Paulo de Tarso Lyra
postado em 02/10/2014 08:23
Na corrida contra o tempo para consolidar a arrancada final e chegar ao segundo turno, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, aposta em um conjunto de estratégias para ultrapassar Marina Silva (PSB). A ex-senadora, atual segunda colocada, de acordo com as pesquisas, está em curva descendente, depois de se tornar alvo preferencial do tucano e da presidente Dilma Rousseff (PT). Além das iniciativas da campanha, como a priorização da Região Sudeste e a manutenção dos ataques às rivais, Aécio se agarra à avaliação de especialistas de que a última semana é quando o eleitor está mais atento à disputa.[SAIBAMAIS]Já o comando de campanha da socialista ampara-se em pesquisas internas que apontam o estancamento da queda de Marina na corrida eleitoral. Com isso, os marineiros apostam que é ela, e não Aécio, que seguirá para uma nova disputa contra Dilma Rousseff. Para isso, contudo, a campanha do PSB precisa descobrir como se defender dos ataques da petista, coisa que não soube fazer até o momento. Segundo o coordenador-geral da campanha de Marina, Walter Feldmann, ;o PT está mantendo uma lógica cínica e mentirosa para desconstruir a candidata mais consistente para derrubar Dilma Rousseff;.
Um dos coordenadores da campanha de Marina, deputado Márcio França (PSB-SP), afirma que, nas pesquisas internas feitas pelo PSB, está consolidada a vantagem de seis pontos percentuais da ex-senadora sobre Aécio, o que, em termos numéricos, significa 6,5 milhões de votos. ;Para nós, não há o que discutir. O que precisamos, agora, é planejar o segundo turno. E a presidente Dilma tem de se preparar para enfrentar uma candidata com 10 minutos de tempo de televisão, em vez dos dois minutos que temos atualmente;, provocou França.
Embora sem campanha nas ruas hoje, o dia é considerado decisivo por aliados de Aécio. O último debate, à noite na TV Globo, é historicamente o mais assistido pelo eleitor (leia mais na página 3). Além disso, também hoje, será exibido o último programa do horário gratuito. Nos dois, o tucano reforçará a estratégia considerada bem-sucedida por sua equipe de atacar a gestão petista ; explorando as denúncias de corrupção ; e de associar Marina ao PT. Contra a ex-senadora, Aécio repetirá ainda que, ao mudar de ideia sobre alguns assuntos durante a campanha, como ao retirar o apoio a propostas para a comunidade LGBT, ela não representa uma alternativa segura para quem se cansou do governo petista.
Nas ruas hoje, Aécio espera a atuação da militância do PSDB nas cidades, que, para a campanha tucana, voltou a se entusiasmar com a corrida presidencial nas duas últimas semanas. ;Nos últimos dias, houve um aumento muito grande da energia de nossos candidatos a deputado federal, estadual, governadores e os nossos prefeitos. A campanha pegou fogo. E nós vamos para o segundo turno, pois temos a candidatura que está crescendo nesta reta final;, diz o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), candidato a vice.
A outra estratégia é manter o foco na Região Sudeste. Aécio passou a quarta-feira em Minas, onde voltará no sábado, último dia permitido pela Justiça eleitoral para campanha na rua. De acordo com o coordenador da campanha tucana, senador José Agripino Maia (DEM-RN), ele fará caminhada em cinco cidades da Grande Belo Horizonte. Segundo o Datafolha, ele aparece em terceiro lugar nas regiões metropolitanas do país, com 18% das intenções de voto. O percentual ainda está dois pontos atrás do que tinha antes da entrada de Marina na disputa. Como ele conseguiu recuperar o mesmo percentual, ou maiores, em outros grupos (veja quadro), a campanha acredita que há margem para crescimento. Ao investir em Minas, Aécio tenta ainda recuperar votos que perdeu no estado.
Avaliação
De acordo com o Datafolha, em pesquisa feita em 29 e 30 de setembro, a disputa se acirrou. A presidente tem 40% das intenções de voto; Marina, 25%; e o tucano, 20%.
Para Paulo Calmon, professor do Instituto de Ciência Política da UnB, ;o processo de formação da decisão do voto; varia ao longo dos três meses de campanha e a última semana é a que o eleitor está mais atento à necessidade de escolher um candidato. ;Às vésperas da votação, há movimentos importantes na preferência do eleitorado. Pode haver um fato decisivo que inverta a posição de Aécio e Marina;, diz Calmon. Para ele, a queda da ex-senadora ocorreu por uma série de fatores. ;Parte do eleitorado foi impactado pelos ataques do PT e PSDB. Outra decidiu votar na Marina depois da morte de Campos, mas acabou mudando de ideia ao conhecer as propostas dela.;
Vaivém das pesquisas
A três dias das eleições, Aécio e Marina travam uma batalha para disputar o segundo turno contra a presidente Dilma. Confira as mudanças nos últimos 30 dias, em grupos específicos, ocorridas entre o tucano e a socialista nas intenções de voto.
Regiões do país
; A maior inversão nas intenções de voto em Marina e Aécio ocorreu na Região Sul. No melhor momento da ex-senadora, entre 1; e 3 de setembro, de acordo com o Datafolha, ela tinha 16 pontos percentuais de vantagem sobre o tucano. Na última sondagem, em 29 e 30 de setembro, Aécio conseguiu 10 pontos percentuais a mais que Marina e está em segundo lugar. No Sudeste, que concentra quase metade do eleitorado, Marina abriu dianteira de 19 de pontos percentuais sobre Aécio no início do mês passado. Agora, a diferença é de apenas 4 pontos
Religião
; Sob essa perspectiva, Aécio conseguiu a maior arrancada entre os católicos. Entre 1; e 3 de setembro, ele estava 16 pontos percentuais atrás de Marina. Agora, o cenário é outro e o tucano está 2 pontos à frente de Marina. O senador também tem vantagem entre os espíritas: 5 pontos percentuais a mais que a candidata do PSB. Entre os evangélicos, Marina continua em vantagem, mas houve queda da diferença. Em 1; e 3 de setembro, ela tinha vantagem de 29 pontos percentuais entre os pentecostais. Agora, são 23
Idade
; A maior mudança ao longo da campanha ocorreu entre os jovens. Entre 1; e 3 de setembro, Marina abriu 24 pontos percentuais de vantagem sobre Aécio entre as faixas etárias de 16 a 24 anos e de 25 a 34 anos. A ex-senadora continua na frente. Mas hoje a diferença caiu mais da metade. É de 10 e 9 pontos percentuais, respectivamente, nessas faixas. Aécio só está na frente entre as pessoas com mais de 60 anos, com três pontos percentuais a mais que a ex-senadora
Escolaridade
; Marina perdeu voto entre os mais escolarizados. Entre pessoas com ensino superior, a ex-senadora abriu vantagem de 23 pontos percentuais sobre Aécio em seu melhor momento. Atualmente, a diferença caiu para apenas 4 pontos percentuais. A queda ocorreu também entre pessoas com ensino fundamental e médio. No último grupo, enquanto Marina tinha 37% entre 1; e 3 de setembro, agora tem 27%. No mesmo período, Aécio cresceu de 15% para 20%
Renda
; Marina segue na frente entre as pessoas que ganham até 10 salários mínimos. Mas a vantagem diminuiu nos grupos que ganham essa renda. A maior mudança foi entre os eleitores que recebem de 5 a 10 mínimos. Ela tinha 21 pontos percentuais a mais que Aécio entre 1; e 3 de setembro. Agora, a diferença é de dois pontos. Já entre os eleitores com mais de 10 salários mínimos, Aécio está à frente inclusive da presidente. Ele tem hoje 39%, Marina, 30%, e Dilma, 22%