Roberta Pinheiro - Especial para o Correio
postado em 27/09/2016 07:15
De uma caixa de suco ou de um rolo de papel higiênico, os alunos do terceiro ano do ensino fundamental da Escola Classe 3 do Guará criaram um universo com dados, Bumba meu boi, foguetes, carrinhos e bonecas. As fases do tratamento do esgoto estão na ponta da língua. ;Não pode jogar óleo na água porque entope o cano e atrapalha o tratamento;, explica o pequeno Gabriel Dias de Lima da Silva, 9 anos. ;A água tratada é importante para evitar doenças também;, complementa a colega Lilia Silveira Guimarães, 8. ;Água parada em vaso ou qualquer garrafa dá dengue;, finaliza João Leandro Lira, 8.
As informações saíram do livro e da aula de ciências, mas chegaram à vida deles de uma maneira lúdica e divertida com os projetos da professora Djanira Pereira Lima, 46 anos. Trabalhar questões relacionadas ao lixo e ao saneamento básico é mexer com a vida de cada um dos 29 estudantes da sala. ;Eles contam como é em casa e levam também o que aprendem para a família;, comenta a professora. ;Tia, uma vez, minha mãe pediu para eu jogar o lixo lá de casa fora. Quando cheguei na rua, encontrei mais lixo. Aproveitei para pegar e jogar tudo junto;, relembra Asefe Santos Portela, 8. ;A minha avó faz sabão com o óleo para não jogar na água;, fala, do outro lado da sala, Renan Alves Ferreira, 13.
Ao contrário da idade e do tamanho, o olhar de cada um dos estudantes da professora Djanira é grande e brilha para um futuro diferente do que se tem hoje. ;Quando a gente vê alguém do quinto ano ou mesmo da nossa turma deixando a torneira aberta, a gente conversa com ele e fecha. Temos que economizar;, diz Pedro Henrique da Costa, 10 anos. Eles sabem a importância do recurso e afirmam em coro que a prática vai muito além dos muros coloridos da escola. Na instituição, apesar de não haver a separação do lixo como aprenderam, não tem nada fora do lugar e na hora do lanche só come quem lava a mão antes.
;Temos que ensinar desde pequenos. A faixa de pedestre, por exemplo, aprendemos desde criança e hoje não temos problema. Com o saneamento básico é a mesma coisa. Criamos adultos conscientes. E eles entendem tudo;, conta a professora. A preocupação com o saneamento básico vai além do impacto na vida dos estudantes. Eles não se esquecem dos animais. ;Se a gente não toma cuidado e não faz o que é necessário, podemos prejudicar a vida de alguns animais;, destaca Marcos Antônio Santos, 9. ;Aqui, tem consciência ambiental;, afirma a professora.
Foi reunindo o que estava nos livros com o lixo reutilizado que a turma do 3;A ficou em segundo lugar na Feira de Ciências do Guará e foi chamada para a feira do DF. ;Sem falar que, nessas atividades, eles estão desenvolvendo outras habilidades. Estão produzindo textos, aprendendo palavras, multiplicação. Tudo de uma maneira divertida;, comenta Djanira.
Apesar de a educação apresentar aos pequenos um consumo consciente e uma possibilidade de vida melhor, em casa, muitas vezes, não é o que eles encontram. ;Aqui, temos alunos do Guará, da Estrutural e do Setor de Chácaras. Eles já comentaram que a mãe fervia a água para filtrar ou tinham poço em casa;, lembra a professora.