postado em 27/10/2014 09:06
O dragão da inflação ronda os próximos quatro anos do governo Dilma Rousseff. Quando 1; de janeiro de 2015 chegar, a presidente reeleita por mais quatro anos terá, com a próxima equipe econômica, de encontrar mecanismos consistentes para controlar a carestia, que, ao longo do primeiro mandato da petista, ficou insistentemente no teto da meta, de 6,5%. A escalada dos preços, sobretudo nos balcões dos supermercados, diminui o poder de compra dos trabalhadores. Alguns produtos, como a carne, acumulam alta de quase 20% em 12 meses. Pelas projeções do Banco Central, o custo de vida não dará alívio aos consumidores até o fim de 2016.Desde 1999, quando foi adotado o regime de metas de inflação, somente em três anos o país conseguiu cumprir o objetivo perseguido pelo BC, de 4,5%. Nos 12 meses terminados em setembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou elevação de 6,75%. Durante o governo Dilma, a carestia estourou o teto da meta 13 vezes. Nem mesmo a alta da taxa básica de juros, de 7,25% para 11% ao ano, foi suficiente para conter a carestia, devido à desconfiança dos agentes econômicos em relação ao real compromisso do Palácio do Planalto de colocar a inflação nos eixos.
;A inflação é o pior dos impostos para os mais pobres, que não têm como se defender;, disse o professor Reginaldo Gonçalves, da Faculdade Santa Marcelina. Na avaliação de Newton Marques, da Universidade de Brasília (UnB), a margem de manobra do governo para levar a inflação ao centro da meta é muito pequena, pois os juros estão altos demais para uma economia estagnada. ;Não acredito em aumento dos juros tão cedo;, frisou.
Tanto a presidente Dilma quanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, garantem que o IPCA fechará este ano abaixo do teto da meta e continuará caindo ao longo de 2015. Inicialmente, a aposta da Fazenda era de que a queda dos preços dos alimentos puxasse para baixo o indicador. Após três meses de recuo, contudo, a alimentação voltou a pesar e teve a maior alta entre os itens analisados em setembro: 0,78%.
Câmbio
Agora, conforme Mantega, a expectativa é de que, com a queda das commodities (mercadorias com cotação internacional), sobretudo do petróleo, a inflação dê uma trégua. Os analistas, porém, alertam para o impacto da alta do dólar. A moeda norte-americana tem se mantido próxima dos
R$ 2,50, afetando, sobretudo,bens duráveis, como carros, eletrodomésticos e eletrônicos, que têm componentes importados.
Há no horizonte, ainda, a recomposição dos preços administrados. Para evitar o estouro do teto da meta, o governo segurou, o quanto pôde, os reajustes dos combustíveis, das tarifas de energia e dos transportes urbanos. Não fosse isso, o IPCA já estaria na casa dos 8%. A queda da cotação do petróleo, a princípio, reduz a necessidade imediata da correção da gasolina. Mas a pressão ainda é grande. Por essa razão, as projeções do mercado e do BC apontam que a inflação continuará acima de 6% nos próximos dois anos. ;É essencial alinhar os preços administrados. Tem que se trabalhar com a inflação real, não maquiada;, disse Reginaldo Gonçalves.
Pressão dos salários
O controle dos gastos públicos e o aumento real do salário mínimo também estão no topo da lista de desafios para o próximo mandato. ;Será necessário moderar as despesas do governo e o mercado de trabalho, para que não gerem pressões adicionais na inflação;, explicou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Para ele, o menor número de vagas no mercado de trabalho pode ajudar, assim como um ajuste fiscal consistente.