postado em 06/10/2014 06:01
O PSB viverá a partir de hoje uma queda de braço, com tendência à divisão e ao esfacelamento. O sinal desse processo foi dado pela própria Marina Silva, ao dizer que fazia parte de um partido ;clandestino; e que cada um deverá tomar a sua decisão. O PPS, de Roberto Freire, já se reuniu e anunciou o apoio a Aécio Neves. Se a Rede Sustentabilidade, hoje a facção de Marina dentro do PSB, levar em conta o discurso de mudança que a candidata citou ontem, tende a seguir pelo mesmo caminho. Entretanto, ela ainda deixou a porta aberta para repetir o gesto de 2010 e ficar sem apoiar ninguém no segundo turno. ;Eu assumi a postura de não me recolher numa anticandidatura, o que pode ser uma tendência. Assumi o compromisso de uma mudança indo apoiar Eduardo Campos;, disse Marina, ontem à noite, em São Paulo.
A ordem agora é esperar até o fim da semana, para decantar o processo dentro do próprio PSB. Ali, a disputa latente desde o ano passado, quando da candidatura de Eduardo Campos, vai aflorar nas próximas horas. A coligação que apoiou Marina se reunirá ao longo desta semana. ;Decidimos que queremos tomar uma posição conjunta, mantendo aquilo que nos uniu, que é o programa. Temos que ser coerentes com o movimento de mudança qualificada. A sociedade brasileira está dizendo que não quer o que está aí, da forma que está aí;, acrescentou a socialista.
Essa divisão não é para menos. O PSB tem hoje fortes laços tanto com o PT quanto com o PSDB. De São Paulo, Walter Feldmann, ex-tucano, será um dos primeiros a ser contactado no sentido de tentar obter o apoio de Marina para Aécio. O mesmo ocorrerá com o vice-governador eleito de São Paulo, Márcio França, do PSB. Ambos tendem a levar o partido para um abrigo sob as asas tucanas. O economista Eduardo Gianetti da Fonseca também sugeriu o mesmo caminho. ;Mais quatro anos com Dilma não dá;, resumiu.
O PT apostará suas fichas em outros personagens dentro do PSB. Em Pernambuco, onde Marina Silva foi vitoriosa, Dilma espera contar com a ajuda do senador eleito, seu ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho, um dos que, no passado, tinha dúvidas a respeito do momento da candidatura de Eduardo Campos à Presidência, porque temia um enfraquecimento do PSB.
Outro que o PT já contactou foi o presidente do PSB, Roberto Amaral. Ele ontem recebeu um telefonema do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Conversaram sobre a necessidade de gestos de apreço do PT à ex-ministra do Meio Ambiente. Outros que entrarão em contato são os irmãos Tião e Jorge Viana, do Acre.
Briga interna
Se depender de Amaral, o PSB ficará com o PT. Em 13 de outubro, quando completa dois meses da morte de Eduardo Campos, Amaral deve assumir a presidência do partido pelos próximos três anos e, a partir daí, tentar reforçar os laços de quase 30 anos de parceria com o PT. Essa reunião do diretório foi marcada originalmente para 27 de setembro, mas, como era muito próxima do primeiro turno, e diante da reclamação dos pernambucanos, Amaral atendeu a um apelo de Renata Campos, viúva de Eduardo, para adiar o encontro e a eleição da nova comissão executiva nacional.
Agora, fora do segundo turno, o PSB retomará essa briga interna tendo como pano de fundo a definição de seus caminhos na sucessão presidencial. No ano passado, quando a candidatura de Eduardo Campos estava em discussão, e o PSDB ainda não havia se decidido por Aécio, Amaral repetia que ;o PSB não poderia servir de escada para a direita chegar ao poder;. Referia-se aos tucanos.
[SAIBAMAIS]Marina Silva, entretanto, não vê Aécio, tampouco o PSDB como ;direita;. Enxerga neles a social democracia. Embora tenha adotado o estilo ;dar a outra face; ao longo do primeiro turno, mudando de postura somente na reta final, Marina tem hoje mais restrições ao PT do que a qualquer outro partido. A mágoa é antiga. Nos bastidores, ela sempre culpou os petistas pelo fracasso da oficialização da Rede Sustentabilidade em tempo hábil de concorrer à Presidência da República pelo seu próprio partido. Em outubro do ano passado, quando ofereceu apoio a Eduardo Campos, então pré-candidato pelo PSB, Marina o fez movida por um único sentimento: o de dar o troco ao PT por não ter conseguido montar a Rede.
De lá para cá, a distância entre Marina e o antigo partido só aumentou. Essa situação se consolidou ainda mais no último debate dos candidatos a presidente da República, na TV Globo, na quinta-feira, quando Dilma atacou duramente a candidata do PSB, citando um caso de corrupção no Ministério do Meio Ambiente. Foi o único momento em que Marina perdeu o controle emocional ao longo dos vários debates que travou no primeiro turno.
Nesse instante, entretanto, os auxiliares de Marina não acreditam que ela agirá com o fígado, ou seja, apoiará Aécio Neves apenas para dar mais um bate-rebate na guerra contra o PT. Porém, há quem diga que, se o candidato do PSDB oferecer a Marina pontos de seu programa de governo como compromissos fechados de campanha, o caminho para seguir com Aécio estará dado da mesma forma que houve com o candidato do PSB, Eduardo Campos, em outubro do ano passado.
COMPARAÇÃO
22,1 milhões
Quantidade de votos recebidos por Marina Silva no primeiro turno da eleição presidencial de 2014
19,6 milhões
Total de eleitores que votaram em Marina Silva no primeiro turno da eleição presidencial de 2010
Palanque eletrônico
Capitus
; Dad Squarisi
Há personagens que viram símbolo. Citados, lembram qualidades ou defeitos pra lá de humanos. Judas é o traidor. Pinóquio, o mentiroso. Otelo, o ciumento. Jeca Tatu, a indolência. Bin Laden, o terrorista. Amélia, a mulher submissa. Leila Diniz, a liberada.
Etc. Etc. Etc.
E Capitu? A personagem de Machado de Assis virou sinônimo de dissimulação. Tem tanto talento que divide os leitores. Virada a última página de Dom Casmurro, metade acredita na traição. A outra metade aposta na honestidade da dona dos olhos de ressaca.
A fala dos presidenciáveis traz à memória a criatura do Cosme Velho. Todos esbanjam sorrisos. Marina não expõe marcas das pancadas que levou na campanha nem da surra nas urnas. Agradece a Deus, a gregos e romanos. Só faltou o papagaio. Derrotada? Nem pensar. Vai vender caro o apoio: ;Eu sou a liderança de um partido ; a Rede;. Diz que está feliz. O vice está feliz. Quem acredita?
Aécio pisa o calcanhar de aquiles petista. Fala em corrupção sem pronunciar a palavra. Promete decência e eficiência. Homenageia o homem honrado e digno que foi Eduardo Campos. Convoca seres do além. ;Não vamos nos dispersar;, pedia o vovô Tancredo. O neto idem. O que ele quer? Os votos da acriana.
Ops! ;Um, dois, três, Dilma outra vez;, canta a torcida organizada. A presidente diz que a luta vitoriosa continua porque é do povo. ;O povo unido jamais será vencido;, emenda o povo ali presente. A inquilina do Planalto interpreta os votos obtidos como recado pra seguir em frente. Medo? Apoio de Marina? Ah! Quem dera!