postado em 06/10/2014 06:15
Os institutos de pesquisa erraram o desfecho das eleições em três dos cinco estados mais populosos do país e acabaram surpreendidos pela vantagem de oito pontos percentuais que a presidente Dilma Rousseff (PT) imprimiu sobre o senador Aécio Neves (PSDB). Até sábado, os principais levantamentos deixavam em aberto a possibilidade de reeleição de Dilma ainda no primeiro turno.O resultado das urnas foi surpreendente até para experientes analistas políticos. ;Não há explicação para uma diferença tão grande como essa;, disse, de Nova York, o chefe de pesquisas para a América Latina da Nomura Securities, Tony Volpon. Um exemplo é o levantamento do Ibope do último sábado, no qual a petista teria 46% dos votos válidos e Aécio e Marina Silva (PSB) estavam tecnicamente empatados, com 27% e 24%, respectivamente. Os números finais, no entanto, foram bem diferentes: Dilma teve 41,6%, Aécio, 33,6% e Marina, 21,3%.
O erro mais grosseiro aconteceu na Bahia, o quarto maior colégio eleitoral. Levantamento Ibope de 24 de setembro sugeria que a disputa para o governo do estado seria resolvida em segundo turno. Nele, Paulo Souto (DEM) estava com 43% das intenções e Rui Costa (PT) com apenas 27%. No sábado, o mesmo instituto divulgou uma nova pesquisa, sugerindo empate técnico entre os candidatos. No fim, Rui Costa saiu vitorioso com 54,5% dos votos válidos.
O cientista político João Paulo Peixoto, professor da Universidade de Brasília (UnB), não descarta a possibilidade de ter havido erro nas pesquisas. ;Tem que ver a metodologia que foi usada (pelo Ibope);. Peixoto considera, no entanto, a dose de imprevisibilidade em qualquer eleição. ;Levantamentos refletem um momento específico, e sempre há o inesperado no dia do pleito;, emendou.
Reviravolta
Não só na Bahia que os institutos erraram o desfecho das eleições. No Rio Grande do Sul, houve uma verdadeira reviravolta. O Ibope mostrava, até sexta-feira, que o cenário mais provável era a realização de um segundo turno entre o atual governador Tarso Genro (PT), com 35% de preferência, e a senadora Ana Amélia Lemos (PP), com 27%. José Ivo Sartori (PMDB), o terceiro colocado, tinha apenas 20% das intenções. Nas urnas, Sartori ficou em primeiro com 40%, seguido por Tarso Genro, com 32%.
No Rio de Janeiro, levantamento do Datafolha na última quinta-feira sugeria a realização de um segundo turno entre o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), com 30%, e o deputado Anthony Garotinho (PR), com 21%. No fim, a segunda vaga ficou com Crivella, que alcançou 20% dos votos válidos.
Diante de tantas inconsistências, é possível que a credibilidade dos institutos de pesquisas seja posta em xeque, acredita o cientista político João Augusto de Castro Neves, diretor para a América Latina da consultoria Eurasia Group, em entrevista por telefone, de Washington. ;A partir de agora, todo mundo vai ficar mais cético em relação aos resultados apresentados. Mas acredito que os próprios institutos tentarão corrigir o erro.;