postado em 02/10/2014 08:40
Juiz de Fora (MG) ; O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, afirmou ontem ter recebido informações de que correspondências enviadas pela legenda em Minas Gerais ao longo da campanha eleitoral não chegaram ao destino. O tucano atribuiu a culpa aos Correios. Vídeo divulgado na terça-feira (30/9) mostra o deputado estadual em Minas Durval Ângelo (PT), coordenador político da campanha do principal rival dos tucanos na disputa pelo Palácio Tiradentes, Fernando Pimentel (PT), elogiando correligionários dos Correios durante reunião em um comitê.
[SAIBAMAIS]Conforme o parlamentar, o desempenho do partido no estado tinha como um de seus catalisadores a capilaridade da empresa pública em Minas. Durval afirma ainda nas gravações que a presidente Dilma Rousseff (PT) só chegou aos 40% das intenções de voto no estado porque ;tem dedo dos petistas nos Correios;. Em campanha ontem em Juiz de Fora (MG), ao lado do candidato da legenda ao governo de Minas, Pimenta da Veiga, e do ex-governador Antonio Anastasia, que briga por vaga no Senado, Aécio Neves confirmou decisão anunciada pela manhã por Pimenta, em Contagem (MG), de que o partido vai acionar a Justiça Eleitoral contra o PT.
Outros partidos e o Ministério Público Eleitoral (MPE) também levaram ou estudam formas de levar o caso à Justiça. Aécio disse estar indignado com o que está acontecendo em Minas Gerais, ;sobretudo em relação às últimas denúncias a respeito do uso de uma empresa centenária como os Correios para a campanha eleitoral dos nossos adversários;. Segundo o presidenciável, a ação será apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ;abuso de poder político;.
Conforme o candidato, o fato de as correspondências, que, segundo ele, não teriam chegado aos destinatários, atrapalhou a comunicação da campanha. ;(O material) poderia levar informações aos eleitores mineiros;, reclamou Aécio, afirmando que o PT ;atenta contra a democracia;. ;Essa forma de o PT governar, apropriando-se do Estado como se fosse seu patrimônio, tem que ser encerrada, e os responsáveis têm que ser exemplarmente punidos. Não é possível que continuemos a assistir a essa apropriação do Estado nacional por um partido político;, disse.
Leia mais notícias em Eleiçõe 2014
No mesmo tom, Pimenta da Veiga afirmou pela manhã que esse tipo de conduta ;é uma prática petista;. ;É uma coisa escrachada. É o uso descarado de uma empresa séria como é os Correios. Desmoralizam a Petrobras, estão desmoralizando os Correios. É o segundo ato de abuso dos Correios. O primeiro gerou o mensalão. É inacreditável;, disse Pimenta, que anunciou uma ação judicial contra o partido governista. Para ele, o caso pode levar à cassação de Pimentel, caso ele seja eleito. ;É uma coisa nunca vista antes. É o uso descarado da máquina pública em favor de uma candidatura. Essa candidatura se tornou totalmente ilegítima. É ilegal, que levaria até mesmo à perda de mandato em caso de um êxito eleitoral;, avaliou Pimenta.
;Aparelhamento;
A candidata do PSB, Marina Silva, também criticou ontem o suposto uso dos Correios pela campanha da presidente Dilma. A pessebista afirmou haver uma ;confusão entre o partido e o governo; evidenciado no caso. ;A reeleição é uma chaga no nosso país. É uma prática que faz com que os governantes, em vez de pensar no interesse da população, façam de tudo para se reeleger, não importam os meios. Cria uma situação de aparelhamento, de uso político das instituições públicas.;
Já na tradicional entrevista coletiva no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma classificou de ;absurda; a denúncia envolvendo os Correios e sua campanha. ;Gente, vocês são jornalistas. Vocês acreditam nisso? Gente, nós estamos vivendo um momento eleitoral e fica uma situação um pouco nervosa. Isso é um absurdo;, disse a presidente, evitando se estender sobre o tema, alegando estar com uma rouquidão muito forte. Questionada se os Correios estariam trabalhando a favor da candidatura, Dilma desconversou: ;Gente, eu não vou responder. Eu dei entrevista para vocês, estou sem voz. Estou tentando fazer gargarejo;.
O jornal O Estado de S. Paulo publicou em seu site, na terça-feira, uma reportagem em que mostra Durval Ângelo durante uma reunião com servidores dos Correios em que teria dito que a estatal ajudou as candidaturas de Dilma e de Pimentel a estarem em primeiro lugar nas pesquisas no estado.
Resposta
Em nota, Durval Ângelo afirma que sua candidatura tem o apoio e até a militância de trabalhadores dos Correios, assim como de diversas categorias, como servidores da saúde, da educação, trabalhadores da indústria extrativa das áreas de mineração e reflorestamento. ;É natural que isso aconteça, pois sempre tive como mote de atuação a defesa dos direitos dos trabalhadores;, diz o deputado. Segundo ele, não há qualquer adesão da empresa Correios, mas ;de pessoas, que, como quaisquer outras, têm o direito constitucional de, como cidadãs, se engajarem politicamente;. Para ele, é um ato comum e democrático trabalhadores elegerem quem melhor representa suas lutas e ideais. Na nota, Durval reitera que a reunião mostrada no vídeo foi realizada fora do expediente de trabalho dos funcionários dos Correios. ;Tratou-se de uma atividade normal da campanha, aberta e, inclusive, divulgada para a imprensa e postada nas redes sociais.;
Também por meio de nota, os Correios negaram haver qualquer irregularidade. A estatal afirma, no texto, que as denúncias de boicote no envio de material do PSDB aos eleitores ;não procedem; e que a entrega de material de campanha ;de todos os candidatos está sendo realizada normalmente, em todas as partes do Brasil, dentro do cronograma;. Segundo a nota, nos últimos dois meses, foram entregues 11,2 milhões de itens ;referentes à campanha de Aécio Neves;. Em relação ao vídeo, a estatal ressalta que a atuação de funcionários ;em atividades político-partidárias jamais pode ser entendida como atuação da empresa;. ;A participação de algum profissional, como cidadão, nessa ou em outra atividade, fora do âmbito dos Correios e fora do seu expediente de trabalho, diz respeito à pessoa, e não à empresa. Ao que nos consta, a referida reunião ocorreu no período noturno e fora dos Correios e não utilizou qualquer recurso da instituição. Portanto, não diz respeito à empresa;, salienta.
Colaboraram Maria Clara Prates e Daniel Camargos