A apuração das urnas neste domingo adicionará mais um capítulo na disputa entre os partidos políticos pelo controle dos cargos e dos cofres dos estados brasileiros e do DF. De acordo com as últimas pesquisas eleitorais realizadas antes do pleito, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) deve ser o grande vencedor das disputas regionais deste ano. Controlando atualmente sete estados, o partido presidido por Michel Temer ; candidato à reeleição na Vice-Presidência da República ; lidera a disputa em nove unidades da Federação, e em cinco delas (Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Sergipe e Tocantins), a legenda tem chances de emplacar o governador já no primeiro turno.
[SAIBAMAIS]Em contrapartida, cinco siglas correm o risco de encolher. É o caso do PSB, que, depois de sair da eleição de 2010 governando seis estados, viu o número cair para quatro após as desincompatibilizações e, hoje, lidera a corrida apenas em Pernambuco, com Paulo Câmara; no Distrito Federal, com o senador Rodrigo Rollemberg; e em Roraima, com Chico Rodrigues. O DEM, que tem hoje dois governos, tem chance apenas na Bahia, onde está empatado com o PT. A situação é mais dramática para Pros, PP e SDD, que devem ficar sem Executivos estaduais (veja quadro).
Entre o PT e o PSDB, a grande questão é a briga por Minas Gerais ; segundo maior colégio eleitoral e terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) do país. Nos demais estados, os dois partidos devem manter desempenho similar ao de 2010. Na terra natal do presidenciável Aécio Neves (PSDB), o correligionário Pimenta da Veiga tenta manter a hegemonia dos tucanos no estado que eles governam há 12 anos. O petista Fernando Pimentel é o principal adversário na disputa mineira.
No restante do país, o PSDB lidera a corrida em cinco estados. Nas eleições passadas, o partido se tornou a legenda com o maior número de governadores, com oito eleitos, mas três se desincompatibilizaram do cargo para concorrer nas eleições de outubro. Para o PT, o quadro é estável, apesar do revés anunciado no Distrito Federal, onde o governador e candidato à reeleição, Agnelo Queiroz, corre o risco de ficar de fora do segundo turno. Ao todo, os petistas lideram a disputa em cinco estados, mesmo número de unidades da Federação comandadas pelo partido hoje.
Entre os três estados mais populosos e com os maiores orçamentos do país, a situação segue indefinida somente no Rio de Janeiro. Lá, o PMDB domina a corrida eleitoral com o atual governador, Luiz Fernando Pezão, na frente, embora a vantagem dele sobre o segundo colocado, Anthony Garotinho (PR), seja de apenas nove pontos percentuais, de acordo com o último levantamento do Datafolha, divulgado na quarta-feira passada. Ao todo, as mais recentes pesquisas de intenção de voto indicam que a corrida pode acabar já no primeiro turno em pelo menos 14 estados brasileiros. Depois do PMDB, são os tucanos que têm as melhores chances de liquidar a fatura hoje, podendo emplacar os candidatos à reeleição Geraldo Alckmin (SP), Beto Richa (PR) e Cássio Cunha Lima (PB).
No Nordeste, a maior reviravolta ocorreu no Maranhão, onde o candidato do PCdoB, Flávio Dino, tem chances de vencer já no primeiro turno o peemedebista Lobão Filho, herdeiro do ministro de Minas e Energia e ex-governador do estado Edison Lobão. Se eleito, Dino romperá o ciclo de mais de 30 anos de governadores do estado apoiados pelo senador José Sarney (PMDB-AP).
;Inflexão;
Para Rudá Ricci, sociólogo e cientista político pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as eleições deste ano representarão uma ;inflexão; importante no cenário partidário brasileiro, com o enfraquecimento de dois dos três principais partidos: o PT e o PSDB. ;Eu brinco que o PSDB corre o risco de sair destas eleições como o partido da Revolução Constitucionalista de 1932. Eles correm o risco de se tornarem praticamente um partido paulista;, diz o analista. ;Enquanto isso, o PT está tendo a eleição mais difícil desde 2002. Depois das manifestações de junho passado, só agora o partido começa a respirar um pouco mais aliviado;, comenta.
O cientista político destaca ainda que a queda de Marina Silva nas últimas semanas pode ter influenciado negativamente o desempenho dos candidatos do PSB nos estados. ;O PSB sofre o ;efeito Marina; de uma forma muito clara. A queda livre da candidata ao Planalto, nas últimas semanas, acabou contaminando os candidatos aos governos estaduais.;
Ricci também chama a atenção para o alto percentual de eleitores indecisos nas eleições estaduais. Em Minas, brancos, nulos e indecisos somavam 22%, segundo o levantamento Datafolha de quarta. Em São Paulo, esse percentual era de 14%, segundo a mesma pesquisa. Para o cientista político, esses números, especialmente altos na Região Sudeste, são o rescaldo das manifestações de junho passado. ;Há ainda cerca de 1 milhão de eleitores entre 16 e 17 anos que não se cadastraram para votar. Há espaço para uma terceira via, formada por uma parte do eleitorado que se encontra órfã de representação;, disse.