Marcelo da Fonseca/Estado de Minas
postado em 12/10/2014 10:11
Desiludidos com propostas apresentadas pelos candidatos à Presidência e desconfiados das promessas feitas em palanques, 27,7 milhões de eleitores brasileiros não compareceram às zonas eleitorais no primeiro turno. O número de eleitores que não compareceram às urnas foi o mais alto desde o pleito de 1998. Somados aos 4,4 milhões de eleitores que votaram em branco e mais 6,6 milhões que anularam os votos, um total de 38,7 milhões de eleitores preferiram não escolher um candidato à Presidência da República. Esse número representa 29% dos 142,8 milhões de eleitores no país, quantidade superior à votação do segundo colocado na disputa pelo Palácio do Planalto, o senador Aécio Neves (PSDB), que recebeu 34,8 milhões de votos.De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE, o alto número de eleitores que preferiram não participar da disputa no primeiro turno superou as abstenções das últimas três eleições presidenciais. O maior número de abstenções em eleições foi no primeiro turno de 1998, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) buscava a reeleição. Naquele ano, 21,5% dos eleitores não foram às urnas. Nas eleições seguintes, a abstenção passou a cair. Em 2002, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito para o primeiro mandato, a abstenção foi de 17,7%. Em 2006, quando Lula foi reeleito, o índice caiu para 16,7%. No entanto, em 2010, as abstenções voltaram a crescer, chegando a 18,1%.
[SAIBAMAIS]Para o cientista político do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Eduardo Martins, a eleição desse ano tem muitas semelhanças com a disputa de 2010, quando PT e PSDB disputaram no segundo turno o apoio dos eleitores indecisos e daqueles que votaram em Marina Silva. Ele avalia que, na segunda etapa do pleito, será importante também o comportamento de militantes dos partidos da esquerda, que costumam se engajar muito nos momentos decisivos das eleições.
Polarização
;As primeiras pesquisas mostram Aécio Neves capturando uma parcela superior que Serra (José Serra) em 2010. Todavia, há que se considerar que a polarização no primeiro turno (entre Dilma e Marina) poupou Aécio de maior confrontação;, analisa Carlos Martins. Para ele, o aumento da abstenção em 2014 está ligado com uma ;frustração em relação ao que se esperava dos governos petistas;, embora o PSDB não tenha conseguido se beneficiar com o cenário adverso do PT, como ficou provado com o grande números de eleitores que apoiaram uma terceira via.
O analista político Gaudêncio Torquato ressalta que, normalmente, os eleitores que seguem indecisos para o segundo turno se dividem entre os candidatos, e dificilmente um candidato consegue conquistar completamente os votos dados aos demais candidatos no primeiro turno.
;O segundo turno é uma fase mais objetiva, porque as pessoas podem comparar melhor os perfis de cada um. Sobre os indecisos ou aqueles que não votaram, é mais comum que cada parte se identifique com um lado. Não acredito que esse 20% de abstenção continue;, analisa Gaudêncio.
;O aumento da abstenção em 2014 está ligado com uma frustração em relação ao que se esperava dos governos petistas, embora o PSDB não tenha conseguido se beneficiar com o cenário adverso;
Carlos Eduardo Martins, cientista político
SEM CANDIDATO
Abstenção
1994 29,3%
1998 21,5%
2002 17,7%
2006 16,8%
2010 18,1%
2014 19,4%
Votos nulos
1994 3,1%
1998 10,7%
2002 7,4%
2006 5,7%
2010 5,5%
2014 5,8%
Votos em branco
1994 0,9%
1998 8%
2002 3%
2006 2,7%
2010 3,1%
2014 3,8%