postado em 04/10/2014 16:51
O voto do brasileiro é orientado por percepções como padrão de vida, identidade com o candidato, posicionamento sobre alguns temas e mesmo vantagens imediatas. A avaliação é de especialistas consultados pela Agência Brasil. Eles destacam que o voto partidário está em baixa. Quanto ao desejo de mudanças, expresso nas manifestações de junho de 2013, a interpretação é que, embora alguns candidatos tenham incorporado o tema à campanha, a influência no pleito é pouca.
[SAIBAMAIS]Na visão da cientista política Raquel Boing Marinucci, professora da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Centro Universitário de Brasília, o voto dos brasileiros é menos emotivo do que se imagina. %u201CMuitos defendem, por exemplo, que os beneficiários de programas sociais criariam laço afetivo ou tradicional com o governo. Eu faço leitura diferente. Para mim, as pessoas que sentem diferença no padrão de vida e atribuem ao governo, votando nele ou não, estão fazendo cálculo racional, como descrito nos manuais de teoria política%u201D, observa.
Entretanto, Cláudio Gurgel, cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense, critica o que considera distorções desse tipo de critério do eleitor, como o voto por vantagens pessoais e imediatas. %u201CEssa situação se manifesta muito em sociedades profundamente desiguais e de população muito carente, que é o caso brasileiro%u201D. Cláudio ressalta que o eleitor pode ter outros critérios, como identificação com o perfil do candidato ou a concordância com suas ideias.
Caso, por exemplo, de eleitor e candidato serem professores, ou de identidade se ambos forem portadores de deficiência, segundo ele. "Neste caso, o eleitor vota naquele que mais tem identidade com ele. Outro aspecto é a subjetividade do eleitor. [Ele] concorda com as ideias do candidato e vota nele. O candidato defende a legalização do aborto, e o eleitor está de acordo com isto%u201D, explica o professor.
O atendimento de demandas imediatas será um dos fatores a nortear o voto do vendedor Leilton Jesus da Cunha, 28 anos, morador em Samambaia, cidade a 25 quilômetros da região central de Brasília. A família de Leilton está inscrita em um cadastro habitacional do governo local, e pretende dar preferência ao candidato que considera mais capaz de trabalhar para que recebam o imóvel. No entanto, o jovem diz também prestar atenção a propostas nas áreas de saúde e transporte público.
Mrador do Paranoá, a aproximadamente 20 quilômetros de Brasília, o aposentado Jonas Ferreira dos Santos, 61 anos, acredita que a função do político eleito é cuidar da população. %u201CAcredito que tem que ser como um pai de família. O que um pai e uma mãe fazem para seus filhos, tem que fazer para a população. Também não tem que ficar se gabando de que fez isso ou aquilo, pois não é mais que obrigação. Todas as propostas são importantes, em saúde, educação, transporte%u201D, diz.
Critérios como os levados em conta por Leilton e Jonas corroboram a avaliação de Raquel Marinucci e Cláudio Gurgel, de que o voto partidário tem pouco espaço no país. De acordo com Raquel, %u201Cpesquisas têm mostrado que o voto em partido diminuiu no Brasil%u201D. Cláudio afirma que %u201Cos brasileiros já foram mais politizados, e há evidente rebaixamento da escala de valores%u201D.
Raquel ressalta, no entanto, que o eleitor não deve ser crucificado por sua despolitização. %u201CAcho complicado responsabilizar o eleitor pelos problemas da política brasileira. A falta de confiança nas instituições, as sequelas do autoritarismo e a pouca transparência não colaboram na formação política do nosso eleitorado%u201D, comenta. Cláudio concorda. %u201COs partidos perderam muito com o fracasso doutrinário e programático de todos eles%u201D, avalia.
Com relação às manifestações do ano passado, Raquel Marinucci destaca que as reivindicações feitas não encabeçam as discussões da campanha. %u201CNão vejo um eixo concreto, norteador das manifestações, que esteja pautando as eleições. Falar em mudança pura e simplesmente é muito vago. A questão do transporte urbano, estopim dos protestos e um problema fundamental, não está no topo da agenda de nenhum candidato. Se estivesse, aí sim, teríamos algo novo%u201D, acredita. Cláudio Gurgel também considera as eleições atuais %u201Ciguais às outras%u201D. %u201CInfelizmente, a memória dos eventos é sempre muito passageira. O povo já esqueceu o que aconteceu nos eventos, passeatas, manifestações, choques, prisões%u201D, comenta.
A desilusão com partidos e instituições, mencionada pelos especialistas, é o motivo pelo qual o educador físico Antônio Alves dos Santos, 39 anos, morador do Guará, a 11 quilômetros de Brasília, não pretende dar seu voto a nenhum candidato. %u201CEstou desiludido desde a última eleição, mas nesta ficou pior. Aumentou a baixaria. Se eu pudesse, nem ficaria aqui. Viajaria. Vou anular [o voto] ou pagar multa depois. Não dá nem para pensar [em votar], você não tem para onde correr%u201D, afirma.
Já a telefonista Aparecida Barros, 50 anos, moradora da Cidade Ocidental, em Goiás, a cerca de 48 quilômetros de Brasília, diz que as eleições %u201Cestão a mesma coisa de sempre, as mesmas promessas%u201D. Mesmo assim, tem esperança. %u201CA gente não pode desistir. Eu não vou anular o voto, tenho os meus candidatos%u201D, conta. Para ela, na hora de escolher em quem votar, é importante verificar se o candidato tem a ficha limpa. Aparecida diz também prestar atenção às propostas para saúde e educação.