O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, defende que o governo crie linhas especiais de crédito por meio de depósitos compulsórios que as instituições financeiras mantêm no Banco Central a fim de ajudar empresas e famílias a pagar dívidas.
Segundo ele, o refinanciamento de dívidas por prazos mais longos pode fazer com que, depois do acerto de contas, sobre recursos para o consumo, ajudando a reativar a economia. ;Os bancos estão com excesso de liquidez, mas não querem emprestar porque temem ter prejuízo, devido ao alto grau de endividamento da sociedade. Parte do compulsório está no BC sem remuneração, portanto, tem custo zero;, afirmou.
Thadeu lembrou que, apesar de a taxa básica de juros (Selic) ter baixado 0,5 ponto percentual desde outubro último, o spreed bancário (diferença entre o que os bancos pagam para os investidores e cobram dos devedores) aumentou. ;Porém, se o dinheiro dos depósitos compulsórios, que não está rendendo nada, for usado com a finalidade única de reestruturação das dívidas das empresas e das famílias, será uma solução melhor do que o uso do dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), por exemplo;, destacou.
No entender do economista da CNC, o uso dos compulsórios para a reestruturação de dívidas das famílias é uma das saídas mais sensatas para o país começar a sair da atual crise econômica. ;É preciso encontrar soluções para o grave problema que enfrentamos. Os juros reais (que descontam a inflação) estão elevados demais, não ajudam em nada na retomada da atividade;, afirmou.
Sufoco
Na análise de Thadeu, o país entrou numa recessão profunda, com empresas e consumidores excessivamente endividados, já que, antes, houve um surto de oferta de crédito. Ele ponderou que não há como reestruturar dívidas tomando dinheiro no mercado a juros elevados. ;A liberação de depósitos compulsórios pode ajudar a reduzir o sufoco das dívidas;, reforçou.[SAIBAMAIS]Ele lembrou que, quando o atual governo começou, havia duas opções: manter a meta de inflação de 2017 em 4,5% ou fazer uma meta ajustada para dar um pouco mais de fôlego para a economia no curto prazo. ;O governo preferiu fazer a meta central em 2017e manter juros reais altos, o que está provocando enormes dificuldades às famílias e às empresas;.
Ao falar dos possíveis cenários para a melhoria do comércio no próximo ano, ele disse que a política fiscal definida para o médio e longo prazos, com o teto para os gastos e a reforma da Previdência, aponta para um modelo contracionista no lugar daquele expansionista que estava em vigor.
Ele avaliou ainda que o crescimento da economia só começará a ser percebido a partir do segundo semestre do ano que vem, o que exigirá mais medidas por parte do governo para reduzir a angústia da população.Thadeu disse que os números do varejo têm sido muito ruins. As vendas do comércio devem fechar este ano com encolhimento em torno de 6%, pior que a retração de 4,5% em 2015.
Para 2017, ele estima que será menos ruim do que 2016, com estabilidade, na melhor das hipóteses.;O crescimento da economia só deve começar a ser percebido a partir do segundo semestre;, frisou.