Eleições 2014

Renovação na Câmara deve chegar a 50% e marcar a saída de caciques

Relações entre Congresso Nacional e Palácio do Planalto devem ser permanecer complicadas, qualquer que seja o eleito, dizem especialistas

postado em 04/10/2014 21:00
A renovação esperada de 50% dos nomes da Câmara dos Deputados não deve trazer alterações significativas na composição das bancadas na Casa. No Senado, apesar de um pequeno fortalecimento do PSDB e PSB, o quadro também é de estabilidade. A nova composição do Congresso, com nomes de peso dando adeus à vida parlamentar, não deve trazer facilidade para o candidato que assumir a Presidência da República, especialmente para os candidatos de oposição, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB). Mesmo Dilma Rousseff (PT), que tem uma confortável base formal, dificilmente conseguirá debelar as rebeliões que marcaram relações com o Congresso no primeiro mandato.

[SAIBAMAIS]Outro fator que dificulta as negociações é a saída de cena de boa parte da ;elite; da Câmara e do Senado. ;Isso significa que vamos ter novos líderes partidários, sem o traquejo, a experiência e a representatividade dos atuais, o que é um fator dificultador da agregação, da organização de consensos;, analisa Antônio Queiroz, analista político e diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Não estarão na nova composição do Congresso nomes como os dos senadores José Sarney (PMDB-AP), Pedro Simon (PMDB-RS) e Eduardo Braga (PMDB-RN), e dos deputados federais Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Casa, Inocêncio Oliveira (PR-PE) e Beto Albuquerque (PSB-RS).

;O PMDB não iria para a base, pelo menos no primeiro ano, de qualquer outro candidato que não fosse do PT;, avalia Queiroz. A resistência do maior partido na Câmara e no Senado não é a única dificuldade que os candidatos de oposição devem enfrentar. ;Aécio e Marina partem de uma base muito pequena e teriam de fazer uma série de concessões para formar uma base média ; que ainda assim não teria condições de aprovar, por exemplo emendas à Constituição, que requerem um quórum qualificado;, analisa.

Para Queiroz, no entanto, a maior dificuldade de quem vier a derrotar Dilma Rousseff (PT) é a experiência da legenda enquanto oposição. ;Dilma parte com uma vantagem significativa, porque qualquer outro já terá o PT na oposição. E o PT na oposição é um canhão, com um poder enorme de atrapalhar e bloquear decisões.;

Para o cientista político Leonardo Barreto, a maior facilidade para montar uma base de apoio no Congresso também não significa um eventual segundo mandato tranquilo para Dilma Rousseff (PT). ;Ela teria uma facilidade maior para montar uma maioria formal, mas continuaria com os mesmos problemas de relacionamento com o Congresso que marcaram o governo dela;. Ele concorda que o PMDB talvez resista a apoiar imediatamente Aécio e Marina, como fez com Luís Inácio Lula da Silva em 2003, mas que o tucano atrairia aliados em pouco tempo. ;Aécio começa com uma base formal menor, mas uma boa parte dos partidos da base da Dilma migraria para um governo do PSDB muito rapidamente.;

Pressão popular

Para Barreto, Marina teria problemas de sustentação dentro do Congresso e tentaria formar maiorias por projeto, o que ela tem chamado de ;governar com os homens de bem;. ;Mas isso não tem vida longa;, analisa o doutor pela Universidade de Brasília. Para ele, o caminho natural da ambientalista seria encomendar a criação de um novo partido.

;Não pode ser a Rede, que tem seus donos e se diz pura, com outra concepção política. Poderia sair contaminada por um movimento, digamos, da velha política. Ela teria que criar um PMDB para ela, com os seus 50 a 60 deputados, retirando parlamentares de todas as siglas;. Outra estratégia da ex-senadora para lidar com o tensionamento forte que haveria com o Poder Legislativo seria conclamar a população às ruas, para pressionar o Congresso.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação