postado em 05/10/2014 05:06
Qualquer que seja o resultado das urnas neste domingo, Brasília terá, nos próximos quatro anos, um governador que conhece bem as vocações e os entraves para o desenvolvimento do DF, construiu história na capital pelo menos nas últimas três décadas, tem longa trajetória política, exerceu mandatos parlamentares e passou pelo crivo da Lei da Ficha Limpa. Se as pesquisas de intenção do eleitorado estiverem corretas, o chefe do poder Executivo será Rodrigo Rollemberg (PSB), Agnelo Queiroz (PT) ou Jofran Frejat (PR). Dificilmente a eleição será decidida hoje. Rollemberg deverá participar do segundo turno. O nome do adversário, no entanto, será definido, voto a voto. Pela primeira vez desde a autonomia política, a corrida chega indefinida ao último dia. Pesquisa Datafolha, divulgada ontem, apontou que Rollemberg terá 46% dos votos válidos. Frejat, 24%, Agnelo, 23%. Estão tecnicamente empatados, já que a margem de erro é de dois pontos percentuais. Pitiman (PSDB) aparece com 4% e Toninho do PSol, 2%. Na pesquisa Ibope, Rollemberg tem 42% dos votos válidos. Frejat conseguiu 29% e Agnelo, 22%. Pitiman e Toninho têm 4%, cada, e Perci Marrara, 1%. Conheça o perfil dos candidatos.
Fruto da geração Brasília
Filho do ex-ministro e ex-deputado Armando Rollemberg e de Teresa Sobral, o socialista conviveu com a política desde a infância. De família serjipana, nasceu no Rio de Janeiro em 1959 e mudou-se, no ano seguinte, para a nova capital. Em 1978, entrou para o curso de história na Universidade de Brasília (UnB) e teve o primeiro contato direto com a política: passou a militar no movimento estudantil. Na primeira eleição para a Câmara Legislativa, em 1990, ele não seria candidato até poucos meses antes do pleito. Tinha sido coordenador do segmento jovem do PSB por dois anos, mas o indicado a disputar a vaga seria seu irmão mais velho, Armando. Na mesma época, no entanto, o familiar se mudou para a Europa. Rollemberg, então, tornou-se candidato. Com pouco mais de 2 mil votos, acabou derrotado. Em 1994, voltou a concorrer, ficou como suplente e assumiu o mandato. Participou como integrante da CPI da Grilagem (foto) e se aprofundou nas questões fundiárias. A relação ao PT levou o PSB a indicá-lo para a secretaria de Turismo no governo do então petista Cristovam Buarque. Permaneceu no cargo até 1998, quando saiu da pasta para tentar, pela terceira vez, ser distrital.
[SAIBAMAIS]Com quase 16 mil votos, foi o quinto mais votado. Ganhou projeção principalmente pelo combate à grilagem. Em 2002, rompeu com o PT para se lançar a governador. Calculava fazer uma votação na casa dos 15%. Os planos fracassaram, e ele não passou dos 7%. Nessa época, Rollemberg aproximou-se daquele que passaria a ser seu padrinho político, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto num acidente de avião em agosto último. Campos, então ministro de Ciência e Tecnologia, convidou o atual senador para assumir a secretaria de Inclusão Social da pasta, em 2004. Dois anos depois, o socialista disputou um assento na Câmara dos Deputados e, com pouco mais de 55 mil votos, entrou na última das oito vagas pelo DF. Na última eleição, a aliança nacional entre PT, PDT e PSB se repetiu no DF. Com 33% dos votos, o socialista se elegeu senador. Dois anos depois, rompeu mais uma vez com o PT e passou a fazer oposição ao governo local. Apesar de não ter nascido no DF, Rollemberg afirmou, durante toda a campanha, que chegou a hora de a ;geração Brasília; governar. Isso porque ele veio para cá ainda bebê. "Sou fruto da escola pública da capital. Estudei em colégios tradicionais, como a Escola Classe 107 Sul, o Setor Leste e o Elefante Branco", recorda (foto). Mesmo com a concorrida agenda de candidato, não deixa a família de lado. Com mais de 100 integrantes, os Rollemberg são tradicionais na cidade. Entre uma atividade e outra, ele se esforça para almoçar na casa da mãe, na Asa Sul.
O amor pelo esporte e a medicina
Nascido e criado em Itapetinga, município baiano, Agnelo dos Santos Queiroz Filho, 55 anos, passou a infância e a adolescência jogando bola e estudando na pequena cidade, que hoje tem 75 mil habitantes. O gosto pela vida pública começou apenas nos anos 1980. Em Brasília, casado e com dois filhos, Agnelo foi deputado distrital, federal, ministro, diretor da Anvisa e governador. Tenta a reeleição com a proposta de melhorar principalmente a saúde e a educação.
Botafoguense, Agnelo começou a vida escolar no Colégio São José, na Rua Maria Quitéria, em Itapetinga. Cursando a 8; série do ensino fundamental, alto e magérrimo, o menino era bom de bola. Quem garante o elogio é Manoel Catarino Neto, 59 anos, hoje um dos diretores da instituição. ;Lembro -me dele como um menino bem-educado, sem problemas e que, além do futsal, gostava muito de estudar;, conta Manoel. Desde que deixou o colégio, Agnelo não encontrou mais Manoel. O atual governador até voltou à cidade de origem, mas só viu o pai de Manoel, Edirani Goes. ;Ele tirou uma foto com meu pai, e a imagem está guardada na escola. Temos um orgulho muito grande do filho ilustre;, elogia Manoel.
Agnelo cursou medicina na Universidade Federal da Bahia. A matéria preferida era biologia e, com facilidade para as disciplinas exatas, o estudante dava aulas particulares. Ainda na universidade, em abril de 1979, Agnelo conheceu Ilza, também estudante de medicina. O primeiro encontro ocorreu durante um estágio em uma maternidade. Dois anos depois, os dois se casaram (foto). Em 1983, Agnelo formou-se e fez uma prova para residência em cirurgia-geral na capital do país. Aprovado, o médico trouxe a mulher para Brasília, ainda no começo dos anos 1980. Aqui, logo assumiu a presidência da Associação Nacional dos Médicos Residentes. Começou, então, uma corrida na política. Em 1990, conquistou o primeiro mandato na Câmara Legislativa, pelo PCdoB, com 4.387 votos (foto). Quatro anos depois, conseguiu uma vaga na Câmara dos Deputados, onde trabalhou por três mandatos consecutivos.
Em 2003, Agnelo assumiu o Ministério dos Esportes. Em 2007, assumiu a direção da Anvisa. No ano seguinte, desfiliou-se do PCdoB e se filiou ao PT. Nas eleições de 2010, Agnelo Queiroz obteve 66% dos votos válidos, no segundo turno, em uma disputa com Weslian Roriz. Entre correligionários, o petista é conhecido pela tranquilidade e pela paciência. Ao longo dos últimos meses, nas agendas de campanha, esteve sempre acompanhado de Ilza Queiroz. ;É a pessoa em quem confio, gosto e acredito nos sonhos;, contou a primeira-dama.
Energia e experiência
Aos 77 anos, Jofran Frejat não reclama de cumprir sete a oito compromissos por dia durante a campanha. ;Vamos em frente, minha gente;, diz, animado. Toda a energia e disposição demonstrada na corrida eleitoral faz parte do perfil desse piauiense nascido em Floriano e que se transferiu ainda jovem para o Rio de Janeiro. Na cidade, aportou para tentar realizar um sonho familiar e, em especial, de sua mãe, Adélia. Vindo de família humilde, Frejat formou-se em 1962 pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. No dia da formatura (veja foto), as lágrimas nos olhos da mãe, vendo o filho, caçula de 14 irmãos, formado ;doutor;, é cena que jamais se apagou na memória deste médico-cirurgião que fez carreira profissional e política em Brasília.
Frejat chegou à nova capital logo nos primeiros anos da cidade. Começou a trabalhar como médico e, anos depois, tornou-se diretor do Instituto Médico-Legal (IML), em 1973. Durante muito tempo deu plantão duplo, como cirurgião e legista. Em 1979, veio o primeiro convite para a Secretaria de Saúde, no governo Aimé Lamaison, onde ficou até 1983 ; foram três outras experiências na pasta, com Joaquim Roriz. Das suas passagens pelo Executivo, ainda persistem as lembranças de seu rigor. Levantava-se de madrugada e aparecia de surpresa nos pronto-socorros. Queria saber se as equipes estavam trabalhando de fato. Inaugurou centros de saúde e hospitais. (foto). A entrada na política se deu em 1986, quando se elegeu deputado federal, então pelo extinto PFL ; hoje DEM. Foi um dos deputados constituintes e participou ativamente da elaboração da nova Constituição, aprovada em 1988. Foram, ao todo, cinco mandatos na Câmara dos Deputados. Vitorioso em todas as campanhas proporcionais, ele não obteve o mesmo êxito nas disputas majoritárias. Foi derrotado na corrida ao Senado, em 2002, e também como vice de Weslian Roriz, em 2010. Frejat chega a 2014 para tentar mudar sua própria história. Acha que tem muito fôlego e boa vontade para fazer um governo produtivo. ;Tenho o que os outros não têm: experiência;, avisa.
Frejat se casou duas vezes, tendo três filhos no primeiro casamento e uma menina, no segundo. Tem cinco netos. Mesmo tendo ocupado vários cargos e funções ao longo de mais de quatro décadas de vida pública, o candidato nunca foi ausente do ambiente familiar. ;Ele almoçava e jantava com a gente, levava na escola, dava bronca e cobrava lição de casa. Também encontrava tempo para brincadeiras. Sempre foi muito presente;, conta o filho Guilherme, de 39 anos.