postado em 05/10/2014 05:00
Depois de ;matar um leão por dia; ; como tem dito ;, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, chega ao fim do primeiro turno em um cenário de indefinição, bem diferente do que enfrentou em 2010. Pupila do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a petista de 66 anos vislumbrava a possibilidade de vencer no primeiro turno o candidato do PSDB, José Serra, e a concorrente do PV, Marina Silva. Agora, o tucano Aécio Neves e a mesma Marina duelam para seguir para a próxima rodada. Com o passaporte praticamente carimbado para o segundo turno, a ex-ministra de Lula, mineira de Belo Horizonte, com raízes em Porto Alegre, continua sem saber quem será o rival. Os adversários da ex-ministra de Lula e uma das fundadoras do Partido Democrático Trabalhista (PDT), porém, não são apenas os dois principais candidatos, mas as próprias adversidades da sua gestão e a crise da Petrobras.
Antes de iniciar o pleito que se encerra hoje, entretanto, a presidente, que leva consigo as marcas de quem combateu a ditadura, enfrentou outras ;eleições;. Já no início do ano, na hora de arrumar a casa para estruturar o último ano de governo, a presidente ficou refém dos aliados. Por sua fama de autoritária e centralizadora, a reforma ministerial foi cercada de reclamações de parlamentares aliados, que resmungavam sobre a falta de diálogo. A divisão dos ministérios reforçou a rusga com o maior aliado, o PMDB, dono da segunda maior bancada da Câmara. Nem mesmo a série de tentativas de minimizar os atritos dos ministros empossados este ano na Casa Civil, Aloizio Mercadante, e na Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, foi capaz de apagar a brasa, sempre na iminência de reacender o fogo.
O maior obstáculo foi na instalação da CPI da Petrobras, postergada o máximo possível e com muito esforço pelos novos articuladores políticos. A tentativa de evitar que o tema contaminasse a campanha, entretanto, mostrou-se em vão. Mesmo com depoimentos chochos e perguntas e respostas combinadas, a imagem da presidente-gerentona, responsável pela faxina, que em 2011 teria varrido a corrupção dos ministérios, acabou desgastada com os ilícitos da turma do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Cada passo dos protagonistas, que iam além do que o Planalto conseguia controlar, marcou o processo e alimentou a artilharia dos adversários.
Ainda assim, a economista, dona de um temperamento forte, entrou na disputa na frente. Com a morte de Eduardo Campos e a escolha de Marina Silva para liderar a chapa, veio a primeira chance real de derrota. No calor da comoção, a ex-senadora disparou nas pesquisas e chegou a ser preferida para vencer no segundo turno. O foco de Dilma, então, deixou de ser exclusivo em Aécio e passou a refletir na ex-colega de governo da época Lula. Programas de tevê e entrevistas eram focados na desconstrução da candidata socialista. A cada vez que se sentia ameaçada, a presidente subia o tom contra Marina. Disse que ela mentia e não tinha opinião própria. Na reta final, as pesquisas de intenção de voto indicaram a queda de Marina e voltaram a mostrar Dilma na liderança. ;Eu não disse nenhuma inverdade. Tudo que falo sobre Marina está no programa dela;, defende a presidente.
Esquema bilionário
A gestão da antiga militante do PDT e filiada ao PT em 2001 na presidência do Conselho de Administração da Petrobras; a demissão de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal, preso na Operação Lava-Jato, acusado de participar de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro; a delação premiada dele e do doleiro Alberto Youssef, também preso na operação; assim como a compra da Refinaria de Pasadena (EUA) foram lembrados quase que diariamente nos últimos dois meses de campanha. Do outro lado, a primeira mulher presidente do país também quase que diariamente repetia o discurso ensaiado: ;A Polícia Federal, no meu governo, foi quem investigou todos esses ilícitos. Não varri nada para debaixo de tapete;.
A pecha da corrupção, no entanto, seguiu na cola do PT, pela ressaca das prisões do mensalão, feitas no fim do ano passado. Também abalaram a imagem de Dilma as manifestações de junho, com pedidos por mudança. Na época, a popularidade do governo despencou 27 pontos percentuais em três semanas. O ;Volta, Lula; também foi um calo que acompanhou a presidente por boa parte deste ano e chegou a latejar com a apresentação de um manifesto feito pelo líder do PR na Câmara, Bernardo Vasconcellos (MG), assinado por 20 de 36 parlamentares da sigla, em que pedia um reencontro com os princípios da aliança firmada pelo ex-presidente.
Do seu currículo com experiências no comando do Ministério de Minas e Energia e na Casa Civil, o modus operandi de administrar a economia foi o que mais sofreu ataques. Inflação próxima ao teto da meta, atuação do Banco Central, inchaço da máquina e baixo crescimento do país serviram de combustível para a troca de farpas entre ela e os principais adversários.
DILMA VANA ROUSSEFF (PT)
Presidente
Nascimento: 14/12/1947, em Belo Horizonte (MG)
Estado civil: divorciada
Formação: graduada em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
TRAJETÓRIA
1970 Aos 18 anos, militante contra a ditadura no Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), Dilma é presa e torturada por quase três anos.
1973 Muda-se para Porto Alegre, onde se gradua em economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
1979 Faz campanha pela anistia e ajuda a fundar o Partido Democrático Trabalhista (PDT) no Rio Grande do Sul.
1986 É nomeada secretária de Fazenda de Porto Alegre.
1993 Torna-se secretária de Energia, Minas e Comunicação do Rio Grande do Sul.
2001 Desfilia-se do PDT e passa a integrar o Partido dos Trabalhadores (PT).
2003 No governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assume o comando do Ministério de Minas e Energia, no qual fica por dois anos. Ao sair do ministério, passa a chefiar a Casa Civil.
2010 É escolhida pelo PT para suceder o então presidente Lula na campanha pela Presidência da República. Deixa o governo para fazer campanha e é eleita, no segundo turno, em uma disputa com José Serra.
2013 Depois de um período com popularidade alta, sofre uma brusca queda na aprovação após as manifestações de junho.
AS ARMAS
; Máquina pública em mãos
; Programas de governo carimbados pelo PT
; Maior tempo de tevê
CAMPANHA 2014
Vice
; Michel Temer (PMDB), atual vice-presidente da República
Aliados
; PMDB, PSD, PP, PR, Pros, PDT, PCdoB e PRB
Contas*
Receita: R$ 123.307.942,74
Despesa: R$ 56.194.961,89
* Referem-se à segunda parcial da prestação de contas, apresentada pelos candidatos entre 28 de agosto e 2 de setembro