O primeiro vetor, segundo Aragão, é o caráter transnacional do controle da corrupção, reforçado com o conjunto de regras internacionais que elevou, nos últimos anos, o nível de combate à corrupção em todo o mundo. Empresas nacionais e estrangeiras passaram a ser submetidas a um conjunto de regras muito mais rigorosas. “À medida que as empresas brasileiras passam a ter uma integração, uma interação com o mundo exterior, elas são submetidas a essas regras, como a Petrobras, que está sendo examinada, processada e investigada nos Estados Unidos. Isso faz com que práticas nefastas para o nosso sistema econômico sejam também combatidas por essa exposição”, explicou.
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No entender de Aragão, a emergência do compliance, o terceiro vetor, é uma necessidade atual para qualquer empresa minimamente organizada. “As empresas devem seguir mecanismos rigorosos de combate à corrupção e ao tráfico de influência e devem pautar, por normas éticas e institucionais, o seu relacionamento com os poderes, com os concorrentes e com os demais atores da sociedade”.
O vetor da transparência dos governos é absolutamente essencial no Brasil, mas, aliado aos dois vetores anteriores, combate transnacional da corrupção e compliance, força a existência de um grau de transparência classificado como incomum por Aragão. “O relacionamento da sociedade e do mundo econômico com o governo será mais transparente. A corrupção tem, de um lado, alguém que cria dificuldades e, do outro lado, alguém que compra uma facilidade. O fato de termos um governo opaco, com excessivo poder burocrático, favorece a ocorrência de corrupção”, afirmou.
Cidadania
O cientista político citou também a questão da intolerância ao corporativismo como o quinto vetor. Segundo ele, o Brasil chega a um momento de sua história em que a sociedade começa a perceber o quão perversa é a relação que algumas corporações impõem à sociedade. “Essa existência de cidadãos de primeira e de segunda classes revela uma vocação muito forte do corporativismo no Brasil. Mas esse corporativismo hoje começa a ser questionado. O próprio debate da reforma previdenciária e dos supersalários coloca em xeque o corporativismo.”
Outro vetor para o futuro do Brasil é o que o cientista político descreve como “o naufrágio do modelo fiscalmente irresponsável e populista que existia no Brasil”. Segundo Aragão, não há mais como manter governos fiscalmente irresponsáveis. “Isso leva à paralisia, à desordem, ao caos.”