimpedir a produção, como a renegociação de dívidas tributárias pelas empresas anunciada na última quinta-feira, já estavam em estudo, aguardando apenas o sinal verde na limitação de gastos públicos. Para ele, é vital reduzir o excesso de burocracia para destravar iniciativas nos negócios. ;O Brasil precisa facilitar a vida dos brasileiros;, arrematou.
Segundo estudos do Banco Mundial (Bird), com o qual o governo fez convênio para tocar as novas medidas, o Brasil ocupa o 120; lugar num ranking sobre capacidade de empreender (doing business). ;Pela primeira vez estamos enfrentando isso diretamente;, afirmou Meirelles, que garantiu: ;o programa de ajuste segue normalmente, sem interrupções e sem soluços, e, com certeza, será bem-sucedido;, a despeito da instabilidade acirrada pela crise política. O objetivo do governo de Michel Temer para 2017 é a recuperação da economia, com a consolidação do ajuste fiscal, estabelecendo as bases para o avanço dos anos seguintes. ;Esperamos o avanço gradual do crescimento nos próximos anos;, reiterou.
Diante das tímidas previsões de crescimento dos analistas financeiros para o ano que vem, Meirelles concordou que não se pode esperar um dinamismo muito forte, não num primeiro momento. ;Como nós caímos muito neste ano, a recuperação parte de um ponto muito baixo;, ponderou. Mas o país encontra-se num processo de saída da crise, assegurou o ministro, com confiança dos investidores e dos empresários, com inflação em queda e sinais de retomada do crescimento.
;Existe um provérbio chinês, cujo ideograma é o mesmo para crise e para oportunidade. Acho que pode ser uma inspiração para nós brasileiros, porque a crise que vivemos pode ser uma oportunidade para uma mudança histórica e para construirmos um Brasil melhor;, mencionou. No entender dele, 2017 certamente será, substancialmente, melhor do que este ano. ;E, o mais importante, é que terminaremos o próximo ano crescendo, vivendo num ambiente e num clima completamente diferente, com muito mais otimismo, fisionomias muito mais sorridentes;. (Especial para o Correio)