Eleições 2014

Distritais evangélicos conquistam sete cadeiras na Câmara Legislativa do DF

Já os representantes da segurança pública tiveram votos pulverizados e o número caiu

postado em 07/10/2014 08:54
Dos 24 deputados distritais eleitos no último domingo, sete deles são ligados a igrejas evangélicas, o que representa um aumento de 75% em relação à atual composição da Casa ; anteriormente eram quatro. Além dos religiosos, os empresários (4) e servidores públicos (6) também fizeram boas votações e serão maioria no parlamento a partir de janeiro de 2015. Apesar de os resultados representarem uma renovação de 50% da bancada, na prática não houve mudança significativa nas decisões que serão tomadas durante os próximos quatro anos, segundo especialistas ouvidos pelo Correio.

Na legislatura vigente, quatro deputados são evangélicos ; Celina Leão (PDT), Wasny de Roure(PT), Evandro Garla (PRB) e Benedito Domingos (PP). Agora, entre os sete eleitos da classe, está o campeão de votos no geral, Júlio César (PRB), com 29.384. Ele chegou a Brasília em 2012. Antes disso, tinha trabalhado por 10 anos em empresas de comunicação. No DF, assumiu a secretaria de Esporte do GDF e segue envolvido com a Igreja Universal do Reino de Deus. A explicação de Júlio César, assim como de outros representantes evangélicos, para a votação maciça é na correlação de valores morais.

;A população deu um sinal de que queria renovar. Não tenho dúvida de que está entrando muita gente com gás e disposição para ajudar a população do DF. O cristão é uma pessoa temente a Deus e procura andar com retidão e fazer o que é certo, votando em pessoas corretas;, afirmou. Apesar de ter trabalhado com esporte durante vários anos e ter como reduto eleitoral a igreja, o candidato garante que quer defender diversas bandeiras.

Crescimento natural

Para o cientista político Alexandre Gouveia, o crescimento de 75% da bancada evangélica representa um movimento social. ;O grupo religioso cresce naturalmente, com bons representantes e uma boa capacidade de mobilização. Era natural que, neste momento de escolha, os eleitores buscassem uma representação mais específica;, comentou.

A candidata do Solidariedade Sandra Faraj acompanha a explicação de Gouveia e credita a grande representação na Câmara Legislativa à força do segmento evangélico na capital. ;O fato de termos representatividade é muito positivo, pois temos valores que não devem ser desprezados. Defendemos as bandeiras da família, da justiça social e uma cidade melhor;, afirmou. Faraj destacou que é interessante analisar o fato de que as maiores votações foram de igrejas diferentes, embora da mesma religião ; Universal, Batista e Sara Nossa Terra.

O atual presidente da Casa, Wasny (PT), também associa o número de evangélicos a um discurso conservador, que prioriza a instituição familiar. ;Apesar de a nova configuração da Câmara já estar definida, ainda é cedo para saber como os deputados vão se posicionar, pois isso vai variar de acordo com o tipo de projeto do vencedor do segundo turno;, discursa.

Setor produtivo


O segundo mais votado para a Casa, depois de Júlio César, foi Robério Negreiros (PMDB). Reeleito com 25.646 votos, Robério não é mais diretor do Sindicato Patrimonial, mas segue na militância a favor do setor produtivo e afirmou que será um grande defensor do desenvolvimento econômico do DF, principalmente atraindo mais investimentos para a região. ;Tudo que envolva política tem que ter renovação de tempos em tempos, não só políticos não sendo reeleitos, como políticos que galgam outros cargos. Se não mudar, é ruim para a democracia. Se uma instituição anda errado, se não for diferente, vai continuar andando errado;, declarou.

Na opinião do deputado, a renovação deve ser de princípios e valores. ;Achei a atual legislatura fraca no sentido de posicionamentos dos parlamentares na hora em que devem firmar suas opiniões. Estou esperançoso com a mudança na Casa;, critica.

Palavra do especialista


;Um pouco mais do mesmo;

Inicialmente, tivemos um índice menor de renovação da Câmara. Das 24 cadeiras, foram nove eleitos distintos da legislatura atual. A renovação também foi baixa no aspecto de que muitos desses nove são realmente atores da política atual ; nós temos dois ex-secretários de Estado e um filho de ex-parlamentar. Efetivamente, são dois ou três atores novos que não faziam parte do cenário político, o que representa esse baixo índice de renovação. Nesse aspecto, a própria conjuntura da Câmara não mudou. A liderança permanece com o PT, que perdeu só uma posição. Contudo, dois candidatos de 2010 foram escolhidos com poucos votos, mas agora chegam com um número considerável, caso de Joe Valle e o Professor Israel Batista. Isso significa uma força considerável do voto. No próximo ano, teremos uma Câmara Legislativa que apresenta para sociedade um pouco mais do mesmo, quase a mesma estrutura, com pequenas diferenças partidárias. A mudança veio da movimentação dos partidos e uma renovação baixa.

Alexandre Gouveia, cientista político

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