Vicente Nunes
postado em 27/10/2014 06:18
O pânico que se instalou nos mercados financeiros na última semana, em função da vantagem da presidente Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas de intenção de voto, deve aumentar hoje, com a confirmação da vitória da petista sobre o tucano Aécio Neves (PSDB). Analistas de bancos e de corretoras esperam uma forte queda do Ibovespa, com perdas generalizadas nas ações de empresas negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM).
Na tentativa de acalmar os ânimos, o Palácio do Planalto tratou, ontem à noite, logo após a confirmação da vitória de Dilma, de indicar o que será a equipe econômica do próximo governo. Ao que tudo aponta, Alexandre Tombini será mantido na presidência do Banco Central ;pelos bons serviços prestados;. Para o Ministério da Fazenda, a opção é por Aloizio Mercadante, que deixaria a Casa Civil, na qual seria acomodado Jaques Wagner, que está terminando o mandato como governador da Bahia.
Caso Wagner seja alocado em outra Pasta, Mercadante continuará na Casa Civil e o sucessor de Guido Mantega na Fazenda será Nelson Barbosa, que foi secretário executivo do ministério. Para o Ministério do Desenvolvimento, Dilma escolheu Josué Gomes, filho de José Alencar, que foi vice de Lula. O empresário é dono da Coteminas, uma das maiores empresas têxteis do país.
A sinalização do governo faz sentido. Pesquisas com investidores nacionais e estrangeiros, a fim de avaliar o comportamento do pregão paulista no pós-eleições, mostram um quadro sombrio para o Ibovespa. ;Com a Dilma vencendo, a bolsa vai despencar;, disse o estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido. ;Tudo vai depender do discurso adotado pela petista, que, no primeiro mandato, afastou-se do empresariado e dos investidores e foi leniente no combate à inflação.;
Se, durante o pregão, as perdas ultrapassarem os 10% em relação ao fechamento da bolsa, na última sexta-feira, o pregão poderá ser interrompido por 30 minutos. Seria a primeira vez desde a crise de 2008 que a bolsa recorreria a esse instrumento. Os analistas, no entanto, não acreditam que as baixas serão tão fortes. Isso porque, na última semana, a Bolsa recuou 6,8%. As perdas poderiam ter sido ainda maiores não fosse o fato de que, na sexta, o mercado fechou em alta de 2,4%, após pesquisas de intenção de voto indicarem uma parcial recuperação do senador Aécio Neves na reta final da campanha, o que não foi, entretanto, suficiente para lhe garantir a vitória ontem.
As apostas são de que o Ibovespa saía dos atuais 51,9 mil pontos para patamares entre 40 e 45 mil pontos nas próximas semanas, caso o Palácio do Planalto mantenha o discurso refratário aos investidores. Esse quadro é esperado por quase metade dos analistas consultados, ao longo da última semana, pela consultoria XP Investimentos.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, está confiante em sinais amistosos ao capital partindo da presidente reeleita. ;Dilma tem que correr contra o tempo, para evitar que o pessimismo dos mercados se alastre para outro setores, comprometendo ainda mais os investimentos produtivos, que estão no chão e são vitais para a retomada do crescimento econômico;, assinalou.
Também pesará sobre o desempenho da Bovespa e, principalmente, das ações de empresas estatais ; Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobras, principalmente ;, a relação da presidente com o Congresso Nacional. ;O mercado vai olhar atentamente para os acordos políticos, porque eles determinarão o nível de governabilidade de um novo mandato de Dilma;, disse o economista Alberto Ramos, diretor do banco norte-americano Goldman Sachs.
Circuit breaker
A interrupção nos negócios é uma estratégia adotada pela bolsa em situações extremas, em que o pânico entre investidores é generalizado. O circuit breaker (disjuntor do mercado, em tradução aproximada do inglês) pode voltar a ser acionado se, após a reabertura dos negócios, as quedas se acentuarem, chegando a 15%. Nesse caso, o pregão seria paralisado por até uma hora. Caso as perdas persistam, chegando a 20%, a Bovespa pode até mesmo interromper as negociações por prazo indefinido.