O primeiro contato de Gurutama com o tantra foi em um curso de fim de semana, escondido da esposa. ;Eu sempre gostei muito de trabalhos corporais, de massagens, mas nem imaginava o que era o tantra. Um dia, resolvi fazer um curso de três dias e, com medo da reação da Daricha, disse que faria um curso na área de direito. ;Tive uma experiência transcendental e cheguei em casa louco para mostrar para ela;, lembra. Sem contar de onde tinha tirado as novas habilidades, surpreendeu a esposa um dia, em casa. ;Ela é muito sensível e entrou em um processo lindo. Ria, chorava. Quando acabou, perguntou onde eu tinha aprendido tudo aquilo e com quem. Até ela entender o que era...;, ri o terapeuta.
Mesmo depois da experiência com o marido, Fernanda foi um pouco resistente. Ela precisou de um ano para experimentar, com um profissional, o que o marido tinha mostrado a ela. ;Eu tinha uma formação religiosa rígida, a cabeça dura, então, mesmo entendendo que era terapêutico e não sexual, não quis ir de primeira;, conta. O tantra não é baseado em crenças e nada tem a ver com religião. Como Daricha e Gurutama definem, trata-se de ;ciência espiritual;. Quando Daricha sentiu vontade de conhecer o tantra mais de perto, o marido a incentivou a ir sozinha para o curso. ;Como é uma experiência individual e de autodescoberta, fiquei com medo de interferir no processo;, justifica. Não foram necessários mais do que três dias para que ela estivesse convencida. Depois do curso, ela foi convidada a se desenvolver como terapeuta e o marido decidiu ir junto. Fernanda e Uirá passaram a atender por Daricha e Gurutama.
O tantra, eles dizem, mudou o relacionamento deles profundamente, do bom para o ainda melhor. ;Nunca tivemos problemas com o sexo, com chegar ao clímax, mas a intensidade e o tempo mudaram muito. Posso dizer, hoje, que o meu orgasmo me conecta com Deus, de tão forte e tão intenso. É uma conexão além do corpo, é de energia e de alma;, conta Daricha. Além disso, confiança, respeito e até mesmo a maneira de olhar para o parceiro mudaram. ;Nos ensinou que estamos juntos porque queremos. Passamos a não ter neuroses, inseguranças. Claro que ainda estamos em desenvolvimento, mas essas coisas negativas não fazem mais parte do nosso cotidiano;, continua. ;O tantra nos habilita a fazer escolhas que não têm a ver ao que os outros pensam ou esperam de nós;, pontua Gurutama.
Hoje, os dois transmitem em cursos e sessões o que internalizaram nos anos de aprendizado. Com algum tempo de estrada, não têm dúvidas de que essa pode ser a porta de entrada ou o aprofundamento de amores. Os dois chegaram a presenciar o nascimento de um novo casal em um dos cursos ; eles começaram a namorar antes que as aulas acabassem. ;No tantra, as pessoas se conectam, e não apenas de forma física, mas de alma. Ele impele ao contato com o olhar, a sentir a energia do outro, a explorar o corpo, sentir os feromônios. A palavra-chave é dedicação, você aprende a doar e a receber. Muitos casais chegam aqui e, já na primeira dinâmica, acessam emoções e dores que eles nem sabiam existir;, observa o terapeuta. ;No dia a dia, você passa pela pessoa e muitas vezes nem a percebe. As relações são muito superficiais. Sempre colocamos no outro a expectativa de suprir a nossa solidão. Com o tantra, você ganha consciência de que isso não está no outro. Passa a ter uma relação de mais independência e de mais verdade;, destaca Daricha.
Atenção e cuidado desde o início
Apesar de se ter uma ideia errada de que terapia de casal e cursos de relacionamento são os últimos recursos para salvar uma união, na verdade, eles também são ferramentas para melhorar o que já é bom, consertar desalinhamentos. ;As pessoas têm essa visão de que o relacionamento precisa estar ruim para procurar ajuda, mas a gente pensa diferente. Se pode ser ótimo, porque ficar com apenas bom?;, indaga a psicóloga Isabel Ribeiro, 32 anos. Ela e o noivo, Milton Sampaio, 36, investem na relação desde sempre ; estão muito bem, juntos há oito meses, mas acreditam que, para sustentar o sentimento, é preciso se comprometer. ;Não nos contentamos apenas com o bom;, afirma Milton.
Em abril, fizeram uma imersão em tantra. Nas próximas semanas, começam um curso regular de relacionamentos conscientes. Antes de conhecer o assunto, Milton acreditava que a prática era somente sexo. Por trabalhar com tecnologia, nunca esteve muito ligado a esse mundo mais espiritual e energético. Como a noiva sempre se interessou pelo assunto, Milton se pôs a pesquisar. Quando encontraram o curso da terapêuta tântrica Soraya Vidya, ele lembra que enviou um e-mail cheio de perguntas. A resposta foi convincente.
;Aprendi que a qualidade da presença é importante, pois o tempo deve ser bem aproveitado. São várias técnicas que desenvolvem a afinidade do casal, como se movimentar junto ou respirar ao mesmo tempo para encontrar um ritmo comum;, explica. Hoje, Isabel e Milton percebem qualquer desalinho no relacionamento e contam que é legal ter à mão as ferramentas para resolver qualquer problema.
;Sempre fomos muito atentos um ao outro, conversamos muito. Acredito que o tantra e essa atenção especial à nossa relação trouxe uma capacidade de trabalhar os conflitos de forma mais sutil.
Independentemente da discussão, se eu percebo que ele está acelerado, consigo dizer e ele reconhece. Ao mesmo tempo, se eu estou um pouco ausente, Milton me chama atenção. Aumentamos a nossa capacidade de estar um com o outro;, explica Isabel. E os ensinamentos de qualidade no relacionamento não são restritos à relação amorosa ; ao se conhecer bem e dominar as ferramentas, é possível aplicar esse bem-estar em todos os aspectos da vida, seja no trabalho, seja nas relações familiares e seja, inclusive, no trânsito.
Mesmo assim, é claro que ainda existem problemas. Como em todo relacionamento saudável e rotina normal, existem momentos de estresse, de discussão. Milton afirma: ;Não viramos budas. Mas aprendemos que é possível ter um pouco mais de consciência. É saber colocar o pé no freio;.
"As pessoas têm essa visão de que o relacionamento precisa estar ruim para procurar ajuda, mas a gente pensa diferente. Se pode ser ótimo, porque ficar com apenas bom?;
Isabel Ribeiro, psicóloga