postado em 23/10/2014 06:02
Privatizações em 2006, legalização do aborto em 2010. Em toda campanha eleitoral, surge um assunto que domina os debates entre os candidatos, a militância e os eleitores comuns. Nesta reta final da disputa pelo Planalto, a crise hídrica em São Paulo pode definir quem subirá a rampa do palácio em 1; de janeiro de 2015. ;Se 2% do eleitorado estiverem sofrendo com essa questão, estamos falando de 2 milhões de votos. Com um cenário tão acirrado, esses votos podem fazer falta, para um lado ou para outro;, disse o cientista político Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).
O especialista ressalta para um fato positivo: segundo ele, desta vez o debate político está sendo travado dentro da ótica das políticas públicas. ;Em 2010, isso não aconteceu em relação ao aborto. Em vez de se analisar o tema sob o prisma de política de saúde, o embate transcorreu no campo religioso. Não estamos tratando, agora, de água benta;, brincou o cientista político.
O professor do Insper considera natural que os petistas tragam o assunto para o centro do debate. ;Eles precisam colocar em xeque a gestão do PSDB de São Paulo. Se fosse o inverso, os tucanos não usariam isso na campanha? Claro que usariam;, acrescentou. Melo só não sabe dizer se a falta de água no maior estado brasileiro será suficiente para reverter o voto antipetista dos paulistas.
O PSDB já prepara a defesa. O partido vai apresentar uma representação contra o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, por crime eleitoral. Em audiência na Assembleia Legislativa de São Paulo, na manhã de terça-feira, ele classificou de ;pré-tragédia; a utilização, pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), da segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira. ;Esse senhor disse que, se não chover nada, teremos um problema de desabastecimento em abril do ano que vem;, protestou o presidente do PSDB paulista, deputado federal Duarte Nogueira.
O parlamentar lembra que não houve nenhuma mudança entre 5 de outubro, data em que ocorreu o primeiro turno das eleições presidenciais, e agora. ;Não adianta o PT querer criar esse clima de terrorismo eleitoral. Nós elegemos Geraldo Alckmin em primeiro turno, José Serra derrotou Eduardo Suplicy na disputa pelo Senado, nossa bancada de deputados federais aumentou e a dos petistas diminuiu. Os paulistas já deram a reposta nas urnas;, resumiu Nogueira.
Responsabilidades
Para José Niemeyer, coordenador de graduação e pós-graduação em relações internacionais do instituto Ibmec, nesse caso da falta de chuvas, não há como eximir o governo federal de uma parcela da responsabilidade. ;Esse governo é muito hábil ao atrair para si apenas a responsabilidade sobre ações que são fáceis de serem geridas, como o Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família. No caso de segurança pública e hídrica, o governo federal transfere toda a responsabilidade para os governos estaduais;, disse Niemeyer.
O coordenador do Ibmec lembra ainda que parte do eleitorado sensível ao PT é a que mais está sofrendo com a falta de chuvas, pois mora na periferia de São Paulo. ;Eu acho, sim, que esse tema poderá definir o voto do eleitor indeciso. Quem já era PSDB não vai mudar, mas quem está indeciso pode alterar essa posição.;