Paulo de Tarso Lyra
postado em 05/10/2014 05:00
Os quase 143 milhões de eleitores que vão às urnas hoje decidirão uma das corridas presidenciais mais acirradas, tensas e emocionantes da recente história da democratização brasileira. Com os últimos resultados dos institutos de pesquisa apontando, pela primeira vez, vantagem numérica de Aécio Neves (PSDB) sobre Marina Silva (PSB) na disputa para ver quem chega ao segundo turno, o embate de hoje será decidido voto a voto para saber quem será o adversário de Dilma Rousseff (PT) na briga pelo Palácio do Planalto.
Os três institutos que divulgaram pesquisas ontem ; a última antes das sondagens de boca de urna, projetaram uma repetição da tradicional polarização entre PT e PSDB, cenário que a cúpula petista, internamente, já trata como possibilidade concreta. Pelo CNT/MDA, Dilma aparece com 40,6% das intenções de voto, Aécio soma 24%, e Marina tem 21,4%. No segundo turno, Dilma venceria qualquer um dos dois adversários: 46% a 40,8% contra o tucano e 47,6% a 37,9% da socialista.
Datafolha e Ibope divulgaram os votos válidos na reta final de primeiro turno. Os números confirmaram o levantamento do CNT/MDA. Pelo Datafolha, Dilma teria 44% dos votos válidos; Aécio, 26%; e Marina, 24%. No segundo turno, também levando-se em conta os votos válidos, a petista venceria Aécio por 53% a 47%. No embate com Marina, a presidente se reelegeria com uma folga maior: 55% a 47%. Nos votos totais, a presidente se reelegeria com 48%, contra 42% do tucano; e com 49% sobre 39% registrados pela socialista.
[SAIBAMAIS]Já no Ibope, a petista aparece com 46% dos votos válidos, Aécio soma 27% e Marina tem 24%. No segundo turno, sem levar em conta os votos válidos, os resultados favoráveis a Dilma se repetem, independentemente do adversário: a presidente ganharia o direito de mais quatro anos no Planalto por 45% a 37% se enfrentar Aécio ou Marina.
Mesmo com a tendência de polarização entre petistas e tucanos que se repete há 20 anos ; desde que Fernando Henrique Cardoso se elegeu em primeiro turno no embate com o petista Luiz Inácio Lula da Silva ;, essa foi a eleição com mais oscilações desde 2002, e a que teve a maior virada na reta final desde a de 1989.
Na primeira eleição de Lula, em 2002, após oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso, o petista chegou a dividir a liderança na disputa com a candidata do PFL, Roseana Sarney, então governadora do Maranhão. Mas uma ação da Polícia Federal acabou com os sonhos dos pefelistas. A Operação Lunus apreendeu R$ 1,34 milhão não declarados, Roseana abdicou da candidatura presidencial e decidiu concorrer ao Senado, abrindo caminho para a primeira eleição de Lula ; o pai dela, o senador José Sarney (PMDB-AP), chegou a apoiar o petista, por atribuir ao tucano José Serra, então candidato do PSDB ao Planalto, a deflagração da operação contra Roseana.
Virada
A virada mais expressiva, no entanto, aconteceu durante a campanha de 1989, quando, nos últimos 15 dias de campanha, Lula ultrapassou o pedetista Leonel Brizola. Naquela época, por não haver urna eletrônica ; a contagem dos votos era manual ;, a apuração foi tensa até a confirmação de que Lula, e não Brizola, disputaria o segundo turno contra Fernando Collor (PRN).
A atual disputa eleitoral caminhava, a princípio, para a polarização PT x PSDB. As coisas mudaram em 13 de agosto, com a morte de Eduardo Campos, então presidenciável do PSB, em um acidente aéreo em Santos (SP). Impulsionada pela comoção e pelo espírito de mudança, Marina Silva tornou-se candidata e chegou a empatar tecnicamente com Dilma no primeiro lugar e a liderar com folga no segundo. Perdeu fôlego e impressionantes 12 milhões de votos nos levantamentos feitos do início de setembro até agora, e foi ultrapassada novamente por Aécio.