Seja por não ter comparecido às sessões eleitorais, seja por ter votado branco ou nulo, cerca de 30% do eleitorado que deveria ter participado do segundo turno das eleições municipais abdicou do direito de escolha dos 50 prefeitos eleitos domingo. Para cientistas políticos ouvidos pelo Correio, as altas taxas de abstenção e de votos considerados inválidos são resultado de um conjunto de fatores que inclui desilusão política, falta de renovação de lideranças e até a crença absoluta na vitória ou na derrota de seu candidato. Apesar de divergirem em relação à obrigatoriedade do voto, avaliam que a reforma política é mais do que necessária.
Embora a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Cármen Lúcia, tenha reagido com preocupação quando analisou a taxa de 19,11% de abstenção ; cerca de 6 milhões ;, o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas Francisco Fonseca lembra que a média histórica de não comparecimento às urnas sempre foi alta no país. ;Com os brancos e os nulos, temos sempre um índice grande, que inclui parcela de protesto;, diz. Ele atribui o resultado a três fatores: ;O sistema político é confuso, com muitos partidos; a vida política é privatizada; e o eleitor só vê notícias que ligam a política à sujeira;.
Para Fonseca, é hora de uma reforma política. Nas redes sociais, muitos eleitores defenderam, no domingo, o voto facultativo. Mas o professor é contra. ;A obrigatoriedade ainda é importante, porque tira uma camada significativa da passividade política. Caso contrário, correríamos o risco de ter uma eleição elitizada;, avalia Fonseca.
O professor da UnB João Paulo Peixoto acredita que a falta de renovação política também alimenta a abstenção. ;Em São Paulo, por exemplo, o eleitorado já está cansado dessa polarização entre PT e PSDB;, avalia. Para Peixoto, o voto facultativo é uma opção para mudar o quadro. ;A apatia já existe e é manifestada nos votos brancos e nos nulos. Contra isso, podemos ter candidatos mais empenhados em suas campanhas, mais propositivos para atrair o eleitor;, defende. A Comissão de Reforma Política do Senado, por ora, defende o voto obrigatório, temendo, justamente, o desinteresse do eleitor em participar do processo político e, consequentemente, taxas ainda mais altas de abstenção.
Ranking da abstenção
1;) Salvador 21,53%
2;) São Luís 22,04%
6;) São Paulo 19,99%
16;) Porto Velho 13,87%
17;) Curitiba 10,09%
Brasil 19,11%
Quitação eleitoral
O eleitor que não justificou a ausência no dia da eleição deve encaminhar, em até 60 dias após cada turno de votação, requerimento ao juiz da zona eleitoral na qual esteja inscrito. O requerimento deve ser levado pessoalmente a qualquer cartório eleitoral ou enviado pelos Correios. O documento pode ser copiado da internet, na página www.tse.jus.br. O eleitor também deve apresentar documentação que comprove a impossibilidade de participar da eleição, que será examinada pelo juiz eleitoral. Cada turno exige uma justificativa diferente. Caso não cumpra o prazo de 60 dias, o eleitor deve procurar qualquer cartório eleitoral e pagar multa de R$ 3,50. O eleitor que não votar nem justificar a falta por três eleições consecutivas terá o título cancelado.