postado em 25/10/2014 11:17
No intervalo de três meses entre julho e outubro, as rodas de conversa no país sede da Copa do Mundo migraram da esfera esportiva para a política, mas parte do evento continuou presente no dia a dia dos eleitores. Embora o Mundial não tenha sido pauta nos debates entre os presidenciáveis, a torcida uniformizada invadiu a militância dos partidos e as campanha nas ruas. Especialmente entre os partidários de Aécio Neves (PSDB), que adotaram o uniforme da Seleção Brasileira ; tanto o tradicional amarelo quanto o azul ; como manifestação de apoio ao tucano. No caso de Dilma Rousseff (PT), o vermelho característico do partido foi adaptado em camisetas de outras seleções, como a da Alemanha.Os tucanos lançaram a moda ainda no primeiro turno, quando pediram aos eleitores do PSDB que vestissem o uniforme canarinho. Em sessões eleitorais com maioria de eleitores pró-Aécio, o ambiente mais parecia uma concentração para assistir a uma partida. Amanhã, os militantes tucanos prometem repetir a cena. ;Eu comparo as eleições a um jogo de futebol. É como se eu estivesse torcendo para o Brasil;, diz o estudante Gustavo Guedes, 28 anos, que, além da camisa da Seleção, pretende pintar o rosto de verde e amarelo amanhã. ;Durante a Copa, vi muita gente vestir a camisa do Brasil, torcer com tudo, fazer festa e chorar, assim como eu. Em vez de se emocionar pelo time do Brasil, agora é hora de se emocionar pelo próprio Brasil;, ressalta o rapaz.
A brincadeira do uniforme de seleções acabou envolvendo alguns eleitores petistas. Com voto na presidente Dilma Rousseff, a família da professora Beatriz Watrin Rocha Mello, 31 anos, aderiu ao tema futebol. ;Meu marido pegou uma camisa da Alemanha, que tem vermelho, como o PT, e colocou um 13, número do partido;, conta. Já Beatriz não dispensa o vermelho, e o casal divide uma bandeira com a estrela do partido. ;Fomos ao comitê em busca do adesivo de carro. Não tinha, mas voltamos com a bandeira;, conta. Para Beatriz, manifestar-se por meio da roupa no dia de votar é uma forma de declarar posição política. ;Estamos engajados em tentar conseguir votos, mas sem entrar em briga;, diz, ressaltando a preocupação com o acirramento dos ânimos entre militantes adversários nas últimas semanas.
Uai, we can
O setor de moda aproveitou o momento para faturar. É o caso do estilista Sergio Kamalakian, dono de uma grife masculina que lançou estampa em apoio à candidatura de Aécio. A imagem do pôster Hope, do artista Shepard Fairey, utilizado por Barack Obama na corrida presidencial dos Estados Unidos em 2008, foi adaptada. No original, o rosto do candidato vinha acompanhado da frase ;Yes, we can;. Na versão tucana, o mote é ;Uai, we can;, em referência à típica interjeição usada em Minas Gerais.
As camisetas destinadas aos petistas têm uma imagem de Dilma jovem, na época em que militava contra a ditadura militar. A arte se assemelha a um estêncil ; técnica usada para aplicar um desenho ou ilustração com tinta por meio do corte em papel ou acetato.
As opções de frase são: ;Uma mulher guerreira; e ;Coração valente;, como no trecho de um dos jingles de campanha. Essa última foi a opção da professora Julia Pantoja, 27 anos. ;Vou de bermuda jeans e a camisa da Dilma coração valente que comprei no PT;, disse ela, que não dispensa bótons e adesivos. O motivo, segundo Julia, é ;para que outras pessoas que votam como eu saibam que estamos juntos, que acreditamos em coisas parecidas;.
Colega de profissão, mas com orientação política distinta da de Julia, a professora Tânia Maria de Oliveira, 64 anos, acredita que se expressar é um gesto de cidadania. ;Vou de camisa azul anis, da cor do Aécio. Meu carro tem bandeira, minha janela também, além de adesivos. Acho que a cidadania tem que ser exibida. Até 1930, as mulheres não tinham direito a voto, a população ficou muitos anos sem poder votar durante a ditadura. Agora, temos o direito de votar e declarar posicionamento sem problemas;, diz.
;Vou de camisa azul anis, da cor do Aécio. Acho que a cidadania tem que ser exibida. Até 1930, as mulheres não tinham direito a voto, a população ficou muitos anos sem poder votar durante a ditadura. Agora, temos o direito de votar e declarar posicionamento sem problemas;
Tânia Maria de Oliveira, 64 anos, professora
;Vou de bermuda jeans e a camisa da Dilma coração valente que comprei no PT para que outras pessoas que votam como eu saibam que estamos juntos, que acreditamos em coisas parecidas;
Julia Pantoja, 27 anos, professora